Respirar é um ato tão prosaico e habitual que nem nos damos conta que o executamos. Porém, quando falamos de atletas, sejam de fim-de-semana ou de alto rendimento, esse ato ganha contornos específicos e merece maior atenção.
Na vida de um atleta, o ato de respirar está associado ao desempenho, à fadiga e à qualidade da atividade desportiva. A respiração é um parâmetro de como se está desenvolvendo o treino, uma referência dos limites do corpo.
Não pretendemos discutir como se deve respirar durante uma prática, se devemos soltar o ar pela boca ou pelo nariz, se devemos inspirar de forma breve ou prolongada. Questões como essas são muito discutidas e estudadas entre fisiologistas do exercício e educadores físicos. O que se pretende é discutir os aspetos psicológicos do cuidado com a respiração.
Respirar, ou melhor, atentar a respiração pode ser um momento precioso em que o praticante de um desporto pode tomar consciência do seu esforço, da sua capacidade. Pode até ser um momento de tomar a decisão de mudar a estratégia de uma prova. Estar atento à respiração é uma boa oportunidade de tomar consciência das condições do seu corpo.
Fique atento a como respira em repouso – quando está vendo televisão por exemplo – verifique: a sua inspiração é mais longa ou mais breve que a expiração? Realiza movimentos abdominais enquanto respira? Qual é o tempo de um ciclo respiratório inteiro?
Quando estiver iniciando o exercício, verifique as mesmas coisas, bem como durante todas as fases do treino e até meia hora depois do seu final e compare cada uma delas. Perceberá diferentes momentos, formas distintas de respirar em momentos diversos.
Depois de ter feito essa observação, vamos torná-la mais refinada. Enquanto respira, imagine o ar entrando e saindo pelas suas narinas ou boca, tente traçar o caminho que ele faz até ao seu pulmão, imagine-o inflando e esvaziando, tente sentir a quantidade de ar que está capturando e expelindo.
Finalmente, tente relacionar a sua respiração com o seu pulso sanguíneo, sinta o que acontece com o seu coração nos mais diversos tipos de respiração, imagine a quantidade de sangue e o percurso do sangue em cada batida.
Se conseguir tomar consciência da sua respiração e pulsação, conseguirá perceber qual é o estado do seu corpo no momento exato do treino e poderá traçar estratégias para reduzir a fadiga ou evitá-la durante uma prova de longa duração, por exemplo.
Num sentido mais amplo, poderá controlar melhor as suas reservas de energia, irá perceber o exato momento de dar um sprint ou de diminuir um pouco o ritmo, de mudar o padrão respiratório e tentar uma recuperação.
Poderá sentir a melhor hora de hidratar-se ou de suplementar-se, pois a atenção à sua respiração colocá-lo-á em contacto com o seu corpo. Terá um indicador subjetivo do seu treino, sendo capaz de imprimir um ritmo mais leve ou pesado conforme o seu técnico solicitar, ou conforme planear para aquele dia.
Resumindo: atentar na respiração e na pulsação, possibilita uma escuta das linguagens do corpo. O seu corpo está a toda hora dizendo-lhe sobre si. É preciso saber escutá-lo.
Respire melhor e conheça-se melhor
Respirar não só traz oxigénio para os nossos pulmões, como também ajuda a trabalhar a nossa mente e a conhecer melhor o nosso organismo. E também devemos considerar que a respiração é algo em que normalmente, colocamos pouca ou nenhuma atenção.
Sabia que respiramos normalmente meio litro de ar, quando a nossa real capacidade é de quatro litros por respiração?
Através dela podemos controlar a ansiedade, diminuir a agressividade num momento de explosão, controlar também o medo… Assim como nos ajuda a ter uma maior concentração e focalização para os desafios no dia-a-dia.
No caso da corrida, podemos fazer uso da mesma para controlarmos a nossa frequência cardíaca. Caso não faça uso de um pulsímetro ou tenha contratado um Personal Trainer, pode respeitar a sua condição física, prestando atenção à sua respiração.
Quando iniciamos uma corrida, entramos em deficit de oxigénio, logo depois há um estado de equilíbrio no ritmo da respiração. Caso não alcance este estado de equilíbrio e continue muito ofegante, deverá diminuir o ritmo da corrida.
Outra dica que a respiração nos oferece, é quando finalizamos a corrida, ser necessário diminuir o ritmo pausadamente, pois a pausa imediata poderá até causar paragem cardíaca.
É importante após a corrida, andar até que a respiração novamente se normalize, ou seja, que a quantidade de oxigénio seja regulada para a quantidade de esforço empregada.
Preste atenção na respiração enquanto corre, só o facto de estar atento a ela, demonstra que está concentrado no exercício que está fazendo, e o que é mais importante, que está controlando o seu corpo, o seu treino ou prova, e não se está deixando levar por eventos externos.
Os atletas que controlam o seu treino ou prova pelo ritmo do seu corpo, atingem melhores resultados do que aqueles que se regulam por outros atletas. A explicação é simples: sobre o seu corpo e seu treino, o atleta tem total controle, sobre o treino do outro, nenhum. Isso quer dizer que numa prova longa, uma maratona ou um triatlo, estabeleça uma estratégia de prova, e ao ser ultrapassado confie na sua estratégia, no seu corpo e no seu treino, não precisa ir “buscar”.
No dia-a-dia, a respiração feita com qualidade também nos pode ajudar a ter uma maior condição para a corrida pois respirando melhor, estará: oxigenando melhor todo o seu corpo, ficando menos stressado, com maior capacidade cerebral e logicamente, com maior disposição para realizar os seus exercícios físicos.
Os orientais acreditam que quando uma pessoa nasce, é-lhe designado um número exato de respirações para esta vida, ou seja, vive mais quem mais devagar e preenchendo os pulmões respirar. Pense nisso!
De: Marcus Teshainer