Foi uma época mundial estranha, a de 2020, marcada pelo coronavírus, que fez adiar os Jogos Olímpicos, o Mundial de pista coberta e o Campeonato da Europa (entre outras grandes competições), para além de numerosos meetings, nomeadamente da Liga de Diamante, alguns dos quais se realizaram mas com programas de provas completamente descaraterizados. Mesmo assim, houve recordes mundiais, recordes continentais e alguns outros excelentes resultados. Até onde se teria chegado sem o Covid’19?
As grandes figuras da época foram os recordistas mundiais Joshua Cheptegei (5000 e 10000 m, para além dos 5 km em estrada) e Armand Duplantis (vara, duas vezes), mas Johannes Vetter ameaçou o recorde do dardo e Karsten Warholm o dos 400 m barreiras. E Ryan Crouser passou sete vezes os 22,50 no peso. Sem esquecer os jovens (19 anos na data das provas) Jacob Kiplimo e Jakob Ingebrigtsen, que bem prometem…
Comparando os líderes de 2020 com os de 2019, apenas em seis provas os deste ano são superiores (e há igualdade no peso), entre as 24 provas olímpicas consideradas. O que é significativo…
PÓDIO
1º JOSHUA CHEPTEGEI (UGANDA)
Surpreendente, este ugandês, que fora campeão mundial de 10000 m e corta-mato em 2019 mas teve progressos sensacionais este ano, chegando aos recordes mundiais de 5000 m, com 12.35,36 (tinha 12.57,41 como melhor em 2019), e de 10000 m, com 26.11,00 (26,48,36 em 2019). Os anteriores recordes pertenciam a Kenenisa Bekele, com 12.37,35, em 2004, e 26.17,53, em 2005, respetivamente. Antes, em fevereiro, Cheptegei já havia batido o (oficioso) recorde mundial dos 5 km em estrada, com 12.51.
2º ARMAND DUPLANTIS (SUÉCIA)
Bateu por duas vezes o recorde mundial do salto com vara, com 6,17 (em Torum) e 6,18 (em Glasgow), em pista coberta (antes: Renaud Lavillenie, 6,16 em 2014, igualmente em pista coberta). Depois, conseguiu também a melhor marca de sempre ao ar livre, com 6,15.
3º KARSTEN WARHOLM (NORUEGA)
Voltou a aproximar-se (e várias vezes…) do recorde mundial dos 400 m barreiras de Kevin Young (46,78 em 1992). Depois de ter conseguido 46,92 em 2019, melhorou agora para 46,87 (recorde da Europa e segunda do Mundo), tendo ainda mais três marcas até 47,10 e as seis melhores mundiais do ano. Promete o recorde para 2021…
E DEPOIS…
4º JOHANNES VETTER (ALEMANHA)
Esteve sensacional no dardo, ao lançar a 97,76, aproximando-se a menos de um metro (72 cm) do histórico recorde mundial de Jan Zelezny (98,48 em 1996). Tinha como melhor 94,44, em 2017, mas a sua segunda marca deste ano foi “apenas” de 91,46.
5º RYAN CROUSER (ESTADOS UNIDOS)
Também se aproximou do recorde mundial, ao lançar o peso a 22,91 (contra os 23,12 de Randy Barnes em 1990), subindo a terceiro de sempre, a seguir ao alemão de leste Ulf Timmermann, com 23,06 em 1990. Mas Crouser, que foi o único da época acima de 22 metros, conseguiu nada menos de sete provas acima de 22,50.
