As Tartarugas Solidárias são um clube com cerca de 50 atletas que tiveram a sua origem num evento solidário organizado por uma empresa. Pedro Teigas é o principal dinamizador deste clube que faz dos treinos e corridas, uma festa.
No atletismo, encontramos dezenas de clubes devidamente organizados, com sócios e Direções democraticamente eleitas. O desenvolvimento do atletismo deve-se em boa parte a esses clubes, particularmente fora dos grandes centros urbanos. Mas também encontramos clubes que não estando devidamente estruturados, movimentam dezenas ou até centenas de atletas. Tivemos no mês passado, o exemplo do Correr Lisboa e agora, das Tartarugas Solidárias, clube que nasceu em 17 de Março de 2013 por ideia de Pedro Teigas e Diogo Castro Pereira.
Porquê Tartarugas e Solidárias?
São muitos os nomes de equipas de atletismo com nomes de animais, uns mais velozes, outros mais lentos. Porquê Tartarugas Solidárias?
Tudo começou com um evento solidário organizado em Fevereiro pelo “Gente com Ideias – Programa de Responsabilidade Social das seguradoras do Grupo CGD“. O evento juntou cerca de 150 colaboradores e familiares no Complexo Desportivo do Jamor, para uma ação que incluiu um treino de corrida e uma caminhada com um lanche no final.
O símbolo escolhido para a t-shirt foi uma Tartaruga. E Solidária porque o valor da t-shirt (3 euros) que viesse a ser obtido era para ser entregue ao Centro Social e Paroquial de Santa Catarina, no Bairro Alto. As pessoas aderiram à ideia e as t-shirts esgotaram rapidamente.
Depois, criou-se um treino semanal aos sábados, de 10 km para os mais afoitos e de 5 km para quem se estava a iniciar no mundo das corridas.
O grupo era restrito, apenas com meia dúzia dos que tinham estado no evento inicial em Fevereiro. Em 17 de Março, foi criado no facebook o grupo Tartarugas Solidárias, então apenas com o objetivo de divulgar os treinos. A aceitação foi positiva mas apesar disso, o grupo de treino era ainda reduzido.
Sucesso na primeira corrida oficial
A estreia das Tartarugas Solidárias numa prova oficial verificou-se nos 20 km de Cascais em 2013. A t-shirt revelou-se um sucesso e muitos quiseram adquirir uma. Foram feitas mais cem, com o dinheiro recolhido a ser novamente entregue ao mesmo Centro Social.
O grupo começou então a crescer e nunca mais parou, excedendo todas as expetativas.
“Nos treinos, há um espírito de solidariedade entre todos. Queremos que ninguém se sinta excluído, connosco ninguém fica para trás”
“Força Tartaruga!”
As Tartarugas Solidárias não têm uma Direção nem sócios. Pedro Teigas é o responsável pelo seu funcionamento, depois de Castro Pereira se ter afastado por motivos pessoais.
O clube não tem treinadores e tem cerca de 50 atletas a correrem regularmente com a t-shirt. Quantas vezes, eles não ouvem o incitamento dos espetadores “Força tartaruga!”. Ainda mais quando vão a caminho do pódio!
Pedro Teigas diz-nos que já vendeu centenas de t-shirts. “Há muitos atletas que as alternam com as de outros clubes. Não costumo publicitar o grupo, quem quiser, descobre-nos, nunca pedi a ninguém para usar a t-shirt”.
A maior parte dos atletas participa em provas de estrada e trails mas alguns também vão à pista. Tem à volta de duas dezenas que já correram a maratona, tendo mais de uma dezena deles combinado e participado numa maratona internacional. Assim, aliaram o prazer do convívio em grupo à corrida e ao turismo.
A importância dos treinos em grupo
O hábito dos treinos em grupo mantém-se. A partir de 2014, os treinos passaram para Monsanto, sempre aos sábados. O Jamor passou a ser local de treino uma vez por mês, com a componente de técnica de corrida.
“Nos treinos, há um espírito de solidariedade entre todos. Queremos que ninguém se sinta excluído, connosco ninguém fica para trás”.
O clube começou a ter mais visibilidade e já foi convidado para aparecer num suplemento de corrida da Revista Sábado e no programa da Sic Notícias Running.
“Quem gosta fica, quem não gosta, segue o seu caminho à procura do que os faça felizes. Não podemos, nem queremos, agradar a todos”
Objetivos simples e satisfação com os resultados obtidos
Os objetivos para este ano são muito simples. Para Pedro Teigas, “queremos que toda a gente se divirta e aprecie e que continue a correr com gosto. Queremos ainda ajudar novos atletas a superarem os seus limites”.
Ele mostra-se satisfeito com os resultados dos atletas. “Não fazemos exigências mas temos vários atletas que ocasionalmente vão ao pódio, principalmente senhoras. Algumas delas já foram convidadas por outros clubes mais organizados”.
Já a principal dificuldade encontrada na prática da modalidade passa na opinião do nosso entrevistado pelo excesso de provas. “Há quem não treine e vá sempre a provas. Há falta de conhecimentos dos atletas, treinam séries, subidas, etc, sem saber como”.
Os apoios vêm por vezes da Companhia de Seguros Fidelidade. A componente social continua a não ser esquecida, através da venda das t-shirts e da organização anual de um evento social.
“Queremos fazer dos treinos e corridas, uma festa. Que as pessoas continuem a divertir-se”
Espírito de grupo
É fácil a integração de novos membros.”Quem chega, depressa percebe o estilo de grupo que somos, a solidariedade e o companheirismo que nos distingue, nos treinos e nas provas. Quem gosta fica, quem não gosta, segue o seu caminho à procura do que os faça felizes. Não podemos, nem queremos, agradar a todos”.
Cada atleta paga as suas inscrições nas provas. Se um deles quiser fazer treinos específicos para uma determinada prova, há quem abdique de ir a provas para colaborar nesses treinos específicos. As boleias são tratadas em grupo.
Pedro Teigas definiu o clube de uma forma simples: “Somos um grupo informal, quase mais um grupo de amigos que se encontram para treinar e correr. Queremos fazer dos treinos e corridas, uma festa. Que as pessoas continuem a divertir-se”.
Quando se perderam num treino
Estórias não faltam às Tartarugas Solidárias. Eis uma passada num treino. “Um atleta nosso começou a organizar os treinos e procurou um local adequado. Fomos com um mapa na mão mas perdemo-nos à procura de um trilho. Chegámos a um portão que estava fechado. Ao ouvir barulho, apareceu um senhor. Abriu-nos a porta, ficámos dentro da sua quinta e lá nos ensinou por onde sairmos”.
“A meter água”
Uma outra estória passou-se também num treino programado que incluía a passagem por um leito de rio. “Sabíamos disso e dissemos que todos podiam passar”. Só que choveu muito na véspera e chegado ao local, a água dava pela cintura. “Fomos três homens para dentro de água para fazer corrente. Quando saí dentro de água, não sentia as pernas, tal ela estava gelada”.
Ainda a envolver um rio, Pedro Teigas contou-nos uma passada com um atleta que não queria molhar os ténis nem apanhar lama. “Fizemos 300 metros dentro de água e ele andou na berma do riacho. No último salto que deu, caiu dentro de água e claro, molhou os ténis. Foi uma risada geral!”.