Escondido nos Estados Unidos desde 2015, quando denunciou a fraude envolvendo o sistema antidoping na Rússia, Grigory Rodchenkov afirma que Putin quer vê-lo morto.
Depois da sua história ter sido revelada em 2017 no documentário “Ícaro”, Grigory Rodchenkov tem tido uma vida muito difícil, estando escondido nos Estados Unidos.
O ex-diretor do laboratório antidoping russo concedeu uma entrevista à agência Associated Press, onde comentou os temores de ser assassinado por ter se tornado um delator dos esquemas de doping nos Jogos Olímpicos.
Para ser entrevistado, Rodchenkov impôs algumas condições. Uma delas era que o local onde estava não pudesse ser identificado de forma alguma. E, ainda, escondeu a sua fisionomia com uma balaclava, de uso comum para pilotos, e óculos escuros, para que não tivesse qualquer parte do seu rosto revelada.
“São as minhas medidas de segurança porque eu tenho ameaças físicas de ser assassinado (…) Putin é muito lógico, ele separa a oposição de duas maneiras: inimigos e traidores. Eu caí na categoria dos traidores e os traidores devem ser decapitados, cortados, mortos. Então, não há dúvidas de que ele me quer morto”, afirmou Rodchenkov à Associated Press.
O ex-diretor do laboratório russo lançou no fim de Julho um livro intitulado “The Rodchenkov Affair – How I Brought Down Putin’s Secret Doping Empire” (O caso Rodchenkov – Como derrubei o império secreto do doping de Putin), em que revela os bastidores da indústria russa do doping. A publicação foi mais uma contribuição – agora pública – de Rodchenkov contra o sistema de doping do seu país, que desde 2016, foi excluído dos Jogos Olímpicos e das grandes competições internacionais.
Rodchenkov foi o cérebro por detrás do cocktail de esteroides anabolizantes e encobrimentos que transformou a Rússia numa máquina de medalhas nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi em 2014.
(Rodchenkov quando trabalhava na Rússia)
“Para mim, foi o fim do controle do doping. Se podemos fazer isso, por que não podem os outros? O desporto faz parte da política de Putin e mostra ao Ocidente como a Rússia é boa. Não se pode confiar na Rússia. Não se pode confiar nos certificados feitos pelas autoridades e os laboratórios não vão recuperar a confiança num futuro próximo”, explicou o ex-diretor.
O delator do esquema de doping ainda comentou sobre os esquemas em que participou quando estava à frente da organização. Segundo Rodchenkov, ele iniciou o programa como uma forma de “nivelamento”, acreditando que atletas de outros países estariam a beneficiar com o doping, o que estaria deixando para trás os atletas russos.