Sabrina Verjee vem batendo recordes e vencendo ultramaratonas “impossíveis” de se correr há anos.
Em Portugal, poucos conhecerão Sabrina Verjee. Ela tem o hábito de estar no topo das classificações das grandes ultras exigindo muita resistência física e mental. E enquanto os países se fechavam devido à pandemia, a veterinária de 39 anos aumentou as suas ambições, tornando-se a primeira mulher a completar uma volta ininterrupta de 524 km dos 214 picos que compõem os Wainwrights de Lake District, no noroeste da Inglaterra. Demorou 6 dias 17 horas e 51 minutos, num percurso com cerca de 36.000 m de desnível positivo e que só foi concluído por quatro vezes. Poucas semanas depois, ela estabeleceu um novo recorde feminino na Pennine Way com 688,6 km.
Primeiras experiências escolares não foram as melhores a nível desportivo
A verdade é que o seu desempenho de agora não tem nada a ver com os seus primeiros anos de garota. Numa entrevista, Sabrina Verjee explicou como foram os seus primeiros anos na escola: “Os meus pais não eram desportistas e eu nunca pratiquei nenhum desporto na minha escola (só para meninas), porque eu era um lixo, o que obviamente te torna mais lixo. Só poderia jogar ténis se fosse uma das três melhores jogadoras da escola; o mesmo com a corrida. Eu queria muito fazer os 1500 m, mas era péssima demais. Mas havia uma pista de relva de 400 metros e às vezes depois da escola, eu corria nela com um amigo. Lembro-me de ter gostado muito. Eu dava algumas vezes, quatro ou cinco voltas lentas, o que parece bastante quando se tem 12 anos.
Quando ela tinha 16 anos, foi para outra escola e começou a correr. “Fomos incentivados a fazer lá tudo. Assim, fiz escalada, hóquei, futebol, basquete, remo, equitação, cross-country. Eu fiz o máximo que pude. E quanto mais eu gostava, mais gostava”.
Depois, na Universidade de Oxford, Sabrina manteve a prática desportiva. “Comecei a remar, eram 11 treinos por semana. Foi muito bom… Eu fiquei em forma, muito rapidamente. Então, descobri o pentatlo moderno. Eu não era a melhor em nenhuma disciplina, mas era eficiente em todas elas. Poucas pessoas sabiam andar a cavalo – sempre montei cavalos – e não era má na corrida”.
Depois de sair da Universidade, Sabrina trabalhou na banca durante três meses mas não se mostrou entusiasmada com o trabalho. Ficar o dia todo sentada não era para ela. “Eu precisava estar do lado de fora, utilizar o meu cérebro. Então, estudei Medicina Veterinária na Universidade de Cambridge. Fiz pentatlo moderno, mas também era membro do clube de corrida Hare and Hounds. O clube recebeu um e-mail tentando despertar o interesse por corridas de aventura e fiquei curiosa, conheci então num pub, um tipo chamado Russ. Ele mencionou o Hebridean Challenge, uma corrida por etapas de cinco dias que estava planeando fazer. ‘Ooh, eu quero fazer isso!’, disse eu. Ele respondeu: ‘Talvez devas começar com um de duas ou três horas?’ mas eu estava tipo, ‘Nah, isso não parece tão divertido. Eu quero fazer esta. Eu quero estar na sua equipa’. Ele disse que não, o que me irritou na hora. Então pensei: ‘Vou encontrar a minha própria equipa e vamos derrotar a tua”’. E nunca mais parou!