Publicamos hoje o segundo artigo dedicado à prática do exercício físico pelas crianças. O autor deste artigo é Nabil Ghorayeb, doutor em cardiologia e especialista em cardiologia e medicina do desporto.
Uma criança sadia, além de não ter doenças crónicas, sabe dicas positivas de alimentação, pratica atividades físicas livremente, sem cobranças ou escolhas determinadas pelos pais. Ela é que deve escolher o que mais gostaria de praticar.
Na nossa Seção de Cardiologia do Desporto do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, recebemos uma média de 15 crianças/adolescentes por semana para avaliações cardiológicas, e a nossa surpresa é que encontramos em muitos, o que chamamos de adaptações fisiológicas do coração de atleta, precoce, nesses garotos. Além disso, o início de alguns problemas ortopédicos, devido aos abusos e erros dos exercícios, sejam de força, sejam exercícios de resistência (corridas longas).
Quem deve orientar os exercícios é o profissional da área, o educador físico, mas a falta deles e treinos exagerados, para satisfazer pais ansiosos, deixam de lado as recomendações dos ortopedistas pediátricos e cardio pediatras em relação aos exageros desnecessários.
Alguns pais não aceitam derrotas dos filhos que começam a sentir o peso das competições e da pressão por bons resultados. Depois estimulam os excessos físicos, trazendo risco para a saúde e perda do gosto da criança para o desporto. Não são poucos, ótimos atletas infantis, que desistem por estarem saturados das cobranças e dedicação exagerada necessária para vencer como atleta.
O nosso banco de dados do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do HCor – Hospital do Coração mostra que 23% dos jovens examinados tem alguma alteração nos exames cardiológicos, variando de benigno ou não, quase que todos sem se queixarem de qualquer sintoma.
As avaliações dos meninos das “peneiras de futebol” de quatro clubes paulistas apontaram alterações no eletrocardiograma simples em 17% deles. Por isso, a realização inicial de exames cardíacos no ano desportivo e repetido periodicamente, é essencial.
Recentemente, tratámos uma atleta de quase 18 anos, vitoriosa e forte promessa para a Olimpíada de 2016, com uma cardiopatia genética de risco. Necessitou de uma Ablação (uma espécie de intervenção cirúrgica), para ser curada totalmente e recomeçar os seus treinos. A surpresa foi o problema ter sido descoberto apenas agora, em pleno andamento da carreira. Não foi o primeiro caso que tivemos.
O fiscal da saúde é a família, então exijam que se façam as avaliações médicas competentes e não só um “quebrar o galho” administrativo. A prática desportiva, seja de lazer ou federada/competitiva, exige no mínimo, uma consulta, um eletrocardiograma e alguns poucos exames de laboratório além da avaliação ortopédica mínima.