Conclusão de trabalho, que ainda não foi publicado no meio científico, é de investigadores da Bélgica e da Holanda. Num outro artigo, cientistas da Finlândia simularam, em vídeo, como os vírus podem espalhar-se num ambiente fechado.
O isolamento social necessário devido à pandemia do coronavírus afetou diretamente a rotina daqueles que tinham por hábito exercitar-te em lugares públicos. Com o encerramento dos ginásios, piscinas e parques, as alternativas são cada vez mais escassas, o que obrigou os atletas a procurarem novas soluções. Para muitos, a solução foi exercitar-se em casa.
Em Paris por exemplo, a população está proibida de fazer atividade física ao ar livre entre as 10 e as 19 h. A decisão da autarquia da cidade visa reduzir a aglomeração nas ruas para manter o distanciamento social e evitar o contágio. Mesmo assim, há queixas de algumas ruas ficarem cheias de atletas a correr dentro do horário permitido.
Imagem mostra como as gotículas de saliva se espalham atrás de uma pessoa que corre a 14,4km/h e podem infetar alguém que vem logo atrás, se a pessoa estiver contaminada com o coronavírus – Foto de Universidade de Tecnologia de Eindhoven
Nos Estados Unidos, várias cidades fecharam os campos públicos de basquetebol e algumas até retiraram os aros para evitar os jogos. A Itália e a Espanha, os dois países europeus com o maior número de contaminados e vítimas, também interditaram espaços desportivos e não autorizam as corridas nas ruas. Em contramão, alguns países começam a fazer um relaxamento gradual das quarentenas, como na Áustria, Bélgica, Dinamarca e Eslováquia.
Em Portugal, nunca foi proibida a prática da corrida ao ar livre. Mas é prudente não abusar. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da comunidade médica é de que as pessoas devem ficar em casa o máximo possível. Se todos tiverem a mesma ideia em irem para o mesmo lugar e à mesma hora, formam-se aglomerações.
No nosso caso pessoal, continuamos a treinar três vezes por semana, entre 30 e 45 minutos. Sempre só e preferencialmente, no campo. As hipóteses de nos cruzarmos com alguém são mínimas.
Correr com pelo menos dez metros de distância de outra pessoa
Uma simulação computadorizada feita por investigadores belgas e holandeses recomenda que, durante a pandemia do coronavírus, as pessoas devem manter uma distância de até 20 metros umas das outras em exercícios físicos ao ar livre, a depender da atividade.
O trabalho ainda não foi publicado numa revista científica, mas já foi divulgado pelas universidades responsáveis – a Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e a Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda – por ter sido considerado urgente para ajudar no combate ao novo coronavírus.
Os cientistas analisaram simulações feitas num computador de movimentos de caminhada, corrida e pedalada e concluíram que as gotículas de saliva emitidas pelas pessoas durante esses exercícios ficam no ar logo atrás delas, enquanto elas se movimentam.
Por isso, alertam que, em atividades físicas ao ar livre, as simulações computadorizadas apontam que há risco potencial em determinadas distâncias e modalidades:
- Caminhada: simulação aponta risco quando a distância é inferior a entre 4 e 5 metros da pessoa que está à sua frente;
- Corrida: simulação aponta risco quando a distância é inferior a pelo menos 10 metros da pessoa que está à sua frente;
- Ciclismo: simulação aponta risco quando a distância é inferior a pelo menos 20 metros da pessoa que está à sua frente.
Os investigadores, que estudam aerodinâmica, não analisaram o coronavírus, mas, sim, a forma com que as gotículas de saliva viajam pelo ar. Essas gotículas são a forma de transmissão do vírus.
“As gotículas que nós geramos quando respiramos ou exalamos o ar, são muito pequenas, na verdade, e não viajam para muito longe. Se estivermos a falar e estivermos parados, a uma distância de 1,5 metros (distância mínima recomendada pela OMS), as suas gotículas não me vão alcançar e nem as minhas o vão alcançar”, explicou o professor Bert Blocken, líder do estudo.
“Mas o problema é que, claro, é diferente quando a pessoa se mexe. Quando ela está a pedalar ou a andar na minha frente, e respira e se move, as gotículas movem-se para trás de si, no que chamamos de ‘corrente de ar’. E, como as gotículas são muito leves, precisam de algum tempo para chegar ao chão. Mas, se eu estou a correr muito perto, atrás de si, eu vou respirar e inalar a sua nuvem de gotículas”, alertou.
De acordo com as simulações, esse distanciamento mínimo faz menos diferença se as pessoas estiverem a andar ou a correr ao lado uma da outra em tempo calmo, sem vento.
Outra forma de evitar as gotículas dos outros que caminham à frente, é manter uma linha diagonal, em vez de caminhar ou pedalar diretamente atrás da outra pessoa.
“Se você anda logo atrás da outra pessoa, e relativamente rápido, a 4km/h, precisa de manter uma distância de 4 a 5 metros ou chegar-se um pouco para o lado, para não estar na corrente de ar do outro”, explicou Blocken. “Você precisa de deixar as gotículas caírem no chão, e por isso não pode andar muito rápido. Ou, então, manter uma longa distância da outra pessoa”.
Ele recomenda, para evitar essas gotículas, que as pessoas usem máscaras durante atividades físicas ao ar livre ou que se exercitem em casa.
“Se as máscaras forem boas, e se ajustarem muito bem ao rosto, podem parar as gotículas e também prevenir que a pessoa emita muitas delas no ambiente ou nas outrsa pessoas. O problema é se haveria máscaras suficientes – aqui na Bélgica, nós não temos”, explica.
Espalhamento em ambientes fechados
Outro estudo, divulgado em 6 de Abril por quatro instituições de investigação na Finlândia, simulou, em vídeo, como as partículas se espalham pelo ar depois de alguém tossir ou espirrar dentro de um supermercado fechado, com ar condicionado.
Na simulação, a nuvem de aerossol espalha-se pela vizinhança imediata da pessoa que tosse e se dilui no processo. Mas isso pode levar alguns minutos.