A Silvestre de Lisboa não tem o dinheiro e os atletas de elite da S. Silvestre Vallecana em Madrid. Mas em Lisboa, todos têm dorsal e abastecimento aos 5 km, recebem uma bonita medalha e não pagam pelo bengaleiro. Ao contrário da de Madrid!
Há alguns anos que aspirava participar na S. Silvestre Vallecana, atraído pelas reportagens na imprensa espanhola e pelas dezenas de milhares de participantes que dão um colorido especial à prova. Foi neste 31 de Dezembro que finalmente concretizei este anseio.
Em Madrid, existe a S. Silvestre Popular com 42 mil participantes, segundo a Organização e a S. Silvestre Internacional, onde estão os atletas da elite.
Quatro partidas com intervalos de 15 minutos
Na Prova Popular, existem quatro partidas desde as 17.30, com um intervalo de 15 minutos entre cada uma. A Internacional teve a sua partida mais tarde, às 19h55m. Os acessos a cada bloco de partida eram por ruas diferentes e estavam muito bem sinalizados, assim como o bengaleiro (carrinhas).
Fiquei colocado no bloco dos – 60 minutos que partiu às 17.45. Como sempre acontece em Espanha, muita animação por parte dos espetadores durante o percurso, particularmente depois dos 7 km, com muitos “ânimo, ânimo”, “venga, venga”.
Muitos dos participantes estavam mascarados, principalmente nos blocos de + 60 m e + 70 minutos. Para eles, mais do que correrem, estavam ali para participarem numa grande festa. O último fez 2h37m38s, já os participantes da Prova Internacional tinham todos chegado.
O percurso é bonito com passagem por alguns dos locais emblemáticos da cidade como a Porta de Alcalá, a Praça de Cibeles, o Museu do Prado e a estação de Atocha. Mas a parte final decorre em ruas menos iluminadas e com a meta sem a espetacularidade por exemplo, da S. Silvestre de Lisboa.
Três dias antes tinha corrido a nossa S. Silvestre, com boa parte do percurso na baixa da cidade e os últimos quilómetros na subida e descida até ao Marquês de Pombal da majestosa Avenida da Liberdade, iluminada com as decorações de Natal e com a meta na Praça dos Restauradores. Para mim, um percurso mais agradável que o de Madrid, principalmente nos últimos 3/4 quilómetros.
Inscrição cara e bengaleiro pago
O preço da primeira fase de inscrições foi de 23,60 euros. Mas como a prova começava junto ao estádio do Real Madrid e acabava em Vallecas, tive de pagar mais cinco euros para guardarem o saco com a muda da roupa. Já participei em Portugal em mais de mil provas e nunca uma Organização exigiu dinheiro por guardar o saco no bengaleiro.
Sem dorsais
Não houve dorsais, apenas um chip colocado no sapato. A camisola oferecida tinha o número de dorsal escrito na manga. Foi a primeira vez que corri sem um dorsal!
Como não era obrigatório correr com a camisola, foram inúmeros, aqueles que se infiltraram durante o percurso e cortaram a meta. O chip era apenas devolvido umas largas dezenas de metros após a meta. E quanto a uma medalha, nada!
Prova sem abastecimento
Foi com grande surpresa que chegámos aos 5 km e não houve o tradicional abastecimento. No nosso país, é impensável uma prova sem abastecimentos e quando eles falham, não faltam as críticas com as próprias Organizações a assumirem a falha.
A San Silvestre Vallecana tem o máximo galardão de provas de estrada atribuído pela IAAF, a Gold Race Running Label. Apenas quatro provas de 10 km têm este galardão em todo o mundo. Enfim, na prova popular, o prémio não é de algum modo merecido. Só se for na prova internacional.
Na minha opinião, a S. Silvestre de Lisboa com uma organização impecável, esteve a um nível bem superior à de Madrid.
Claro que organizar uma prova para 30/40 mil participantes exige mais meios do que uma com 10 mil. Mas estamos certos de que existem em Portugal Organizações capazes de tal desiderato. As Organizações em Portugal primam pela sua qualidade e são cada vez menos, as provas a merecerem críticas por parte dos atletas.
Números abaixo dos anunciados
A Organização falou sempre em 42 mil participantes na prova popular. Afinal, classificaram-se 34.100, menos 7.900 (19%) que os números anunciados. Na prova internacional, classificaram-se 1.447 atletas, com o último a fazer 51m42s.
Concluindo, gostei de ter participado na prova mas não gostei muito dela. Se a S. Silvestre de Lisboa tivesse o dinheiro que tem a de Madrid, poderia ter os atletas de elite da S. Silvestre Vallecana e ser uma das mais faladas da Europa. Também pela sua organização e seu percurso.
Sobre este artigo apetece-me dizer que: (1) pela sua dimensão, pela procura e por ser num país com um nível de vida (um pouco) mais alto, o preço mais alto aceitar-se-á; (2) a não-oferta de água numa prova de 10 km realizada num fim de tarde / noite de inverno não me parece errada, além do mais se tivermos em conta a pegada ambiental associada. (Ofereceram água ou outra bebida no fim?). (3) A oferta de medalha: entrará na parte de evitar desperdício pois para muitas pessoas, a medalha não tem grande valor (vão parar a uma caixa ou gaveta, ou mesmo ao lixo). Existem muitas provas que têm medalhas apenas para aqueles que as querem, mediante um custo acrescido, que se pode reservar no acto de inscrição. (4) compreendo a inexistência de dorsal (dada a existência de um chip), assim como a queixa por isso “permitir” a intrusão de não-inscritos. Contudo, a existência dos mesmos não tem impedido a batotice. Não trazer o dorsal será benéfico para alguns. Posto tudo isto, não vejo os pontos aqui apresentados como sendo (assim tão) negativos. Talvez alguns destes possam ser importados para cá 😉
Caro Nuno,
Face ao texto que eu escrevi, obviamente que não posso concordar com os seus argumentos. Mas há que aceitá-los pois ninguém é obrigado a ter pontos de vista coincidentes.