O norte-americano Michael Johnson foi recordista mundial dos 200 m entre 1996 e 2008, com 19,32 s, marca superada apenas em 20 de Agosto de 2008 por Usain Bolt.
Foi ainda detentor dos recordes mundiais dos 400 m com 43,18 s, superado pelo sul-africano Wayde van Nikerk com 43,03 nos JO do Rio de Janeiro 2016 e da estafeta 4×400 m (2.54,20) como membro da equipa dos Estados Unidos.
Ganhou quatro medalhas de ouro olímpicas e campeão do mundo por nove vezes. Foi o primeiro atleta a vencer os 200 e 400 m nos mesmos Jogos Olímpicos.
Foi este Michael Johnson, agora com 52 anos que deu uma importante entrevista ao Laureus.com sobre o problema do racismo nos Estados Unidos e o assassinato de George Floyd pela polícia de Minneapolis e que reproduzimos as partes principais.
“O meu maior medo é que a conversa gire agora sobre um simples racismo pessoal”, disse Johnson. “Como as relações entre os negros e os brancos. É importante acabar com o sentimento racista de pequenos grupos de pessoas que são supremacistas brancos e discriminam os negros”.
“Mas o mais importante aqui são os sistemas que apoiam estas coisas, que permitem às pessoas terem esses pontos de vistos e sentirem-se cómodos com eles”, acrescentou Johnson.
“É a desigualdade nos sistemas e instituições que leva a um oficial de polícia branco a crer que pode agredir ou inclusive matar, uma pessoa negra sem consequências. Isso leva a uma empresa que vende a um amplo espectro da população negra a ter zero membros negros na sua junta diretiva”.
“As pessoas estão-se manifestando porque o sistema neste país fala de justiça para todos, de igualdade para todos, do sonho americano e da oportunidade de que todos prosperem e tenham êxito. Mas na realidade, este sistema não está estabelecido da mesma forma para todos. O sistema foi construído pelos brancos para os brancos, numa época em que os negros não eram reconhecidos como iguais, e todavia existe”.
“O movimento dos direitos civis foi um grande passo em frente na eliminação de discriminar legalmente a gente negra mas a partir de aí, nunca houve outro tempo de movimento para fazer com que a gente negra seja realmente igual neste país. É de isso que se trata”.
Johnson, que trabalha como comentador desportivo depois de superar um derrame cerebral em 2018, também apontou ao futuro: “Acredito que é demasiado cedo para determinar como algo se os Jogos Olímpicos de 2028 se verão afetados com isto ou poderia ser instrumental para isto. Só posso esperar que as coisas tenham mudado significativamente até lá”.
“Isto não quer dizer que espere que a legislação se pronuncie nas próximas semanas, ou até no próximo ano. Isso vai supor uma mudança significativa. Mas seguramente, espero ver algumas mudanças nos próximos meses, o ano que vem, e logo construiremos estas coisas à medida que sucedam”.
Johnson acredita que o desporto tem um papel significativo para ajudar a criar uma sociedade mais igualitária. Admite que o seu ponto de vista mudou com o tempo e que esteja mais expressivo nestes temas. “A pergunta era se pessoas relevantes, desportistas, tinham a responsabilidade de falar e participar neste tipo de movimentos. A minha resposta tem sido sempre: depende eles”.
“Sem dúvida, quando há um movimento como este que requere a sua atenção e se acredita na justiça, e não apenas se é uma pessoa negra, então, sim. Acredito que você é cúmplice se guarda silêncio, porque é o silêncio à volta desta questão durante décadas, que fez que cheguemos a este ponto”.
“A minha posição mudou dado o impulso que existe agora mesmo sobre este tema. E acredito que se tens a capacidade de ajudar, então deves ajudar. Sabemos que o desporto tem um poder incrível e que as pessoas respeitam e seguem os atletas, pelo que cada atleta tem a oportunidade de ajudar com esta situação, de seguir tratando em manter este impulso, mas também de ajudar a unir as pessoas porque sabemos que o desporto sempre tem sido uma ferramenta muito poderosa para unir as pessoas”.