Fernanda Verde tem 43 anos e corre desde 2013. Especialista no trail, é atleta do EDV-Viana Trail e já representou a seleção nacional em vários Campeonatos do Mundo. Prefere provas acima dos 40 km e tem vários títulos nacionais no seu curriculum. Está a fazer uma Pós- Graduação em Trail Running.
Fernanda Verde tem 43 anos e é minhota, tendo nascido em Vila Praia de Âncora. Residente há muitos anos em Santa Marta de Portuzelo, é profissional das Medicinas Alternativas, com um consultório onde exerce as funções de osteopata, acupuntora, massagista, técnica de fitness e Personal Trainer. Corre desde 2013 e especializou-se no trail, a sua grande paixão até hoje.
Há quantos anos treina e como apareceu o atletismo na sua vida?
O desporto sempre fez parte da minha vida, em criança joguei voleibol, pratiquei ginástica acrobática e rítmica. Quando acabei o secundário, fui para Vigo estudar desporto, atividades de academia, mais precisamente, o mundo do fitness foi a minha paixão. Com 22 anos, dava 6 horas de aulas diárias num ginásio em Caminha e ainda arranjava força e tempo para uma corridinha pela famosa mata do Camarido ou então, junto às margens do rio Minho.
Agora se falarmos em Trail Running, a paixão apareceu após o nascimento do meu filho António. Um dia recebi um convite de uns amigos (Fevereiro de 2013) que por acaso corriam na equipa de um dos Gigantes do Trail Nacional, o Carlos Sá. Foi o Ricardo Taxa e o Mestre Joaquim Sampaio que me convenceram ir até ao monte do Galinheiro, aqui na nossa vizinha Espanha, participar num free-running que lá existia com carácter solidário.
Foi a pior experiência da minha vida, para além de não ter equipamento adequado, nem água, nem comida durante aqueles 22 km, não tinha preparação física, pois tinha sido mãe 6 meses antes. Mas como tenho um lema de vida que sigo desde o nascimento do meu filho, “ Nem o Céu é o Limite!”, não me deixei por vencida e fui à procura de treinos e experiência na modalidade até aos dias de hoje. O que um dia foi mau, em nada virou um estilo de vida, uma paixão.
Está inscrita nalgum clube?
A convite do Presidente José Carlos Alcobia, visto a camisola amarela e preta da EDV- VIANA TRAIL desde o início de 2016. Aqui ganhei amigos e até posso dizer que tenho alguns bem guardados no coração, a minha segunda família.
Conquistei muitos títulos nacionais nesta equipa, ajudei e ajudo sempre que posso a levar o nome da minha cidade Viana do Castelo e da minha equipa ao mais alto nível no mundo do Trail Running.
“A prova que mais emoção tive, foi a primeira vez que fui representar Portugal no Campeonato do Mundo”
Treina quantas vezes por semana? Costuma ter algum plano de treinos?
Neste momento, não tenho treinador. Sou eu própria, a minha treinadora, mas escusado será dizer que para além das aulas que coordeno, treino 7 dias na semana tirando apenas um para descanso.
Como amo esta modalidade e quero saber mais, este ano e pela primeira vez em Portugal, existe uma Pós- Graduação em Trail Running no Instituto Politécnico de Viana do Castelo, em parceria com a Escola Superior de Desporto de Melgaço, à qual me candidatei e tenho a felicidade de tirar esta especificidade.
Estou a adorar a experiência, para além de ser uma grande aprendizagem, são conhecimentos baseados em dados científicos, que certamente me vão ajudar a ser melhor treinadora e quem sabe, melhor atleta.
Como concilia os treinos e corridas com a sua atividade profissional?
Ao Domingo, traço um plano de treino e de atividades para a semana. Há dias, que nem tenho tempo para me sentar no sofá, as horas passam a voar. Entre as consultas, as aulas que coordeno, a dona de casa, esposa e mãe, tento sempre arranjar um bocadinho para os meus treinos, pois sem eles, não me sinto viva, chego até a perder o “norte”. Então agora neste ano atípico e com as aulas do meu filho em casa, as coisas ainda se complicaram mais. Para que tudo dê certo e exista harmonia no meu lar, treino muitas vezes com o meu filho e o meu marido. A família tem sido o meu maior suporte.
Quando foi a primeira prova oficial? Que achou dela?
