No mundo da corrida, culpamos muitas vezes o acúmulo de ácido lático quando os nossos músculos sentem vontade de desistir, ou simplesmente, dizemos que estamos a ficar sem energia. Mas esses dois fatores não são 100% responsáveis pela fadiga muscular. Ainda falta uma peça nesta questão: a capacidade dos nossos músculos em responder aos sinais do cérebro.
O cérebro diz aos músculos para se contraírem, enviando sinais para células longas chamadas neurónios motores. Em vez de tocar realmente o seu músculo, há uma pequena lacuna entre a extremidade do seu neurónio motor e a sua célula muscular. O neurónio motor contém um neurotransmissor de um lado da lacuna chamado acetilcolina e, do outro lado da lacuna, a célula muscular é revestida com ions carregados – potássio por dentro e sódio por fora. Quando o cérebro envia um sinal para o neurónio motor, a acetilcolina é libertada. Isso faz com que se abram os poros da célula muscular, permitindo que o sódio entre e o potássio saia.
A mudança cria um sinal elétrico chamado potencial de ação que se espalha por toda a célula muscular, fazendo com que ela liberte o cálcio armazenado dentro dela. Esse fluxo de cálcio é o que faz finalmente os seus músculos contraírem-se. Para aumentar a contração, o seu músculo usa uma molécula chamada ATP, que também ajuda a redefinir o equilíbrio de sódio e potássio quando termina a contração. Cada vez que o indivíduo contrai os músculos, utiliza mais ATP, cria resíduos como o ácido lático e parte dos ions de sódio e potássio dispersa-se. Tal, deixa cada vez menos ions disponíveis para cada contração muscular subsequente.
As suas células musculares estão sempre a produzir mais ATP. Então, mesmo quando estão muito, muito cansadas, ainda têm algum ATP ativo. Por outras palavras, o indivíduo nunca ficará completamente sem ATP (também conhecido como energia). Da mesma forma, mesmo no final de uma corrida muito longa ou difícil, quando as suas pernas estão a queimar ácido lático, os seus músculos cansados ainda terão pH dentro dos limites normais, o que significa que o seu corpo ainda está a limpar o ácido lático, mesmo quando se está cansado. Mas, à medida que os seus músculos se contraem continuamente, começa-se eventualmente a ficar sem ions de potássio, sódio e cálcio, que são necessários para restaurar o músculo de maneira adequada. Quando isto acontece, mesmo que o cérebro envie um sinal, o músculo não consegue criar um potencial de ação para se contrair. É por isso que muitos corredores absorvem alguma forma de eletrólitos durante uma corrida longa, principalmente quando está calor e se está a perder muito sódio com o suor.
A boa notícia é que existem muitos ions de sódio, potássio e cálcio noutras áreas do corpo e, geralmente, tudo o que é preciso, é um breve descanso para permitir que eles fluam para as áreas onde são necessários (neste caso, os músculos) para começar novamente. Melhor ainda, se continuar a correr regularmente, será preciso cada vez mais tempo para a fadiga muscular se instalar, porque o cérebro não precisa de sinalizar aos músculos com tanta frequência para obter a mesma força de contração. Isso permite que se trabalhe na mesma intensidade (ou seja, correr na mesma velocidade) por um período maior de tempo antes que a fadiga se instale. Por outras palavras, quando mais correr, melhor corredor se torna.
Claro, com a corrida de longa distância, existem muitos fatores que contribuem para a fadiga muscular, mas se numa maratona, já teve as suas pernas cheias de cãibras na casa dos 30 km, ou sentiu que mal conseguiria caminhar no final de uma dura prova de 5 km, esse processo é parcialmente culpado.
Artigo de Brittany Hembleton