O Clube Desporto C+S de Lavra está situado no concelho de Matosinhos e foi fundado em 1995. Fernanda Amaral é a presidente do clube que tem 150 atletas federados. Com um orçamento de cerca de 20 mil euros, conta com atletas que já foram campeões nacionais e internacionais.
O Clube Desporto C+S de Lavra localiza-se no concelho de Matosinhos e foi fundado em 7 de Novembro de 1995. Ao contrário do que sucede com a maioria dos clubes, onde o futebol esteve na sua génese, a origem do Clube Desporto C+S de Lavra esteve no Grupo de Desporto Escolar de Atletismo da (ex) Escola C+S de Lavra, sob a orientação desde 1992, do professor Guilherme Valente. Depois, o clube constituiu-se de modo independente da escola, em termos jurídicos, financeiros e diretivos.
Inicialmente, o Clube Desporto C+S de Lavra utilizava a pista de alcatrão da EB 2,3 de Lavra. Desde 2002, passou a utilizar as instalações municipais da Zona Desportiva de Leça da Palmeira, onde se situa a Pista de Atletismo.
“É lamentável que muitos dos nossos melhores atletas abandonem a modalidade nos primeiros anos de seniores”
860 sócios e 150 atletas
Fernanda Lima Amaral é a presidente do clube que tem atualmente 860 sócios que pagam uma quota anual no valor de 12 euros. O clube tem a sua sede e apenas em funcionamento a Secção de Atletismo como modalidade federada, contando com cerca de 150 atletas. Porém, já teve, no âmbito do desporto informal, a funcionar regularmente, duas classes de dança urbana, um grupo de danças latinas, um grupo de danças de salão, um grupo de capoeira, um grupo de ténis e dois grupos de futsal. Neste momento, tem um Centro de ATL e desenvolve ainda outras atividades como os campos de férias, pequenos eventos culturais e desportivos, intercâmbios juvenis internacionais e atividades de incentivo ao associativismo juvenil.
Guilherme Valente é o responsável da Secção de Atletismo, com os seus atletas a participarem em provas de estrada, corta-mato e pista, sendo nesta, o foco principal. Para manter em atividade os 150 atletas, o clube conta com quatro treinadores: Guilherme Valente (velocidade/saltos/lançamentos); Carina Gomes (iniciação: benjamins/infantis); Sara Silva (formação: infantis/iniciados) e Beatriz Gomes (formação: meio fundo e quatrocentistas).
Atletas internacionais e campeões nacionais
O clube está satisfeito com os resultados obtidos, costumando ocupar lugares de destaque ao nível coletivo e ao nível individual nos diferentes escalões de formação, nos campeonatos e provas regionais da A. A. Porto. Os atletas que têm conseguido os mínimos, têm participado nos Campeonatos Nacionais.
Em 2020, Rafael Jesus sagrou-se campeão nacional do triplo salto em juvenis. E tem outros atletas, que além de terem sido campeões nacionais, já representaram Portugal em Campeonatos Europeus ou Mundiais, como Carina Gomes (heptatlo), Catarina Queirós (100 m/bar), Sara Moreira (100 m/bar), Rafaela Hora (400 m/bar) e Pedro Ferreira (decatlo).
“A pandemia está a criar muitas dificuldades na estabilização dos grupos de treino”
Objetivos para esta época
Segundo Guilherme Valente, os objetivos principais para esta época, prendem-se com a tentativa de estabilizar o maior número possível de atletas nos diferentes escalões etários, para manter o espírito e o ambiente próprio que sempre caracterizou o clube, que é o de uma Escola de Atletismo, Desporto e Cidadania. “A pandemia está a criar muitas dificuldades na estabilização dos grupos de treino, não obstante, pretendemos estar nos Nacionais dos diferentes escalões, se é que vão realizar-se, e fazer o melhor possível”.
O clube já tem alguns atletas com mínimos para os Nacionais de juvenis e juniores, como José Lobo (60 m/bar), Marta Lobo (300 e 800 m), Matilde Lobo (60 m/bar), João Zamith (60 m/bar), João Meira (dardo e disco), Vítor Lima (martelo e disco) e Rafael Jesus (triplo, altura, 60 m, 60 m/bar e heptatlo).
Guilherme Valente aguarda ainda que se possam disputar a nível regional, os vários campeonatos dos diferentes escalões etários. Ainda, as provas principais dos escalões jovens, como o Olímpico Jovem, o Triatlo, o Atleta Completo, etc, “onde iremos tentar obter como de costume, algumas vitórias individuais e algumas coletivas”.
