O Campeonato de Portugal, que este domingo terminou no Estádio Universitário de Lisboa, teve de tudo um pouco. Bem positivos os dois recordes dos campeonatos batidos na 2ª jornada por Paulo Conceição, com 2,20 na altura, e Jéssica Inchude, com 17,35 no peso. Positivas, ainda, as melhores marcas do ano conseguidas também por Rasul Dabó nos 110 m barreiras (13,98), António Vital Silva no martelo (71,59), Vera Barbosa nos 400 m barreiras (56,82) e Marta Onofre na vara (4,31).
Houve surpresas – a maior foi o triunfo do açoriano Miguel Alves que correu na série secundária e, com 21,17 (ventosos), superou os atletas da série principal, nomeadamente Carlos Nascimento (21,26… sem vento). E houve demasiadas ausências de primeiros planos – para muitos atletas ser campeão nacional continua a pouco significar. E houve demasiados atletas estrangeiros a tirar visibilidade à luta pelos títulos nacionais…
Na 2ª jornada, o Benfica ganhou cinco títulos masculinos (somou 9 no campeonato), contra quatro do Sporting (somou 7). No setor feminino, larga superioridade do Sporting, que ganhou 9 das 10 provas da jornada, somando 16 vitórias no campeonato em 21 provas (um título apenas para o Benfica).
Vejamos como decorreram as provas da 2ª jornada.
200 metros (M): A grande surpresa dos campeonatos. O açoriano Miguel Alves (JIV) tem 21,93 como melhor e apenas teve lugar na série B. Com a ajuda do vento a +2,6 m/s, conseguiu 21,17, marca que não foi atingida na série principal, ganha pelo argelino Sofiane Bouhadda, com 21,24 (+1,0) e que teve Carlos Nascimento (SCP) como melhor português, com 21,26, um centésimo à frente de Delvis Santos (SLB), que bateu o recorde pessoal.
800 metros (M): José Carlos Pinto (SLB) repetiu o título da época passada e abaixo de 1.50 (1.49,96), com boa vantagem sobre Isaac Nader (SLB), 1.51,06, e António Moura (SCP), 1.51,08.
5000 metros (M): Com o queniano Davis Kiplangat (SCP) a impor o ritmo (terminou com 13.28,38), o regressado Hélio Gomes (SCP) confirmou a sua ampla superioridade a nível nacional e sagrou-se campeão com 13.44,15 (já o havia sido seis vezes nos 1500 m). Samuel Barata (SLB), que tem estado lesionado, regressou para ser segundo com 14.06,16, à frente de Luís Saraiva (SCB), com 14.13,90.
110 m barreiras (M): Rasul Dabó (SCP) conseguiu o seu terceiro título nacional e com a melhor marca nacional da época – 13,98 (v:+1,3). Completaram o pódio, Edson Gomes (SCP), com 14,26, e Luciano Lima (CBF), com 14,81 – recorde pessoal. A prova foi ganha pelo brasileiro João Oliveira (SLB), com 13,73.
400 m barreiras (M): Despique pela vitória na prova entre dois atletas estrangeiros, Jordin Andrade (SCP), vencedor com 50,41, e Mikael Jesus (SLB), 2º com 51,58. Na luta pelo título, há a registar a ausência do campeão dos últimos anos, Diogo Mestre, e de Paulo Soares, no Europeu júnior, e a desistência do favorito Ricardo Lima. E acabaram por ser dois atletas da Casa do Benfica de Faro a discutirem o título nacional: Marco Ribeiro, o novo campeão, com 52,50, e André Sá, segundo com 52,70, dois recordes pessoais de boa valia. Tiago Horta (SCP), vencedor da série B, com 53,44, completou o pódio.
Altura (M): Excelente concurso de Paulo Conceição (SLB), que obteve a melhor marca nacional do ano, com 2,20, bateu o recorde dos campeonatos que ele repartia com Rafael Gonçalves (este em 2001 e Paulo em 2016) e ainda tentou o recorde nacional, a 2,25. Tiago Pereira (SCP), com 2,14 (tentou depois apenas 2,20, pois Paulo Conceição passou 2,17 à primeira), e Victor Korst (SLB), com 2,11, completaram o pódio.
Comprimento (M): Com Marcos Chuva ausente, Ivo Tavares (SLB) era o grande favorito mas teve que sofrer para ganhar. Fez dois nulos iniciais e garantiu a presença nos três ensaios finais com 7,37 no 3º ensaio (v:+1,3), aquém dos 7,47 conseguidos por André Silva (EM) – recorde pessoal. Este ainda melhorou para 7,50 no 5º ensaio (v:+0,6), enquanto Ivo Tavares chegou a 7,47 no 5º ensaio (+1,1) e garantiu o título apenas no último salto, com 7,58 (v:+1,8). Confirmou a vitória da época passada. Completaram o pódio André Silva, com 7,50, e Abdel Larrinaga (SLB), com 7,43 (+0,8).
