Portugal saiu do Europeu de Berlim com duas medalhas de ouro, algo que já alcançou em quatro presenças anteriores mas é sempre relevante. Mas elas não escondem uma presença global aquém do que, com uma ou outra exceção, tem sido norma. Desde 1994, em nove presenças, só as de Munique’2002 e Zurique’2014 foram piores.
Como se esperava, as cinco medalhas de há dois anos ficaram longe de ser alcançadas, não só porque o nível das edições em anos olímpicos é mais acessível, mas também porque, para além das ausências de Jéssica Augusto e Dulce Félix, os três restantes medalhados (Tsanko Arnaudov, Sara Moreira, Patrícia Mamona) estão longe da melhor condição. Mas se o número de medalhas depende muito do momento de forma dos melhores atletas (em Zurique’2014 foi conquistada apenas uma, por Jéssica Augusto, 3ª na maratona), já o número de finalistas (8 primeiros) tem mais a ver com o momento da modalidade na sua vertente do alto rendimento. E as 8 presenças de Berlim’2018 ficam bem aquém das 15 de Barcelona’2010, das 13 de Helsínquia’1994 e até das 10 de Zurique’2014. E a pontuação agora obtida (8-7-6-…-3-2-1 pontos aos 8 primeiros) – o fator mais real numa apreciação deste tipo – é ainda mais reveladora: apenas 27 pontos, contra 56 em Barcelona’2010, 51 em Helsínquia’1993, 48 em Budapeste’1998, 43 em Amesterdão’2016 (sem provas de marcha) e 39 em Gotemburgo’2006 e Helsínquia’2012. Portugal foi apenas 18º nesta classificação oficiosa, bem aquém dos 10º lugares de 1994 e 2010, dos 11º de 1998 e 2006, do 13º de 2012. Como referimos, conquistar apenas 27 pontos só é melhor, nas últimas nove presenças, que Munique’2002 (26 p.) e Zurique’2014 (25 p.). E ser 18º na classificação oficiosa iguala a pior classificação de Munique’2002. Apesar da proeza de Inês Henriques nuns 50 km marcha que antes não se realizava…
Eis o quadro-resumo das presenças nos Europeus desde 1982, quando Portugal conseguiu as primeiras medalhas:
PORTUGAL NO CAMPEONATO DA EUROPA (DESDE ATENAS’1982)
Ano | Local | Tit | Med | Final | Pts | Lug. | |
(1º) | (1º-3º) | (1º-8º) | (8 p) | (8 p) | |||
1982 | Atenas | 1 | 1 | 2 | 13 | 18º | |
1986 | Estugarda | 1 | 1 | 5 | 22 | 15º | |
1990 | Split | 1 | 2 | 6 | 24 | 15º | |
1994 | Helsínquia | 2 | 3 | 13 | 51 | 10º | |
1998 | Budapeste | 2 | 6 | 7 | 48 | 11º | |
2002 | Munique | 1 | 3 | 5 | 26 | 18º | |
2006 | Gotemburgo | 2 | 4 | 8 | 39 | 11º | |
2010 | Barcelona | – | 5 | 15 | 56 | 10º | |
2012 | Helsínquia* | 1 | 3 | 9 | 39 | 13º | |
2014 | Zurique | – | 1 | 10 | 25 | 15º | |
2016 | Amesterdão** | 2 | 5 | 7 | 43 | 15º | |
2018 | Berlim | 2 | 2 | 8 | 27 | 18º | |
* não se realizaram as provas de marcha e maratona
** não se realizaram as provas de marcha e as de maratona foram substituídas por meia-maratona |
Nota: Apresentam-se sucessivamente o número de títulos e de medalhas e o número de atletas classificados nos oito primeiros (considerados “finalistas”). Nas duas últimas colunas, apresentam-se os pontos conquistados com base nos oito primeiros classificados em cada prova (8-7-6-5-4-3-2-1 pontos) e a respetiva classificação (oficiosa).
MELHORES PRESENÇAS INDIVIDUAIS
Registaram-se as melhores classificações (e marcas) de sempre por parte de Vítor Ricardo Santos (400 m) e Lecabela Quaresma (heptatlo), esta melhorando o lugar e a marca de Naide Gomes em 2002; Nelson Évora melhorou a sua classificação no triplo (4º em 2006) e Liliana Cá igualou o 7º lugar de Teresa Machado no disco em 2002; e Cátia Azevedo melhorou a sua marca de 2016 nos 400 m (mas então foi 12ª).
PÓDIO
1º Inês Henriques e Nelson Évora: os dois campeões, ela confirmando as esperanças depositadas, ganhando por boa margem os 50 km marcha e juntando assim o título europeu ao mundial da época passada; ele conseguindo o título (e a medalha) que lhe faltavam num currículo invejável.
3º Vítor Ricardo Santos: não só atingiu a final de 400 m (foi 7º) como bateu por duas vezes o recorde nacional que durava desde a sua presença (igualmente muito positiva) no Europeu de 2014. Fez sucessivamente 45,44, 45,14 e 45,78, tempo da final mesmo assim apenas a quatro centésimos do seu anterior recorde.
