Era preciso evitar “um escândalo” para salvar o dinheiro dos sponsors do atletismo. O antigo responsável antidoping da IAAF, o francês Gabriel Dollé, de 78 anos, tentou explicar os seus “arranjos” com os regulamentos.
Presente ontem no tribunal em Paris por corrupção passiva, envolvendo uma verba de 190 mil euros recebidos em 2013 e 2014, Dollé tentou minimizar a sua responsabilidade, assegurando ter procurado um compromisso entre “o interesse superior” da IAAF e a marginalização dos atletas russos dopados.
“Não provocar um escândalo”
Foi em finais de 2011, início de 2012 que o passaporte biológico começou a produzir os seus efeitos. As suspeitas sobre a Rússia multiplicaram-se e é estabelecida uma lista de 23 atletas.
O antigo presidente da IAAF, Lamine Diack, terá pedido a Dollé para este ter em conta a situação financeira muito crítica da IAAF. “Naquele momento com a lista… isso ia provocar um escândalo que ia influenciar o decorrer das negociações com os sponsors e fazê-los entrar em colapso”, disse Dollé.
Era então preciso “não provocar um escândalo”, assegurando nunca ter renunciado às sanções. Segundo ele, esta “gestão razoável” implicava não sancionar oficial e publicamente os atletas mas de considerar uma “suspensão oficiosa”, discreta, “que não era exatamente a do regulamento”.
Assim e segundo Dollé, vários atletas russos puderam participar nos Jogos Olímpicos de 2012 e alguns deles, ganharam medalhas.