O irlandês Paul Pollock, de 34 anos, já foi maratonista olímpico em 2016 e ambicionava estar novamente presente em Tóquio. Mas a sua vida atlética nos últimos anos tem sido muito complicada, com inúmeras lesões. Ele estima que esteve em média, lesionado cinco meses em cada ano.
Em Dezembro de 2019, Pollock participou na Maratona de Valência. Ele estava pessimista. Tinha tido mais uma fratura de stress, o que significou que tinha treinado apenas 66 km por semana nos quatro meses de preparação. Ele calculou então, que na melhor das hipóteses, poderia correr a Maratona de Valência em 2h15m.
O plano era correr até metade da prova com o grupo que ia para um tempo de 2h11m30s e depois, desistir, recuperar e preparar-se devidamente para a Maratona de Londres que estava marcada para cinco meses depois.
Dois dias antes da prova, Pollock havia saído para um treino com um par de Nike Vaporfly Next%. Foi a primeira vez que experimentou os sapatos que revolucionaram a modalidade nos últimos anos.
Ele correu 2 km em ritmo de corrida com os novos sapatos, não sentiu problemas e decidiu que ia correr com eles na Maratona.
O que aconteceu naquela manhã de domingo, ele ainda hoje não percebeu totalmente. Pollock chegou a meio da prova no ritmo pretendido, mas sentiu-se tão à vontade que continuou em prova. O célebre “muro” depois dos 30 km não apareceu e ele continuou a acelerar. “Isso raramente acontece numa maratona”, diz ele.
Ele percorreu os quilómetros finais e cortou a meta sem acreditar no tempo feito: 2h10m25s, recorde da Irlanda do Norte e mínimo olímpico para Tóquio.
Quando lhe perguntaram qual a sua posição sobre os sapatos com que correu a prova, respondeu: “Se for um dos primeiros a usá-los, tem-se uma vantagem injusta, mas agora é tão comum e aceito, eles são legais, então por que não usá-los? Quando eles saíram, eu fiz corridas com as minhas sapatilhas normais e outras pessoas estavam a usar o (Nike Vaporfly) 4% e isso afetou-me nas últimas milhas, (pensando) ‘eles terão aquele empurrão extra’ ”.
Pollock nunca os usa no treinos, preferindo guardá-los para o dia da prova. “Mentalmente, (se) vou para uma corrida e calço estes sapatos mágicos, vou correr bem. Em parte, essa é a razão pela qual as pessoas correm bem: acreditar que vai correr mais rápido”.