E AINDA…
O meio-fundo/fundo teve uma época em pleno, apesar das condições adversas. Para além de Joshua Cheptegei, também o britânico Mo Farah bateu um recorde mundial, na hora, com 21.330 m em Bruxelas, mais 45 metros que os 21.285m de Haile Gebrselassie em 2007. Também se distinguiram a grande altura, os jovens Jacob Kiplimo e Jakob Ingebrigtsen. O ugandês, que foi surpreendente campeão mundial de meia-maratona no final da época, melhorou nos 3000 m de 7.43,73 para 7.26,64 e nos 5000 m de 13.13,64 para 12.48,63, subindo a 8º e 12º de sempre, respetivamente. O norueguês, que já se revelara nos anos anteriores (ele e os irmãos…), bateu os recordes europeus de 1500 m (3.28,68) e 2000 m (4.50,01), subindo a 8º e 6º de sempre, respetivamente. Os recordes pertenciam a Mohamed Farah, com 3.28,81 em 2013, e Steve Cram, com 4.51,39 em 1985. Nos 3000 m, Ingebrigtsen conseguiu 7.27,05, sendo já o 9º mundial e 2º europeu de sempre, neste caso a 43 centésimos do recorde do belga (ex-marroquino) Mohammed Mourhit em 2000. Destaque ainda para o recorde da América do Norte de Mohammed Ahmed (Canadá), com 12.47,20 aos 5000 m (11º mundial de sempre), e para a marca (58.38) do queniano Kibiwott Kandie à meia-maratona, subindo a 5º de sempre (teve mais duas provas a menos de 59 m). Uma referência ainda para o discóbolo sueco Daniel Stahl, 5º de sempre com 71,86 em 2019, que este ano se aproximou com 71,37 e 70,25.
RECORDES MUNDIAIS BATIDOS EM 2020
5000 m | Joshua Cheptegei | UGA | 12.35,36 | Mónaco | 14-08-2020 |
10000 m | Joshua Cheptegei | UGA | 26.11,00 | Valência | 07-10-2020 |
Hora | Mo Farah | GBR | 21.330m | Bruxelas | 04-09-2000 |
Vara | Armand Duplantis | SUE | 6,18pc | Glasgow | 15-02-2000 |
SUBIDAS NO TOP’10 MUNDIAL DE SEMPRE (PROVAS OLÍMPICAS)
1º Joshua Cheptegei | UGA | 5000 m | 12.35,36 |
Joshua Cheptegei | UGA | 10000 m | 26.11,00 |
Armand Duplantis | SUE | vara | 6,20 pc |
2º Johannes Vetter | ALE | dardo | 97,76 |
Karsten Warholm | NOR | 400 bar. | 46,87 |
3º Ryan Crouser | EUA | peso | 22,91 |
8º Jakob Ingebrigtsen | NOR | 1500 m | 3.28,68 |
MELHORES MUNDIAIS DO ANO PROVA A PROVA
100 m | Michael Norman | EUA | 9,86 |
200 m | Noah Lyles | EUA | 19,76 |
400 m | Justin Robinson | EUA | 44,91 |
800 m | Donavan Brazier | EUA | 1.43,15 |
1500 m | Timothy Cheruiyot | QUE | 3.28,45 |
5000 m | Joshua Cheptegei | UGA | 12.35,36 |
10000 m | Joshua Cheptegei | UGA | 26.11,00 |
Marat. | Berhanu Legesse | ETI | 2.04.15 |
3000 ob. | Soufiane El Bakkali | MAR | 8.08,04 |
110 bar. | Orlando Ortega | ESP | 13,11 |
400 bar. | Karsten Warholm | NOR | 46,87 |
Altura | Darryl Sullivan | EUA | 2,33pc |
Tom Gale | GBR | 2,33pc | |
Luis Zayas | CUB | 2,33pc | |
Jamal Wilson | BAH | 2,33pc | |
Ilya Ivanyuk | RUS | 2,33pc | |
Maksim Nedasekau | BLR | 2,33 | |
Vara | Armand Duplantis | SUE | 6,18pc |
Comp. | Juan Echevarria | CUB | 8,41pc |
Triplo | Fabrice Zango | BUR | 17,77 |
Pesp | Ryan Crouser | EUA | 22,91 |
Disco | Daniel Ståhl | SUE | 71,37 |
Martelo | Rudy Winkler | EUA | 80,7 |
Dardo | Johannes Vetter | ALE | 97,76 |
Decatlo | Axel Hubert | FRA | 8260 |
20 km M | Toshikazu Yamanishi | JAP | 1.17.36 |
50 km M | Dementiy Cheparev | RUS | 3.43.29 |
4×100 m | Racers Track Club | JAM | 38,59 |
4×400 m | Texas A@M | EUA | 3.02,77pc |
No pódio em vez de ugandês está escrito
“1º JOSHUA CHEPTEGEI (QUÉNIA)
Surpreendente, este queniano”
Claro que tem razão na sua crítica!