O clube organiza anualmente um meeting de atletismo jovem designado “Atletismo Matosinhos Cup”, focado nas disciplinas da pista e com cerca de 200/300 participantes.
“Funcionamos a partir de um conceito em que temos que ser nós a criar um certo autofinanciamento para sermos sustentáveis”
Cerca de vinte mil euros no orçamento anual
O orçamento anual ronda os 20 mil euros. O clube tem o seu próprio financiamento, pois cada atleta paga uma quota mensal que varia entre 10 e 20 euros. É apoiado pela Câmara Municipal de Matosinhos e pelo IPDJ, através de vários programas a que concorre. Quanto aos apoios de privados, Guilherme Valente diz-nos que eles já foram mais significativos, “atualmente ainda temos alguns apoios, mas poucos”.
Como acontece com a grande maioria dos clubes, os subsídios não chegam para fazer face às despesas. “Funcionamos a partir de um conceito em que temos que ser nós a criar um certo autofinanciamento para sermos sustentáveis”.
O equilíbrio do deve e haver é conseguido com a quotização paga pelos atletas e pela grande maioria das crianças e jovens que frequentam as atividades. Mas Guilherme Valente ressalva que “há sempre a possibilidade de alguns jovens terem uma condição especial na quota que pagam, por serem oriundos de meios mais desfavorecidos”.
“Nos últimos anos, temos notado que a procura do atletismo por parte dos jovens é menor”
Apoios aos atletas
Os apoios aos atletas situam-se ao nível das condições materiais de treino, que Guilherme Valente considera muito boas. “O nosso clube está muito bem apetrechado em termos de material de treino para todas as disciplinas do atletismo, incluindo estruturas de queda para os saltos, varas para fazer salto com vara, engenhos para os lançamentos, barreiras de treino, condições de ginásio para apoio, etc, apoio médico, treinadores qualificados e relativamente bem pagos, considerando a realidade do atletismo, transportes (o clube dispõe de três carrinhas) e deslocações e estadias asseguradas para todos os que vão aos Nacionais. Os atletas, porém, têm na sua grande maioria que comprar os equipamentos e pagar uma quota mensal ao clube”.
“Precisamos de acompanhar a evolução que a sociedade tem tido, de sermos uma modalidade mais competitiva com outras modalidades”
CLUBE DESPORTO C+S DE LAVRA
Concelho: Matosinhos
Ano fundação: 1995
Presidente: Fernanda Lima Amaral
Sócios: 860
Atletas: 150 federados
Técnicos: 4
Orçamento: 20 mil euros
Dificuldades na prática da modalidade
Guilherme, um homem com mais de 25 anos de experiência no atletismo, não se limitou a analisar as dificuldades tidas pelo clube na prática da modalidade. Foi mais longe, analisando de forma lúcida a realidade nacional nas suas várias vertentes.
. “A principal dificuldade que temos é estarmos inseridos numa modalidade que precisaria de estar mais desenvolvida, para nós próprios termos condições para nos desenvolvermos.
. Precisamos de acompanhar a evolução que a sociedade tem tido, de sermos uma modalidade mais competitiva com outras modalidades; a modalidade precisaria de ser mais democratizada e expandida a nível nacional, desde o litoral ao interior, precisaria de ser melhor abordada nas escolas também e melhor tratada pelas estruturas dirigentes, para se tornar uma modalidade atrativa, que os jovens procurassem mais para praticar, com mais visibilidade também nos Órgãos de Comunicação Social, de modo a ser possível captar patrocínios e apoios privados. Nos últimos anos, temos notado que a procura do atletismo por parte dos jovens é menor. As pistas de atletismo do Porto, por exemplo, inseridas em estádios de futebol, estão quase sempre abertas à realização de jogos de futebol e muito pouco abertas à realização de provas de atletismo, obrigando-nos a deslocações longas para competirmos. As competições são organizadas sempre do mesmo modo, faltando cuidado, melhor organização e espírito de inovação, de forma a captar o interesse dos atletas companheiros, dos pais, dos familiares e depois do público em geral.
