Este é o título que nos apetece escrever acerca da tentativa promovida pela Nike no próximo fim-de-semana para o queniano Eliud Kipchoge, o etíope Lelisa Desisa e o eritreu Zersenay Tadese, um deles, correr a distância da maratona em menos de duas horas.
Lembramos que o atual recorde do mundo pertence ao queniano Kipruto Kimetto com 2h02m57s, alcançado em Berlim em 2014. Em 2008 e também em Berlim, o etíope Haile Gebreselassie, tinha fixado o recorde em 2h03m59s. Significa isto que desde 2008 até agora, o recorde progrediu 58 segundos. E desde 1999, o recorde progrediu 165 segundos em oito vezes. Agora, para alguém fazer 1h59m59s, será necessária uma progressão de 178 segundos, mais de um quilómetro, de uma só vez. Quem acredita nisso?
A guerra comercial entre a Nike e a Adidas está ao rubro. Ambas, estão a apostar em sapatos revolucionários. A Nike está a produzir umas sapatilhas Vaporfly Elite que terão como objetivo reduzir o consumo de energia do corredor em 4%. As sapatilhas pesam 200 gramas e têm uma inclinação, mas o segredo parece estar na meia sola, que terá uma placa de fibra de carbono em forma de colher. “Correr com estas sapatilhas será como correr encosta abaixo: não se consegue correr devagar”, garante quem desenvolveu as Vaporfly Elite. Este calçado é visto como doping tecnológico e a IAAF já anunciou que vai investigar.
Também se fala numa estratégia que permitisse “lebres” frescas a partir do quilómetro 20. E noutros materiais para as camisolas, viseiras que refrigeram o crânio, cremes solares, sei lá que mais.
Porquê no Autódromo de Monza?
Depois de muito procurar para encontrar o local mais adequado, a Nike chegou a uma volta fixa de 2,4 km no complexo do Autódromo Nacional de Monza, na Itália.
Basicamente, a localização contempla todos os fundamentos ambientais. A temperatura oscila em torno de 12 graus Celsius e a pressão do vapor é menor do que 12 mmHg. Além disso, o céu normalmente está nublado (minimizando a carga de calor nos corredores) e as correntes de ar não apresentam mudanças de direção drásticas – graças ao facto do percurso estar perfeitamente situado ao largo da costa e no meio de muitas árvores.
Os outros critérios são:
- Asfalto – embora o asfalto seja a superfície de pista preferida, o circuito de Monza também garante excelente consistência sob os pés.
- Inclinação da pista – a falta de declives no percurso proporciona um piso limpo e uniforme em todo o circuito.
- Comprimento – Com 2,4 km, o percurso permite a gestão perfeita de ritmo, hidratação, nutrição e transições da equipa de apoio.
- Clima – uma análise do histórico do clima de Monza em seis anos, com a exploração comparativa das condições nas maratonas mais rápidas da história, confirmou o potencial do local para um desempenho ideal.
A tentativa deste fim-de-semana não vai ser reconhecida pela IAAF. Poucos atletas de alta competição acreditam neste recorde. Ainda recentemente, Gebrselassie em entrevista ao jornal espanhol “Marca”, afirmou que não via ninguém capaz de baixar das duas horas nos próximos anos sem tecnologia. “Com esta, um dia poder-se-á correr em 1h50m. Se se põe algo especial no calçado que te possa empurrar, então creio que será possível”.
Vamos ver o resultado desta experiência e como reagirão as grandes marcas comerciais se ela for negativa. Talvez fazer-se uma autoestrada de tartan, de preferência a descer e sem curvas.