Quando subiu ao pódio após vencer os 200 metros dos Jogos Olímpicos disputados na Cidade do México em 1968, Tommie Smith quis passar uma mensagem clara, mas não esperava que o gesto ficasse marcado como um dos protestos mais significativos da história do desporto. Ao lado do amigo John Carlos, terceiro classificado na mesma prova, Smith quis dar um “grito de liberdade”.
Tommie Smith, hoje aos 76 anos, vive na Geórgia, após uma longa carreira como professor em duas faculdades, na Califórnia e em Ohio. Quase nunca fala publicamente, mas, agora com os protestos pela morte de George Floyd e à discussão sobre as manifestações políticas no desporto, aceitou falar com o jornal “The New York Times”. Para ele, ainda há muito a fazer na luta pelos direitos iguais e contra o racismo. O ex-atleta cita o protesto de Colin Kaepernick, na NFL, como exemplo.
“Eu disse quando vi pela primeira vez: ‘Oh, meu Deus, este jovem vai ter um monte de câmaras na sua cara, cedo ou tarde’. E lá estava, essa privação de direitos, essa ‘ele está desonrando a bandeira, ele não está fazendo o seu trabalho no campo’. Mas ele estava apenas dizendo o que eu já havia dito anos antes. Eu disse, meu Deus, isto continua a acontecer. Isto continua, mas ainda temos de lutar. Não podemos parar”.
O ex-atleta diz que não esperava que o seu gesto tivesse tanta repercussão durante tantos anos. Mas disse que o seu protesto abriu o caminho para que outros atletas conseguissem, também, protestar.
“Cada pessoa que viu, tinha uma explicação própria sobre o porquê daquilo ser feito. Pode-se ver claramente agora por que é que esse movimento teve de ser feito, porque era mais do que o Tommie Smith naquela posição de vitória. Tudo o que fiz, foi ficar parado com o punho no ar. Foi um pedido de liberdade. E agora, as pessoas estão começando a levantar o punho direito por vários motivos, mas agora têm a liberdade de fazê-lo. Foi uma pequena rachadura, todas as gerações estão avançando com uma forma de agradecimento nos seus corações. É assim que eu vejo, porque muitas pessoas morreram porque levantaram um punho no coração ou se ajoelharam na alma para erradicar o joelho no pescoço”, afirmou, lembrando a morte de George Floyd, com o joelho de um polícia sobre o seu pescoço.
Tommie Smith afirma não ter ido aos protestos que se verificaram nas ruas dos Estados Unidos, mas diz estar ainda envolvido na luta contra o racismo.
“Eu já estou envolvido. Eu tenho uma resposta quando me perguntam porque não estou nas ruas com todo o mundo. Temos pessoas nas ruas, mas elas não têm 76 anos. Os jovens agora podem seguir em frente. Ensinei na faculdade durante 36 anos, milhares de atletas, milhares de estudantes. Só me reformei em 2005, ensinava 600 crianças por ano. Então, eu estive envolvido, estou envolvido, apenas não mais como nos anos 60. Eu ainda estou conversando com atletas. Eles têm 50 e 60 anos, meus atletas estão. Eu tenho uma organização chamada Tommie Smith Youth Initiative. Atendemos mais de 3.000 crianças por ano em eventos desportivos ou eventos religiosos. Só existe um eu, então não posso fazer muito, mas continuarei a fazê-lo até ao dia em que morrer, porque foi para isso que nasci, para ajudar os meus irmãos”.
O campeão olímpico afirma esperar que os protestos sigam em frente. “Um carro ou qualquer coisa que tenha que se mexa, o momento mais necessário é começar, iniciar o movimento. Depois de o momento começar, espero que continue e que não fique apenas nas ruas, porque já estabeleceu uma base. Ele deve entrar na jurisdição para chegar à jurisprudência e chegar à Casa Branca. Temos passos a seguir. Nós simplesmente, não podemos apenas andar pelas ruas porque elas têm as ruas como limite. Temos que fazer isso através da papelada”.