A primeira prova oficial foi aqui na minha zona, o Monte da Padela em 2014, com a distância de 34 km. Foi uma emoção única, fiquei em segundo lugar da geral feminina, atrás da uma grande atleta da modalidade, a “Ester Alves”. Fiquem tão emocionada e feliz que só queria aprender mais, a ser melhor corredora e a ter mais experiências como aquela.
“O Trail é a natureza, é adrenalina dos obstáculos e o voltar a sentir-me criança”
Quantas provas faz em média por ano?
Normalmente, faço os Campeonatos Nacionais de Ultra Trail e Ultra Trail Endurance, as Taças de Portugal destas mesmas distâncias, e algumas provas para o Circuito Regional.
Qual a(s) prova (s) em que mais gosta de participar?
A prova que mais emoção tive, foi a primeira vez que fui representar Portugal no Campeonato do Mundo. Prova essa que se realizou no Parque Nacional da Peneda/Gerês em 2016. Vestir as cores nacionais e correr pelo meu país, é arrepiante e de uma honra sem igual.
E a(s) que menos gostou de participar?
A que menos gostei, foi a minha primeira desistência. Foi nos 100 km da Serra da Freita. Tinha 60 km de uma dureza sem fim, e uma lesão após uma queda numa passagem de rio, obrigou-me a ficar na base de vida. Foram lágrimas de desalento.
“Para mim, o atletismo, mais precisamente o trail é um estilo de vida”
Qual a distância preferida?
Sou apreciadora de distâncias sempre a partir dos 40 km para cima. Tenho reparado que o meu corpo tem uma maior capacidade de recuperação e adaptação a longas distâncias.
Já correu quantas maratonas e ultra maratonas?
Já corri quilómetros sem conta…. confesso que não consigo enumerar todas as provas em que participei. Mas posso dizer que trago de cada uma delas, uma nova aprendizagem e experiências sem fim.
Deixo resumo dos meus desafios e da minha superação pessoal:
2015 – Ganhei o Circuito do Campeonato Nacional de Ultra Trail
2016 – Vice-campeã nacional de Ultra Tail Endurance e vice-campeã da Taça de Portugal, sendo campeã no escalão.
2017 – Ganhei a Taça de Portugal de Ultra Trail, vice-campeã de Ultra Trail Endurance e campeã no escalão, 3º lugar da geral no Ultra Trail e 2º lugar no meu escalão.
2019 – Vice-campeã de Ultra Trail Endurance e campeã no meu escalão
2016, 2017, 2018 – Tive o privilégio e prazer de correr com as cores nacionais, fui atleta da Seleção Nacional de Trail Running
Sendo adepta do trail, também participa em provas de estrada? Qual a grande diferença?
O Trail é a natureza, é adrenalina dos obstáculos e o voltar a sentir-me criança. A convivência ao longo das provas e a partilha de experiência. Na estrada, o ritmo é tão elevado que ficamos muito sozinhos e isolamo-nos num mundo só nosso. Não existe convivência nem partilha.
Qual o local preferido de treino? Porquê?
Eu gosto de treinar no monte da minha cidade Viana do Castelo, na minha linda Serra D’ Arga, e na “Montanha Mágica”, em Vila Nova de Cerveira. Para além da beleza, cada uma destas serras tem trilhos distintos e com terrenos muito diversificados. Essa é uma das razões pela qual eu gosto de variar e adaptar o treino conforme o trilho da prova que estou a preparar.
“Sem a corrida, não me sinto viva, não sou a Fernanda Verde”
Qual foi o momento da sua carreira desportiva que mais a marcou?
Tenho dois momentos que guardo com carinho no coração. Um, foi vencer a Taça de Portugal na Serra D’Arga em 2017, o outro foi na Serra do Marão após uma lesão, voltar a fazer pódio e ser vice-campeã e campeã no escalão em 2019.
Em 2017, estava na minha melhor forma, a Taça foi numa das minhas serras preferidas e cheia de gente que adoro à minha volta. Atravessar aquela fita da meta e ver o meu Presidente de sorriso rasgado e a lágrima no canto do olho, foi uma satisfação sem fim. Os 100 km do Marão foi a minha superação após uma longa pausa devido a lesão. Esta prova, dedico-a ao meu marido que me deu apoio e alento de início até ao fim, as lágrimas na meta foram mútuas e a satisfação de uma grande superação.
Até quando pensa correr?
O meu maior sonho é correr até partir para o “outro mundo”, se ele realmente existir. Sem a corrida, não me sinto viva, não sou a Fernanda Verde.
