Carmen Pires tem 43 anos e já corre há 33. Adepta da montanha e das ultramaratonas, prefere provas com mais de 50 quilómetros.
Carmen Pires tem 43 anos e é sapadora bombeira no Regimento dos Sapadores Bombeiros de Lisboa. Começou a correr há 33 anos, ainda era uma criança, por influência do seu pai que treinava então, a equipa de atletismo do Casal do Marco. A sua estreia no mundo das corridas deu-se numa prova do seu escalão integrada no Troféu de Atletismo do Seixal.
Atualmente, corre pela equipa do Werun. Treina seis dias por semana, sem treinador nem plano de treinos. À exceção de 2020, por causa da pandemia, tem corrido em média, 50 corridas por ano. Não lhe tem sido difícil conciliar o atletismo com o trabalho e a família. “Nunca foi difícil. Não tenho hora certa para treinar por causa dos horários no trabalho. Depois, há a família e a casa, sobra sempre algum tempo”.
Distância preferida acima dos 50 km
A distância preferida anda acima dos 50 quilómetros. “Tenho muita resistência”. Em estrada, já correu cerca de 15 maratonas mas em montanha, já fez dezenas de maratonas e ultras.
A sua prova preferida foi as “24 h de Vale de Cambra”. “Precisava desse objetivo para ir correr no estrangeiro. E cada quilómetro que fizesse, valia um euro. Nunca parei e fiz 172 km. Houve quem desse menos ou mais que um euro. Reunimos cerca de 7.000 euros que demos a uma instituição de Vale de Cambra”.
“É preciso muita cabecinha, saber quando se deve reduzir”
Preferência clara pela montanha
Carmen é uma apaixonada pela montanha. Realça algumas diferenças em relação à estrada. “Correr na montanha, na natureza, é o que me atrai mais. Não há tanta competição, há mais convívio e entreajuda, mais amizade”.
Momento mais marcante: o nascimento da filha
Curiosamente, o momento mais marcante da sua “carreira desportiva” foi o nascimento da filha, agora com 18 anos. “Então, ainda fazia planos de treinos, via a evolução do meu rendimento. Reaprendi a fazer desporto, a adaptar-me às horas dela. Tive uma quebra, naturalmente”.
“Não ligo aos tempos feitos. Na corrida, prefiro passar um bom tempo do que fazer um bom tempo”
Viver a pandemia sem deixar de treinar
Carmen nunca deixou de treinar nestes longos meses que tem durado a pandemia. Mas tomou os devidos cuidados: “No início, afastei-me dos grupos, só treinava com o meu marido, Luís Vitorino. Depois, passei a treinar com alguns companheiros mas só em grupos pequenos e sempre na serra”.
Tem uma opinião crítica acerca da paragem das provas: “Nunca devíamos ter parado. Devíamos seguir as regras mas não parar. Sem competição, perde-se a motivação, deixa-se de treinar”.
Nestes meses de pandemia e dada a sua profissão, tem tido mais trabalho, particularmente com as desinfestações nos lares, infantários, escolas, etc. “Temos fatos específicos e há afastamento físico, falta o contato humano, tão importante”.
O regresso às provas vai verificar-se no dia 8 deste mês, no Ultra Trail Serra de Grândola.
“Cada vez que organizem uma prova, pensem em todos os corredores. Às vezes, só se pensa nos primeiros. Todos contam!”
Saber evitar as lesões
Como apaixonada que é pela modalidade, Carmen pensa correr “até sempre”. Os seus objetivos passam por continuar a correr e superar-se a si mesma, todos os dias. Nas corridas, aprecia particularmente a amizade, o poder conhecer outras pessoas.
E se não estivesse no atletismo, qual seria a modalidade escolhida? Não hesita na resposta, o basquetebol. “Ainda joguei 2/3 anos, conciliava com as corridas. Mas acabei por ficar só com o atletismo”.
Costuma fazer exames médicos de rotina e não tem sido visitada pelas lesões. “É preciso muita cabecinha, saber quando se deve reduzir”.
Já teve mais cuidados do que agora com a alimentação. É adepta de comer um pouco de tudo mas tem os devidos cuidados 2/3 dias antes das provas, particularmente a nível dos líquidos.
“Para todos os desportos, não parem por nada! … Parar atrai depois uma série de problemas”
Modalidade com futuro promissor
Carmen encara o futuro da modalidade com otimismo. “O futuro é cada vez melhor, há cada vez mais gente a praticar o trail, mais velhos e jovens. Não ligo aos tempos feitos. Na corrida, prefiro passar um bom tempo do que fazer um bom tempo”.
Já quanto a sugestões para uma melhor organização das provas, Carmen é bem clara: “Cada vez que organizem uma prova, pensem em todos os corredores. Às vezes, só se pensa nos primeiros. Todos contam!”
Quando perdeu uma volta na sua primeira prova de pista
Estórias não podem faltar a quem já corre há 33 anos. Esta passou-se quando ela correu 1.500 metros na sua primeira prova na pista, tinha então 12/13 anos. “Levei uma volta de avanço da primeira. Fiz a última volta e fartei-me de chorar, todos a baterem-me palmas. O meu pai teve de ir buscar-me”.
Dormir a correr
São vários os atletas que alucinam em ultramaratonas. Carmen nunca passou por essa situação mas na Ultra Ehunmilak, no País Basco, passou por uma situação, no mínimo curiosa. “Foram 40 horas de prova, fi-la toda com um amigo. Íamos a correr e durante segundos, adormeci. Não caí, segui a correr. O mesmo se tinha passado com ele! Como é possível correr e adormecer ao mesmo tempo?!”
A terminar, Carmen deixou um apelo: “Para todos os desportos, não parem por nada! É importante nunca parar. Parar atrai depois uma série de problemas”.