Poucos minutos antes do início da última edição da Corrida das Castanhas em Lisboa, o conhecido atleta do pelotão Guilherme Gonçalves contou-me o que se tinha passado com ele na recente Maratona de Nova York. Estória incrível que terminou por agora e como ele diz, “a morrer na praia!” Fica a esperança de que o seu sonho possa concretizar-se na edição de 2022. Aqui fica o seu relato.
Quando no regresso da corrida do Fim da Europa de 2018, desabafei para alguns amigos que tinha tido um sonho que muito gostaria de concretizar, o qual passava em 2020, ano em que completava os meus 60 anos, conseguir chegar à fasquia das 110 Meias-Maratonas (21,097 km), correr os 42,195 km que coincidiam com a minha 20.ª Maratona na 50.ª Maratona de Nova Iorque!
Para quem não sabe, existem seis grandes maratonas no mundo, as chamadas Six Major: Nova Iorque, Berlim, Londres, Chicago, Tóquio e Boston.
Porque é um sonho de qualquer maratonista correr nestas cidades! Pelo desafio, mas sobretudo, pela energia, carinho e incentivo que sentimos nas ruas, sentimo-nos como heróis!
Porque terminar uma maratona é um grande feito e determina muito quem nós somos!
Porque nos dá confiança e atitude para as outras esferas da nossa vida!
Para além de mim, mais cinco atletas disseram presente e eis que nos abalançámos a um rigoroso sorteio, só alcançado pela nossa resiliência e grande vontade de aí chegar!
Porém, em março de 2020, eis que o coronavírus mudou o mundo como o conhecíamos. Tudo, foi súbita e radicalmente alterado, e a nossa ida a Nova Iorque ficou assim cancelada!
A Endeavor Travel – agência que nos organizou as viagens e reservou hotel, confronta-nos com cinco hipóteses de resolução: Adiar para 2021; adiar para 2022; fazer uma outra qualquer Maratona das Six Major; converter o investimento feito em viagens de lazer e, por último, pedir o reembolso entre 1 e 15 de janeiro de 2021.
Prontamente respondemos, ficando-nos pela primeira opção, a de vir a realizar este sonho em 07 de novembro de 2021.
Tudo parecia correr dentro da normalidade, porém, as restrições de viagem, inicialmente ordenadas pelo ex-presidente Donald Trump, estavam em vigor desde o início da pandemia em 2020 e foram mantidas pelo atual presidente, Joe Biden, que tomou posse em janeiro passado. As restrições ainda se mantinham, mas acreditávamos que em breve, as fronteiras terrestres e aéreas dos Estados Unidos se abririam!
Em 14 de julho passado, cerca das 11h da manhã, recebo um telefonema da Endeavor Travel, a informar que não estava totalmente garantida a nossa presença na Maratona em NY, informando ainda que nesse mesmo dia pelas 18 horas, se iria realizar uma reunião on line a nível internacional, na qual participei. Fui aí inteirado do elevado número de pré-inscrições para participar na 50.ª Maratona de NY em 2020 e de igual modo para 2021, as quais haviam ultrapassado o meio milhão!
Considerando que em cada edição desta prova, o número máximo admissível é de 60 a 65 mil participantes, mas que dada a situação pandémica que ainda se vive, esse número seria reduzido para 30.000 atletas, ficavam assim mais de 470.000 potenciais participantes sem poder realizar a prova. Ficaram automaticamente sem possibilidade de usufruir de qualquer dorsal, todos os participantes da Europa e do Reino Unido!
Depois de ouvir tudo isto, educadamente, com o meu “fraco” Espanhol Inglês, não deixei de lhes contar a minha história!
Destroçado, desliguei a comunicação e sem boas novas para dar aos meus companheiros!
Porém, volvidas cerca de três horas, recebo um telefonema de um responsável da organização, que sensibilizado com a minha história, pergunta-me se queria entrar num “restricted draw” – sorteio de dorsais de eventuais atletas desistentes, ao que respondi não poder aceitar, uma vez que represento 6 atletas e que a concretização deste “sonho” só fazia sentido se tivesse a companhia deles!
É verdade que me disse ser muito difícil, mas que mesmo assim iria tentar! Pediu-me 15 dias – mais 15 dias que admitia serem angustiantes. Porém, ao fim de 3 dias (dia 18 de julho), recebo a “boa nova” por parte da Endeavor Travel, a informar que Portugal iria ter oito dorsais e seis eram para os seis atletas do Clube Ferroviário de Portugal!
Rejubilei e corri a telefonar ao André Coelho, Armando Dias, Gonçalo Rodrigues, Mário Monteiro e Manuel António, valentes atletas que me acompanhariam nesta façanha! Afinal íamos cumprir o sonho!
Chegados a setembro, a Administração Biden, informa que em novembro serão abertas as fronteiras ao turismo. Face a esta notícia, ficámos apreensivos, uma vez que novembro vai de 1 a 30, mas estávamos esperançados que mais nenhum revés nos iria acontecer!
Infelizmente, não fomos bafejados pela sorte e a nova política de viagens dos Estados Unidos, que exige a vacinação para os viajantes estrangeiros, designadamente da Europa e do Reino Unido que se deslocam aos Estados Unidos, apenas se iniciou a 08 de novembro, tendo estes 6 atletas “morrido na praia”, uma vez que a Maratona se realizou no dia anterior, ou seja, no dia 07 de novembro.
Mas a minha família e os meus amigos, esses estão sempre lá, bem presentes (mesmo eu quase não fazendo referência a eles), e mesmo na sombra estão sempre com a boa energia no máximo, a puxar por mim e a apoiar-me. Por esta razão, abalancei-me de novo ao “sonho” não concretizado em 2020 e 2021, pelo que já confirmei presença na 51.ª Maratona de Nova Iorque, que se realizará em 6 de novembro de 2022!
Nesta edição, não seremos os 6 magníficos inicialmente previstos, mas ainda assim, seremos 3!
Quero que estas memórias que transporto e aqui deposito, façam parte do passado! Em 2022, a ver vamos, mas quero estar lá!
Guilherme Gonçalves