Disco (M): Ausente o recordista nacional Francisco Belo, Edujose Lima (SCP) foi um folgado campeão, com os 56,27 com que abriu o concurso. Apenas o veterano Filipe Vital Silva (Esp) se aproximou, com 53,75. Mykyta Sudashov fechou o pódio, com 50,70. Dos oito atletas que este ano passaram os 50 metros, apenas estes três estiveram presentes na prova…
Martelo (M): Melhor marca nacional do ano para António Vital Silva (SLB), com 71,59 no 5º ensaio, naquele que foi o seu terceiro título nacional. Inesperado segundo lugar para o veterano Dário Manso (37 anos), que abriu com 65,33 e 65,76. O jovem Décio Andrade (GDE) ficou aquém da sua valia, sendo terceiro com 64,96. Perto do pódio, ficou o jovem Rúben Antunes (SCP), com 64,50.
4×400 metros (M): Sem as principais formações nacionais, a Casa do Benfica de Faro, com bem razoáveis 3.20,08, ganhou com quase nove segundos de vantagem sobre a Juventude Ilha Verde, dos Açores (3.28,93).
200 metros (F): Vitória esperada e folgada de Lorène Bazolo (SCP), que conseguiu o seu terceiro título de 200 m, com 23,63 (v:+1,4). A brasileira Tamiris de Liz (SLB) foi segunda na prova, mas a vice-campeã nacional foi Delphine Nkansa (SLB), com 24,41, à frente de Sofia Duarte (SCP), com 24,67.
800 metros (F): Boa vitória de Patrícia Silva (SLB), com 2.07,42, face à ausência das favoritas Marta Pen e Salomé Afonso. Carla Mendes (JV) foi segunda com 2.08,01 e a terceira já fez mais de 2.10: Margarida Silva (VFC), com um recorde pessoal de 2.11,56.
5000 metros (F): Sem as cinco melhores meio-fundistas nacionais (!), os resultados ressentiram-se. Na reta final, Susana Godinho (SCP) superiorizou-se a Cátia Santos (GDE) – 16.41,20 – 16.41,80, com Ana Ferreira (SCP) a fechar o pódio (16.42,81).
100 m barreiras (F): Vitória natural e folgada de Olímpia Barbosa (SCP), com 13,53 (v:+1,0), somando terceiro título nacional. Fatumata Balde (SLB) melhorou para 14,15 e foi segunda e Sara Moreira (AJS) foi terceira, com 14,41.
400 m barreiras (F): Sétimo título nacional para Vera Barbosa (SCP), que conseguiu a melhor marca nacional do ano (56,82). Andreia Crespo (SCP) foi segunda (58,47) e fechou o pódio a veterana Patrícia Lopes (37 anos), com 62,55.
Vara (F): O título ficou resolvido quando Elenor Tavares (SCP), já quatro vezes campeã mas a última há cinco anos, falhou a altura inicial a 4,00, que Marta Onofre (SCP) passou à 2ª tentativa. Campeã pela quinta vez, Marta passou depois 4,15 e 4,31, melhor marca nacional do ano. Falhou a seguir 4,43. Completaram o pódio (mas bem longe…), Beatriz Batista (SLB), com 3,46, e Sofia Carneiro (MAC), com 3,34.
Triplo (F): Excelente prova, só sendo pena o vento ter “eliminado” algumas marcas. Patrícia Mamona, campeã dez anos consecutivos entre 2008 e 2017, recuperou o título que Susana Costa no ano passado lhe arrebatou. Conseguiu três ensaios acima dos 14 metros (embora ventosos): 14,04 (+3,4), 14,40 (+2,6) e 14,38 (+2,2), derrotando Evelise Veiga, que conseguiu 14,24 (+2,7) e ainda 14,18 (+3,8), 14,00 (+0,3) e 14,05 (+1,2). Susana Costa ficou desta vez aquém dos 14 metros, com 13,95 (+2,2) no 1º ensaio (ficou na liderança!) e 13,93 (+2,0) no 3º ensaio.
Peso (F): Jéssica Inchude (SCP) ganhou pela terceira vez e voltou a bater o recorde dos campeonatos, de 16,90 há um ano para 17,35, melhor marca nacional do ano. Passou duas vezes os 17 m, com 17,35 no 4º ensaio e 17,06 no 6º. Eliana Bandeira (SLB) ficou perto do seu melhor, com 16,82. A prova foi ganha pela camaronesa Auriol Dogmo (SCP), com excelentes 17,90.
Dardo (F): Sílvia Cruz (SCP), já 15 vezes campeã, tentava regressar aos títulos, mas Cláudia Ferreira está muito bem e conseguiu os três melhores lançamentos da competição, com 49,39, 49,77 e 47,93 nos três últimos ensaios. Sílvia chegou a 47,61 e Jéssica Barreira (SCP), campeã em 2018, garantiu o lugar no pódio no último ensaio, com 47,32, ultrapassando Flávia Costa (J. Vidigalense) que bateu o recorde pessoal, com 45,89.
4×400 metros (F): Vitória bem folgada (e natural) do Sporting, em 3.54,77, contra 4.05,68 do UC Eirense, que na parte final ultrapassou o SC Braga (4.07,02).
Este estatuto da Jessica Inchude é completamente frustrante…por melhor que seja ou venha a ser o seu desempenho… nao vai além do ‘consumo interno’…enfim!!!