A 21 de Outubro de 1964, nos Jogos Olímpicos de Roma, o etíope Abebe Bikila, que tinha ficado célebre por ter ganho a Maratona Olímpica de Roma 4 anos antes correndo descalço, triunfou em 2.12.11,2, correndo desta vez com sapatos.
Uma marca extraordinária que lhe permitiu bater o recorde mundial por nada menos que 1 minuto e 43 segundos, levando que médicos estudiosos da componente desportiva tenham declarado que se tinha atingido o limite humano na distância mítica de 42,195 Km.
57 anos depois, no mesmo 21 de Outubro, e é bom frisar isso pois é uma tabela em constante alteração a cada Maratona que se disputa, essa marca está listada como a 2.361ª melhor de sempre. Ou seja, o tal limite humano preconizado, já foi batido por 2.360 vezes, contando apenas as marcas oficiais, sendo que o recorde mundial oficial vale hoje menos 10 minutos e 32 segundos (2.01.39), tendo inclusive sido realizado em 1.59.40 de forma não homologável.
Daqui se afere a fragilidade em colocar rótulos de limite humano.
Vem isto a propósito do inacreditável record mundial feminino de Meia-Maratona que a etíope Letensebet Gidey alcançou hoje em Valência.
Em Fevereiro de 2017, esse recorde estava no minuto 65 (1.05.06), actualmente encontrava-se à beira de entrar no 63 (1.04.02). Mas não chegou aos 63… pois Letensebet parou o cronómetro em 1.02.52, retirando um minuto e dez segundos ao anterior recorde!
Ainda me recordo do espanto que foi atletas femininas entrarem no minuto 65 e agora já se está no 62!
Não cabe aqui aventar hipóteses para esta sucessiva queda de recordes. Claro que se pensa de imediato na nova tecnologia dos sapatos de corrida, tal como sucedeu quando as pistas passaram de cinza a tartan. Mas no fim do dia, é sempre o atleta a conseguir esses cronos, criando a impossibilidade de alguém definir o que são os limites humanos.