Mais uma revista dedicada ao atletismo que se despede dos leitores! A conceituada revista brasileira “Contra-Relógio” acaba de anunciar que vai cessar a sua publicação. Criada em Outubro de 1993, tinha o objetivo de transformar as provas no país, do caos que reinava, em algo organizado. Havia ainda a intenção de valorizar os corredores e, de certa forma, defender seus interesses. Os objetivos foram atingidos. Como muitos corredores brasileiros disseram: “As corridas no Brasil dividem-se entre antes e depois da Contra-Relógio”.
As razões da cessão da revista são explicadas pelo seu editor Tomaz Lourenço: “A revista viabilizou-se com assinaturas, venda avulsa em bancas e publicidade durante todos estes anos, que é o tripé básico das publicações. Assim foi até 2015/16, quando se iniciou uma queda nessas três fontes principais de receita, em decorrência notadamente do surgimento dos meios digitais, um fenómeno mundial, em prejuízo da mídia impressa. Se não bastasse essa realidade, constatam-se, no nosso segmento especificamente, outras duas forças contrárias para as revistas especializadas, como bem sentiram as que apareceram depois de 10 anos da CR e que foram desaparecendo, mesmo atuando quando as corridas já tinham mudado de patamar, em função da ação da Contra-Relógio, com muitas e boas provas e corredores de melhor receita.
Por um lado, equipas bem estruturadas de treinadores, como vemos hoje, eram raríssimas e apenas em algumas metrópoles. Com a nova fase das corridas no Brasil, elas proliferaram, e os seus associados recebem plena atenção, com orientações técnicas, dicas para viagem, inscrições etc. Com isso, a necessidade de recorrer a uma revista para se informar, fica sem grande importância.
A outra razão está absolutamente relacionada à primeira. Com a melhoria das provas, que a revista ajudou a acontecer e sobre isso não temos a menor dúvida, mudou o perfil dos participantes, não mais tão interessados em performance, mas sim na saúde, estética, convivência e lazer. Este novo corredor não tem, obviamente, motivos para assinar uma publicação que poderia ser resumida ao slogan “Leia para correr melhor e mais rápido”. Ele não quer uma coisa nem outra, mas sim aquelas outras motivações.
Aparentemente seria uma contradição, alguém procurar um treinador, se não tem grandes metas atléticas, mas na prática é isso que acontece, pelo conjunto oferecido pelas equipas de corrida, que, aliás, são um fenómeno bem brasileiro, na medida em que lá fora, elas não são tão populares e/ou não oferecem os serviços aqui disponíveis”.
A pandemia também contribuiu para o fim da revista: “E então chegou a pandemia, para complicar ainda mais toda essa realidade adversa, que enfrentamos nos últimos anos. Para não deixar de publicar a revista, optámos por torná-la bimestral, a partir de abril/maio do ano passado, o que minimizou um pouco o prejuízo, e que significava jogar mais para frente o problema. Também fomos solidários com os organizadores e até com as marcas de ténis, oferecendo publicidade gratuita nas últimas edições, à espera de que as coisas melhorassem, mas o que se viu foi a piora, em função principalmente da incompetência do desgoverno federal que temos atualmente.
Quando fechámos a última edição, em meados de Janeiro, a pandemia não tinha dado sinais de que iria agravar-se ainda mais, e até achávamos que a normalidade poderia voltar em alguns meses, a ponto de terminarmos o editorial, dizendo acreditar que talvez pudéssemos sair mensalmente a partir deste mês. Mas o que se viu a seguir foi o agravamento da situação, por culpa da irresponsabilidade do desequilibrado que está na presidência do país.
Dessa forma, sem perspetivas a curto prazo para a nossa modalidade, que foi uma dos mais prejudicadas, não nos restou outra opção a não ser encerrar esta publicação, mas desde já torcendo para que em breve, tudo volte ao normal e nos encontremos nas provas, correndo lado a lado.”