A Federação Portuguesa de Atletismo comemora hoje o seu centenário, pouco tempo depois de os atletas nacionais terem conquistado duas medalhas olímpicas em Tóquio, através de Pedro Pichardo e Patrícia Mamona, ambas no triplo salto.
O atletismo em Portugal remonta ao final do século 19, através da influência de imigrantes britânicos.
A revista portuguesa Tiro e Sport forneceu uma breve reportagem sobre uma prova de 15 km em 1895, entre Paço de Arcos e Algés, organizada pelo Walkim Race Club de Algés.
Esta prova, denominada então campeonato português, foi vencida por um Artur dos Santos, e costuma ser considerada a primeira prova de atletismo organizada oficialmente no país. Passou a ser organizado em diferentes locais de Lisboa, numa base anual, durante mais alguns anos.
Entrando no século XX, foram realizadas cada vez mais competições de atletismo durante a primeira década do novo século, mas o fracasso das autoridades portuguesas em enviar representantes aos Jogos Olímpicos de Londres 1908, levou à formação no ano seguinte da Sociedade Nacional de Promoção da Educação Física, sendo um dos seus objetivos garantir a participação nos próximos Jogos Olímpicos.
Posteriormente, o SPEFN organizou os primeiros Jogos Olímpicos Nacionais, que incluíam eventos de atletismo, em 26 de Junho de 1910.
A 7 de Maio de 1911, decorreram os primeiros campeonatos portugueses de corta-mato no Lumiar, vencidos por Francisco Lázaro, campeão português das maratonas de 1908 e 1910, sem dúvida o melhor corredor de fundo do país naquela época.
Tendo conquistado o título da maratona portuguesa pela terceira vez em 1912, Lázaro foi selecionado para ir a Estocolmo como parte de uma delegação olímpica inaugural de seis homens em três modalidades, que incluía também o velocista Antonio Stromp e o corredor de meio fundo Armando Luzarte-Cortesão, este último nas meias-finais dos 800 m.
No entanto, num dia quente em Estocolmo com temperaturas acima de 30 °C, Lázaro caiu aos 29 quilómetros e morreu tragicamente naquela noite.
Apesar da tragédia de Lázaro, o atletismo português continuou a progredir e prosperar nas décadas seguintes, embora de forma bastante lenta.
Nos Jogos Olímpicos de Helsínquia 1952, Portugal teve o seu primeiro finalista numa prova de atletismo quando Rui Ramos terminou em 12º no triplo salto.
Doze anos mais tarde, em Tóquio, Manuel de Oliveira esteve mais perto ainda de conseguir a tão almejada medalha para Portugal ao terminar em quarto lugar nos 3000 m obstáculos.
Carlos Lopes em destaque no corta-mato e maratona
Passaram-se depois mais 12 anos até que Carlos Lopes se tornasse o primeiro atleta português a subir a um pódio olímpico.
Ele liderou durante grande parte da final dos 10.000 m mas acabou derrotado pelo finlandês Lasse Viren.
No entanto, Lopes continuou a conquistar outros títulos ao longo da década seguinte. Ele conseguiu a medalha de prata no Campeonato Mundial de Corta-Mato de 1977. Em 1983, conquistou mais uma medalha de prata no corta-mato, e no ano seguinte, recuperou o título mundial em East Rutherford, New Jersey, antes de alcançar o que muitos consideraram o maior feito do desporto português.
Aos 37 anos, Lopes conquistou a primeira medalha de ouro olímpica ao vencer a maratona de Los Angeles com um recorde olímpico de 2h09m21s, apesar do muito calor que se fez sentir.
Depois em 1985, ele conquistou o seu terceiro título mundial de corta-mato e algumas semanas depois, venceu a Maratona de Roterdão com a melhor marca mundial de 2h07m12s, tirando 54 segundos à anterior marca.
Durante muitos anos, o sucesso do atletismo português foi sinónimo de um leque de corredores de fundo, não apenas de Carlos Lopes.
Fundistas portuguesas em destaque
Rosa Mota conquistou o bronze na maratona de Los Angeles e também conquistou títulos europeus em 1982 e 1986, além do título mundial de 1987.
Ela seguiu os passos de Lopes quando venceu a maratona nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988 e conquistou o terceiro título europeu consecutivo, ainda sem precedentes, em 1990.
Albertina Dias conquistou o título mundial de corta-mato em 1993, enquanto Fernanda Ribeiro conquistou o título europeu dos 10.000 m em 1994 e depois, em 1995, um título mundial na mesma distância em Gotemburgo, antes de conquistar a terceira medalha de ouro olímpica de Portugal em Atlanta. Aurora Cunha sagrou-se campeã mundial de estrada. A vitória de Manuela Machado na maratona do Campeonato do Mundo de 1995 e o título de Carla Sacramento nos 1500 m no Campeonato Mundial de 1997 também demonstraram o quanto as portuguesas estiveram em destaque durante esta década.
Rui Silva atinge o primeiro ouro em pista coberta
No novo milénio, Rui Silva conquistou o título dos 1500 m do Campeonato do Mundo de pista coberta de 2001 disputado em Lisboa, a primeira medalha de ouro de Portugal nestes campeonatos.
No final da década, Naide Gomes e Nelson Évora também chegaram ao pódio. Naide Gomes conquistou o ouro no pentatlo no Campeonato Mundial de pista coberta de 2004 e triunfou no salto em comprimento no mesmo evento quatro anos depois, enquanto Évora conquistou o ouro no triplo salto no Campeonato Mundial de Atletismo de 2007 e nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e, após anos de problemas com lesões, voltou ao topo do pódio uma década depois, quando ganhou o título europeu de 2018.
Continuando a história de sucesso do salto triplo, Pichardo – nomeado para Atleta Mundial Masculino do Ano 2021 – suplantou Évora como recordista português do triplo salto em 2018 quando saltou 17,95 m e foi ainda mais longe quando ganhou o ouro olímpico neste verão com 17,98 m.
Portugal organizador de grandes eventos internacionais
Portugal é também, há mais de um século, um anfitrião voluntário de eventos internacionais de atletismo. Um dos primeiros indicadores disso foi quando uma competição internacional de clubes foi organizada em Lisboa em 1909, com equipas vindas da França e da Espanha.
Cinquenta anos depois, a capital portuguesa foi palco do Campeonato Internacional de Corta-Mato de 1959 e depois, o Campeonato do Mundo de Corta-Mato voltou a ser disputado em Lisboa em 1985, seguido de Vilamoura em 2000.
Um memorável Campeonato Mundial de Atletismo Sub-20 foi realizado em Lisboa em 1994. O Campeonato Mundial de Atletismo de pista coberta de 2001 foi um grande sucesso, enquanto o Campeonato Europeu de Corta-Mato foi realizado três vezes em Portugal, mais recentemente em 2019. Ainda muitas outras competições como a Taça da Europa dos 10.000 m, a Taça da Europa de Lançamentos e o Campeonato Europeu de Corrida de Montanha.