Muitos momentos da história do desporto olímpico são frequentemente lembrados pelo simbolismo que tais feitos desportivos tiveram. Heróis e heroínas eternizados. No entanto, muitas outras estórias simbólicas acabaram por se perder no tempo. Tal como observamos na sociedade, o racismo dentro do desporte é histórico e tem levado muitos atletas negros a serem esquecidos até hoje.
Muitos de nós, ainda se lembram do Klux Klux Klan, formado por brancos racistas. Eles não aceitavam a extensão de direitos aos negros e usavam a violência para impedir essas conquistas. Assassinaram negros brutalmente com a justificação de que apenas importava a supremacia branca. Nessa época, leis segregacionistas foram legitimadas e separavam brancos e negros em espaços públicos.
Apenas na década de 1960 o movimento pelos direitos civis passou a prever a igualdade racial nos Estados Unidos, ainda que apenas na letra fria da lei.
A norte-americana Alice Coachman foi a primeira negra na história a conquistar o mais alto lugar do pódio nuns Jogos Olímpicos.
Alice era oriunda da Geórgia, região sul dos Estados Unidos que por longos anos, viveu a segregação racial. Sem recursos e impossibilitada de frequentar instalações desportivas por ser negra, improvisava os treinos descalça e usava equipamentos antigos para evoluir no salto em altura. O talento foi identificado por um professor, e aos 16 anos, durante a década de 40, mudou-se para o Alabama, onde conseguiu uma bolsa de estudo.
A partir dali, bateu muitos recordes nacionais, mas com a suspensão dos Jogos Olímpicos de 1940 e 1944, devido à Segunda Guerra Mundial, a primeira oportunidade de aparecer ao mundo foi nos Jogos de Londres, em 1948. Aos 24 anos, venceu a prova do salto em altura com o recorde olímpico, tornando-se a primeira negra da história olímpica a ganhar uma medalha de ouro. Virou lenda do desporto e permitiu abrir novos caminhos.
“Fiz a diferença entre os negros, sendo um dos líderes. Se eu tivesse ido aos Jogos e falhado, não haveria ninguém para seguir os meus passos. Incentivei o resto das mulheres a trabalhar mais e lutar mais”, disse Alice Coachman em entrevista ao The New York Times, em 1996.
Apesar da medalha de ouro olímpica, a atleta, ao regressar à sua cidade-natal, não deixou de viver o racismo quando foi “homenageada”. Negros e brancos não tinham autorização para sentarem-se ao lado, um do outro, no auditório da cidade. O presidente da Câmara sentou-se ao lado de Alice Coachman no palco, mas recusou-se a apertar-lhe a mão. A atleta ainda precisou de sair por uma porta lateral no final do evento!
Depois de se ter retirado da competição, a atleta foi sendo porta-voz e foi a primeira afro-americana a beneficiar de um patrocínio com uma grande marca desportiva na época. Até 2014, quando faleceu aos 90 anos, trabalhava para ajudar atletas com a fundação que tem o seu nome.