Continua a polémica com os sapatos da Nike Vaporfly. O maratonista irlandês Stephen Scullion afirmou ter sido “desanimador” aparecer na partida na maratona do Campeonato do Mundo do ano passado e ver quase todos os outros concorrentes calçando os ténis Nike Vaporfly. “Eu trabalhei tanto nos últimos anos, mas a primeira pergunta que alguém faz depois de uma maratona é ‘que sapatos usava?'”
Stephen Scullion, sorriu enquanto pronunciou a frase acima, mas era um sorriso de frustração.
“No Campeonato Mundial em Doha, eu não usava os sapatos, olho em volta e há 80 pessoas na linha de partida com os sapatos verde e rosa. É mentalmente desencorajador”, acrescenta Scullion, que garantiu a qualificação olímpica em Janeiro passado, ao ser quinto na Houston Marathon, com um novo recorde pessoal de 2h11m52s.
“Eles tornam as pessoas mais rápidas, mas, ao mesmo tempo, desacreditam o trabalho duro que os atletas estão fazendo.”
“Se alguém bater o recorde da maratona irlandesa, vai sentir-se bem com isso ou terá que ligar para John (Treacy) e pedir desculpas”.
Desde que Mark Carroll fez 2h10m54s em 2002, nenhum atleta irlandês tinha conseguido uma marca abaixo das 2h13m. Até que Scullion, correndo com os sapatos Vaporfly, fazer 2h12m01s em Dublin, em Outubro passado.
“Eu odiei-os na primeira vez que os usei”
No relógio, o companheiro de Scullion, Kevin Seaward, correndo pela primeira vez com os ténis da Nike, saltou para o segundo lugar na lista irlandesa de todos os tempos com 2h10m09s, em Sevilha.
Ironicamente, o atleta de 34 anos experimentou os sapatos num treino pela primeira vez duas semanas antes de Sevilha e “odiou-os”.
“Pareciam sapatos de palhaço. Nenhum contato com o chão, especialmente quando eu estava acostumado a usar um sapato tão minimalista”, lembra ele.
“Fiz esse treino neles e não os calcei até à maratona de Sevilha. Na verdade, foi o meu treinador Andy Hobdell que me disse que as pessoas estavam pelo menos a correr no mesmo tempo quando calçavam os sapatos”.
Kevin Seaward acabou por bater o seu recorde pessoal na distância em três minutos e meio, garantindo assim a qualificação olímpica para Tóquio.
Scullion diz que os Nike Vaporfly, aparentemente quase mágicos, e outros sapatos tecnologicamente avançados, lançados em resposta pelos fabricantes concorrentes, “arruinaram o desporto”.
“Mas se não usá-los, não espere ser competitivo ou tem que ser três minutos mais rápido que todos os outros e isso é impossível”, acrescenta Scullion.
A maratonista olímpica Ann-Marie McGlynn usava os ténis Nike Vaporfly e bateu o seu recorde pessoal (em mais de seis minutos) na maratona em Dublin, em Outubro passado. Segundo ela, os “sapatos ajudam na recuperação”.
A Nike afirmou que os Vaporfly poderiam melhorar a eficiência de corrida em até 4%.
A sola – que consiste numa camada de espuma e uma placa de fibra de carbono – foi projetada para dar aos corredores mais força para a frente, além de maior proteção para as pernas.
O sapato também parece ajudar significativamente na recuperação e isso é algo que a Ann-Marie McGlynn, notou – embora ela insista que “o trabalho ainda precisa de ser feito”.