. Se observarmos, por exemplo, os finalistas da 1.ª e 2.ª Divisão no Nacional de Clubes, observamos que são sempre os mesmos clubes a ficar quase sempre nos mesmos lugares. Não existem prémios para os clubes de modo a incentivar a participação e os lugares de pódio nos Nacionais, quer coletivos, quer individuais, representando isso, apenas despesa para os clubes. A exceção são os clubes de atletismo que têm uma equipa de futebol na Liga de Futebol (2/3) ou os Clubes das Regiões Autónomas (2/3) que se financiam de modo muito particular, através de apoios diretos do Governo Regional. Precisamos de um modelo de competição que possa despertar de modo contínuo, ao longo de toda a época, o interesse dos adeptos, dos media, que fidelize um certo público, que capte novos públicos e novos praticantes. Esse modelo, se não incentivar a alternância dos vencedores, não será eficaz.
. Esse modelo deve dar visibilidade aos nossos melhores atletas de modo contínuo, não pode ser apenas quando há Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos.
. Desse modo, talvez conseguíssemos mais meios financeiros de forma a distribuir pelos clubes da 1.ª e 2.ª divisão que estão espalhados pelo país, tornando mais sustentável a sua atividade, trazendo mais interesse e maior competitividade entre os clubes, que passariam a poder investir mais nos atletas de rendimento, tornando possível uma maior longevidade dos atletas no escalão sénior e, logicamente, a produção de resultados de alto nível. É lamentável que muitos dos nossos melhores atletas abandonem a modalidade nos primeiros anos de seniores. A longo prazo, todas as pessoas ligadas à modalidade beneficiariam, incluindo nós próprios, com esse novo modelo de desenvolvimento”.
Quando uma atleta iniciou uma estafeta sem o testemunho!
Guilherme conta-nos duas estórias passadas com os atletas do clube. A primeira, passou-se num Campeonato Nacional do Desporto Escolar realizado em Castelo Branco. “Tínhamos uma equipa feminina a disputar o Nacional no escalão de juvenis. A equipa da estafeta era composta por quatro raparigas iniciadas, que faziam todas elas abaixo dos 11 segundos aos 80 metros. A primeira atleta era um pouco distraída mas era a mais rápida de todas, chegou a fazer 10,4 aos 80 m e a disputar a final dos 80 m no Olímpico Jovem Nacional. Acontece que no momento da prova, foi dado o tiro de partida e eu reparei que a atleta não levava o testemunho na mão, gritei-lhe …..’Oh fulana deixaste o testemunho’. Ela voltou para trás, entretanto já tinha corrida cerca de 10 metros, apanhou o testemunho e voltou à corrida, tendo a equipa ficado ainda em segundo lugar, as quatro foram vice-campeãs nacionais no desporto escolar”.
Salta o 109 e prepara o 115…
Esta passou-se no Estádio da Maia, numa prova de salto em comprimento, num dia de chuva, com um atleta do clube conhecido pelo “Carrela” (2,04 m de altura) que não tinha sapatilhas de bicos. “Num determinado ensaio, o juiz-árbitro chamou pelo nosso atleta para realizar o seu salto e disse: ‘salta o 109 (dorsal do atleta em questão) e prepara o 115’. O número 115 para além de ser o dorsal do atleta que iria saltar a seguir era, na época, o número nacional de emergência (atualmente é o 112). A verdade é que o nosso atleta começou a correr em direção à caixa de areia e ao passar na tábua de chamada, escorregou, tendo-se estatelado no chão, embora sem grandes consequências. A risada foi geral em toda a bancada central do Estádio”.
“Precisamos que a Federação e as Associações falem a uma só voz e que se assumam como verdadeiros interlocutores perante as autarquias”
Dificuldades criadas pela pandemia na prática da modalidade
A terminar, Guilherme falou-nos das dificuldades criadas pela pandemia no acesso aos locais de treino com as devidas consequências nos atletas. “Em tempo de pandemia, uma das dificuldades que temos sentido é o acesso ao treino e ao uso da pista de atletismo e ao nosso local habitual de treino. Estas dificuldades fazem-nos perder atletas, motivação e perda da dinâmica criada. Em tempo de retoma, andamos sempre atrasados em relação a outras modalidades, não obstante o atletismo ser uma modalidade de ar livre e individual e que foi considerada pela DGS de risco mais baixo para o contágio da pandemia. Precisamos que a gente do atletismo esteja mais unida e precisamos que a Federação e as Associações falem a uma só voz e que se assumam como verdadeiros interlocutores perante as autarquias, de modo a libertar os espaços de treino e de modo a que os praticantes de atletismo tenham a mesma facilidade em usar as pistas de atletismo enquanto espaço de treino, tal e qual como outros praticantes de outras modalidades têm acesso aos campos de futebol e aos Pavilhões Gimnodesportivos”.