A 1ª edição em 1970 teve 127 inscritos. Agora, são quase 50 mil!
A maratona de Nova York, uma das mais prestigiadas do mundo, terá a sua próxima edição em 4 de Novembro, com a participação de cerca de 50 mil atletas de quase 150 países.
A prova vai ter embates marcantes, como a luta entre a queniana Mary Keitany, vencedora em 2014, 2015 e 2016, e a americana Shalane Flanagan, vencedora da edição do ano passado. Para além destas duas atletas, merecem particular destaque, as últimas vencedoras em Londres e Boston, a queniana Vivian Cheruiyot e a norte-americana Des Linden.
Em masculinos, o último vencedor em Nova York,o queniano Geoffrey Kamworor, terá rivais duríssimos como os etíopes Lelisa Desisa, vencedor em Boston nos anos 2013 e 2015, Shura Kitata, segundo em Londres e o seu compatriota Daniel Wanjiru, último vencedor em Londres.
Hipóteses de correr a maratona de Nova York
Existem quatro formas de conseguir uma vaga em NY: ter o tempo de um corredor profissional, ser selecionado num sorteio que contempla um a cada quatro inscritos, pagar um pacote em agência de turismo ou fazer uma doação para uma das 340 organizações de caridade ligadas à Maratona de Nova York.
Calor local
Nova York oferece uma das maratonas com público mais caloroso. A festa começa na partida, emoldurada pelo visual da baía do Atlântico na Ponte Verrazzano, em Staten Island e embalada pelo hino informal da cidade, New York, na voz de Frank Sinatra.
História, sonhos e mitos
A primeira Maratona de Nova York foi organizada em 1970 por Fred Lebow e Vince Chiappetta, com apenas 127 atletas, 126 homens e uma mulher, que desistiu no meio do percurso. Disputada inteiramente em quatro voltas dentro do Central Parque, teve cerca de cem espectadores na meta que viram o bombeiro novaiorquino Gary Muhrcke vencer em 2.31.38. Apenas 55 atletas completaram essa prova e o prémio dos dez primeiros classificados foi um relógio de corrida.
Em 1972, houve um primeiro protesto das dez mulheres inscritas, que se sentiram marginalizadas com as regras da Amateur Athletic Union que as obrigava a partirem dez minutos depois dos homens. Com o passar dos anos, a prova foi crescendo em participantes e interesse e em 1976, para celebrar o bicentenário da independência dos Estados Unidos, o auditor da cidade, George Spitz, sugeriu que ela saísse dos limites do Central Park e atravessasse todos os cinco bairros da cidade
O espírito democrático e conciliador da maratona teve uma das suas edições marcantes em 2001. Menos de dois meses depois dos atentados de 11 de Setembro, a corrida foi disputada como um símbolo de esperança e paz para os competidores e nova-iorquinos.
Décadas antes, dois nomes se consagraram como mitos da Maratona de Nova York: o americano Bill Rodgers, único tetracampeão de NY (1976 a 1979) e a norueguesa Grete Waitz, que correu sua primeira maratona em Nova York em 1978 e venceu; depois foi vencedora mais oito vezes, a última em 1988.
No álbum de ouro das provas mais disputadas da sua história, 2004 viu a recordista mundial, a inglesa Paula Radcliffe, superar a queniana Susan Chepkemei por apenas três segundos. No ano seguinte, o sul-africano Hendrick Ramaala, foi batido pelo queniano Paul Tergat por escassos três décimos de segundo!
Heróis e heroínas da Maratona de Nova York
Muitos dos maiores vencedores do desafio de Nova York são pessoas “comuns”. Um desses heróis e com nenhuma maratona disputada antes, chama-se Edison Peña.
Foi em 2010. Edison, 34 anos, é um dos trabalhadores presos numa mina no Chile. Quando os mineiros são resgatados, após 69 dias, ele diz que deseja correr a maratona de Nova York. Seis semanas depois, ele alterna a corrida com a caminhada, chega a parar para ser atendido nos seus dois joelhos em mau estado, volta ao asfalto e completa a prova em 5h40m.
O Central Park explode em emoção e oferece-lhe na aparelhagem sonora, canções do seu ídolo, o rei do rock Elvis Presley. “Eu quero ajudar outras pessoas a encontrarem a coragem e a força para transcender as suas próprias dores”, diz o mineiro após completar o seu objetivo.
Outra história de persistência é a da atleta americana Shalane Flanagan. Fundista de destaque desde o início dos anos 2000, esteve em quatro Jogos Olímpicos representando os Estados Unidos na maratona. Ela nunca vencera uma prova importante até vencer em Nova York no ano passado.
A trajetória de Flanagan mudou em 2009, quando passou a treinar-se com a equipa do treinador Jerry Schumacher em Portland, Oregon. Se no início, ela era a única mulher do grupo, ela convenceu o treinador a criar um grupo só de mulheres.
Menos de uma década depois, as 11 fundistas que treinam juntas e melhoram o rendimento umas das outras, tornaram-se um conjunto formidável.
Além de dominarem o cenário americano, brilharam com uma medalha de bronze nos 10.000 metros do Mundial de 2015 (Emily Infeld), vitória na maratona de Boston de 2018 (Des Linden) e todas conseguiram disputar os Jogos Olímpicos, em provas de pista ou na maratona.
Shalane demorou a brilhar enquanto catapultava, como líder do grupo, o triunfo de algumas companheiras, mas nunca duvidou da sua opção.
“Gosto mais de trabalhar com outras mulheres. Isso torna-me uma atleta e melhor pessoa e deu-me uma paixão ainda maior pelos treinos e provas. Quando conseguimos grandes coisas sozinhas, isso não traz a mesma sensação”, disse a última vencedora de Nova York ao jornal New York Times.
Para correr e sentir Nova York
O melhor livro sobre a maratona de NY chama-se “A race like no other”, uma profunda e emocionante investigação de Liz Robbin, repórter do New York Times, sobre a corrida de 2007.
Como cineasta, Liz relata e reflete no livro, todo o romance, suspense, drama e épica da prova, perfilando tanto as estrelas da corrida como os corredores comuns, voluntários que trabalham no apoio, grupos que animam a prova no meio do público etc.
“Run for your life” é um emocionante documentário que conta a história e a paixão de Fred Lebow pela corrida, pela cidade de NY e pela maratona que criou.