“Vivam, não se limitem a sobreviver, abracem o próximo, mimem a família e os amigos”
Costuma fazer exames médicos de rotina?
Faço exames todos os anos e sou extremamente cuidadosa com a minha alimentação e a alimentação da família. Por vezes, até um pouco exagerada com o meu filho António. Mas como para mim, a alimentação é a base para uma vida saudável e sem doenças, sigo sempre esta teoria.
Lesões?
As lesões são a parte pior a que nenhum atleta gosta de enfrentar. Mas como não existe exceção à regra, eu também já tive algumas. A recuperação é dolorosa, a resiliência e a força mental são a base para ultrapassar estes momentos.
Se não estivesse no atletismo, que modalidade gostaria de ter seguido?
Para mim, o atletismo, mais precisamente o trail é um estilo de vida, mas se não a pudesse praticá-la, iria certamente para o BTT.
Que futuro vê para o atletismo em Portugal?
Felizmente, a modalidade cresceu muito nos anos antecedentes a esta pandemia, já se encontra provas com muita qualidade dentro do nosso país. Agora com estas formações que se estão a realizar para aprofundar o conhecimento dos treinadores, acredito que vamos conseguir dar passos muito maiores.
O que mais aprecia no mundo das corridas?
Para mim, não chega ser bom atleta, as corridas são a partilha de experiências, as amizades que se criam, os momentos que se vivem com os amigos nos trilhos. Conhecer cada cantinho do nosso país e até pelo mundo fora, é o sonho de qualquer pessoa que ame o trail e a corrida.
Sugestões para uma melhor organização das provas
Primeiro passo, é ter alguém que ajude, já com experiência e conhecimento a organizar uma época desportiva, “um treinador”, fazer uma avaliação da condição física, planear, avaliar e periodizar cada passo, até chegar ao objetivo principal.
Projetos futuros na modalidade
Nesta fase de pandemia, a maior vontade que tenho é conseguir voltar aos trilhos e usufruir sem medos e receios da companhia dos colegas e amigos que ganhei ao longo destes anos. O resto, virá com o trabalho e com a persistência.
Como tem feito a nível de corridas desde as primeiras medidas de confinamento em Março de 2020? Continua a treinar com regularidade?
Desde que entrámos neste caminho estranho e sem fim, que tenho vindo a reajustar os treinos conforme a vida se vai programando. Treino com regularidade, mas não com a intensidade que o fazia anteriormente. Existe sempre um plano de treino, mas que por vezes, se vai ajustando às adversidades da situação que vivemos. Entre as aulas que dou on-line de exercício físico, as corridas na passadeira em casa, as horas de spinning também em casa, ainda vou tentando correr alguns quilómetros pelas ruelas da minha cidade.
Tem feito corridas virtuais?
Não
“A satisfação de ter corrido três anos pelo meu país, ninguém me tira!”
Uma ou duas estórias curiosas acerca das suas corridas? Ao longo dos nossos anos de competição, há sempre estórias engraçadas para serem contadas.
Em 2018, no Mundial de Trail Running, apanhei uma virose. Fiz 85 km com a” saia na mão”, mas o sonho era real, e chegar à meta com a bandeira nacional, mesmo senda a ultima atleta portuguesa a terminar a prova, foi de uma grandeza e satisfação pessoal sem explicação. Faltando apenas 10 km para a meta, todas as pessoas pelas quais passava e que estavam a dar apoio às suas seleções, gritavam o meu nome como se tratasse da primeira mulher da geral…. mas não, eu era a ultima portuguesa que faltava terminar a prova….
Sem entender o que se passava, fiquei emocionada e corri já quase a desfalecer até à meta…fui recebida com palmas e carinho de todos. E sabem por quê? Porque o médico da seleção nacional portuguesa disse o meu nome aquela gente toda… confesso que me arrepiei e voltei a ganhar ânimo até à meta.
Fácil era ter desistido, o difícil foi ir até ao fim, mas a satisfação de ter corrido três anos pelo meu país, ninguém me tira. Honrar as cores da nossa bandeira nacional é uma emoção sem igual.
Mais algum aspeto que ache de interesse divulgar
O melhor que temos na vida é o respeito por ela, por isso deixo uma palavra a todos, VIVAM, NÃO SE LIMITEM A SOBREVIVER, abracem o próximo, mimem a família e os amigos.