Menções honrosas: Tiveram também atuações de relevo
Yazaldes Nascimento que, mesmo não atingindo a final de 100 metros (por um só centésimo), voltou ao seu melhor, com 10,22, liderando um grupo de velocistas que excedeu as expetativas;
Evelise Veiga, que igualou o seu recorde nacional sub’23 no comprimento e conseguiu lugar na final, sendo depois 8ª; Ana Cabecinha, mais uma vez no top’8 nos 20 km marcha; Liliana Cá, 7ª no disco; e Cátia Azevedo, com a segunda marca nacional de sempre nos 400 metros, embora depois falhasse na meia-final.
POSITIVO
+ As medalhas de ouro de Inês Henriques e Nelson Évora e o recorde nacional de Vítor Ricardo Santos nos 400 m foram os aspetos mais positivos da presença portuguesa.
+ O setor da velocidade esteve em muito bom plano, com presenças constantes nas meias-finais e muito boas marcas em especial nos 100 e 400 metros.
NEGATIVO
– Fraquíssimo o meio-fundo/fundo nacionais (incluindo marcha masculina), com apenas Catarina Ribeiro (10ª) em plano razoável, nada menos de quatro desistências e participações modestas dos restantes. Para além da ausência de maratonistas e corredores de 5000 m…
– Já referimos a questão dos equipamentos da seleção, mais uma vez nada tendo a ver com as cores nacionais. E, para cúmulo, houve pelo menos um atleta que se apresentou com o equipamento antigo (também ele não refletindo as cores da bandeira). O que já havia acontecido, com outros atletas, em ocasiões anteriores…
A PRESENÇA PORTUGUESA EM BERLIM’2018
Masculinos: | Elim/qual. | 1/2 finais | Finais | CL. | AT. | |
100 m | Yazaldes Nascimento | 1º-10,33/+0,1 | 3º-10,22/+0,6 | 9º | 48 | |
Carlos Nascimento | 2º-10,33/+0,4 | 6º-10,31/+0,4 | 13º | 48 | ||
José Pedro Lopes | 3º-10,38/+0,2 | 6º-10,40/+0,2 | 21º | 48 | ||
400 m | Vítor Ricardo Santos | 2º – 45,44 | 3º – 45,14 | 7º – 45,78 | 7º | 39 |
10000 m | Samuel Barata | desistiu | des. | 32 | ||
3000 obst. | André Pereira | 15º – 8.54,63 | 27º | 29 | ||
400 bar. | Diogo Mestre | 6º – 52,65 | 34º | 36 | ||
Vara | Diogo Ferreira | 25º – 5,36 | 25º | 36 | ||
Triplo | Nelson Évora | 6º-6,62/-0,9 | 1º-17,10/-0,1 | 1º | 23 | |
Peso | Tsanko Arnaudov | 9º – 19,89 | 9º – 20,33 | 9º | 30 | |
Francisco Belo | 14º – 19,66 | 14º | 30 | |||
50 km M | Pedro Isidro | 24º-4.11.44 | 24º | 36 | ||
João Vieira | desistiu | des. | 36 | |||
4×100 m | Seleção Nacional | 5º – 39,09 | 7º – 39,07 | 7º | 16 | |
(José Lopes-Diogo Antunes-Frederico Curvelo-Carlos Nascimento) | ||||||
Femininos: | ||||||
100 m | Lorène Bazolo | 5ª-11,51/-0,9 | 8ª-11,46/+0,3 | 19ª | 37 | |
200 m | Lorène Bazolo | 5ª-23,60/+0,4 | 7ª-23,80/+1,4 | 22ª | 36 | |
400 m | Cátia Azevedo | 2ª – 51,84 | 8ª – 52,23 | 18ª | 42 | |
1500 m | Marta Pen | 3ª – 4.09,40 | 6ª – 4.06,54 | 6ª | 24 | |
10000 m | Catarina Ribeiro | 10ª-32.53,71 | 10ª | 26 | ||
Sara Moreira | desistiu | des. | 26 | |||
Inês Monteiro | desistiu | des. | 26 | |||
Comprim. | Evelise Veiga | 12ª-6,61/-0,2 | 8ª-6,47/+0,6 | 8ª | 27 | |
Triplo | Susana Costa | 10ª-14,17/-1,5 | 11ª-13,97/+0,2 | 11ª | 29 | |
Patrícia Mamona | 16ª-13,92/+0,3 | 16ª | 29 | |||
Lecabela Quaresma | 19ª-13,87/0,0 | 19ª | 29 | |||
Peso | Eliana Bandeira | 22ª – 15,18 | 22ª | 23 | ||
Disco | Liliana Cá | 8ª – 58,37 | 7ª – 58,91 | 7ª | 29 | |
Irina Rodrigues | 4ª – 59,22 | 9ª – 58,00 | 9ª | 29 | ||
Heptatlo | Lecabela Quaresma | 16ª – 5950 | 16ª | 29 | ||
(14,19/0,0-1,79-13,64-25,61/+0,2+6,10/+0,5-39,27-2.14,70) | ||||||
20 km M | Ana Cabecinha | 8ª – 1.29.49 | 8ª | 30 | ||
Edna Barros | desistiu | des. | 30 | |||
50 km M | Inês Henriques | 1ª – 4.09.21 | 1ª | 19 | ||
4×400 m | Seleção Nacional | 7ª – 3.33,35 | 12ª | 16 | ||
(Rivinilda Mentai-Joceline Monteiro-Cátia Azevedo-Dorothe Évora) |