Com a pandemia do coronavírus, são raros os atletas que mantêm o seu plano de treinos, tendo em vista a alta competição. Neles, qualquer dia perdido pode fazer diferença.
Segundo Felipe Eichenberger, preparador físico do Denver Nuggets, da NBA, “mesmo a curto prazo, a capacidade muscular, fisiológica, muda nos atletas. Fizeram um estudo comparando atletas com pessoas normais, e os atletas perdem a capacidade física muito mais rapidamente do que as pessoas normais. Então, eles sempre têm que estar a um nível muito alto, treinando muito bem, para chegar bem aos Jogos Olímpicos”.
Já Irineu Loturco, formado em treino desportivo, considera: “atletas de alto rendimento treinam seguindo uma variação de volume e intensidade. É normal, reduzir às vezes o volume, a quantidade total de treino, e aumentar a intensidade para melhorar o desempenho. Isso é chamado de polimento e utilizado antes das competições. Porém, se tirar as duas coisas, o resultado não pode ser outro que não uma piora substancial no desempenho competitivo do atleta”., 00:00/01:17
Os cientistas já conseguem quantificar o tamanho dessas perdas, permitindo compreender melhor o drama dos desportistas de alta competição. Se um atleta ficar entre quatro e seis semanas sem treinar, ele pode perder até 10% da força e da potência dos músculos.
O exemplo da Christian Coleman
Vejamos o caso de Christian Coleman, capaz de correr os 100 metros em 9,76. Um ótimo tempo, que lhe daria o terceiro lugar entre os melhores de sempre nos Jogos Olímpicos. Mas, com o corpo sem a devida preparação, sem treinos por seis semanas, a marca poderia subir para 10,50! Assim, Coleman não conseguiria sequer superar outro norte-americano, Jesse Owens, que venceu os Jogos de 1936 em Berlim, correndo numa pista de cinza.
“Tem sido demonstrado que atletas muito bem treinados costumam sofrer mais em consequência da falta de treino. Para um atleta de nível olímpico, isso seria um fator extremamente problemático – afirmou Irineu Loturco.
E de Eliud Kipchoge
Ficar parado também pode afetar quem depende da resistência. Após seis semanas longe das sessões diárias de corrida, a capacidade de resistência de um atleta pode cair 6%. Por exemplo, o caso do último campeão olímpico, o queniano Eliud Kipchoge. Ele completou a maratona nos Jogos do Rio de Janeiro em 2h08m. O seu desempenho sem um treino condizente poderia levá-lo a uma marca bem distante: 2h15m. Assim, ele perderia até para o etíope Abebe Bikila, que correu descalço a maratona nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960.
Esses exemplos servem apenas para ilustrar uma situação de competição. Outros fatores também interferem no desempenho atlético e podem alterar esses dados. O que fica é o tamanho da importância da rotina dos atletas. E isso vale para o corpo. E também para a mente. Porque os desportistas também levam tempo para preparar a cabeça antes de um grande evento.