O mongol Ser-Od Bat-Ochir nunca ganhou uma medalha mundial ou olímpica. Ele nunca baixou das 2h08m na maratona. Ele nunca ficou nos primeiros quinze lugares numa grande competição mundial.
Mas aos 40 anos, Ser-Od Bat-Ochir já fez algo de muito significativo. Desde o Campeonato Mundial de 2003, ele esteve sempre presente em 14 maratonas de Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos: Paris (63º); Atenas (74º); Helsínquia (61º); Osaka (55º); Pequim (52º); Berlim (29º); Daegu (19º); Londres (51º); Moscovo (35º); Pequim (38º); Rio de Janeiro (91º); Londres (48º); Doha (54º) e Sapporo (desistiu).
A sua única desistência no ano passado levou-o a uma depressão que durou dois meses. Mas já reagiu e tomou uma decisão: quer ser nos JO de Paris o primeiro atleta da história a disputar seis maratonas olímpicas.
Bat-Ochir já correu 74 maratonas até hoje. Em Oregon, no próximo mês de Julho, ele fará a sua 10ª maratona consecutiva em Campeonatos Mundiais. Ninguém chegou perto deste recorde. Na modalidade, apenas dois marchadores, o português João Vieira (11) e o espanhol Jesus Angel Garcia (13), o superaram.
Bat-Ochir descobriu a corrida na escola primária e leva a modalidade a sério desde os 14 anos. “Eu não era muito bom, mas durante os JO de Sydney, assisti à maratona e gostei muito de ver correr durante muito tempo”, disse ele. “Então, disse que teria como meta a maratona nos próximos Jogos Olímpicos.”
Estreou-se na maratona em 2002. Um ano depois, participou no Campeonato Mundial em Paris, marcando 2h26m39s, novo recorde da Mongólia por dez 10 minutos.
Competiu nos seus primeiros Jogos Olímpicos em Atenas em 2004, marcando 2h33m24s para terminar em 74º lugar. Mas para poder correr nos JO de Pequim, ele precisava de um tempo à volta de 2h14m. Todos lhe diziam que ele não seria capaz mas em 2008, conseguiu correr em 2h14m15s, classificando-se para os Jogos. Conseguiu depois melhorar o seu recorde nacional para 2h12m35s em 2010 e 2h11m35s em 2011. No Campeonato Mundial de Daegu em 2011, obteve um novo recorde nacional com 2h11m05s, que lhe deu o 19º lugar.
Em 2014, mudou-se para o Japão, correndo como profissional na equipa corporativa da NTN. Em dezembro daquele ano, ele baixou o recorde da Mongólia para 2h08m50s.
Para os JO de Tóquio, ele conseguiu em fevereiro de 2021 a marca de 2h09m26s. Ele sentia-se em boa forma antes dos Jogos mas dias antes, contraiu uma infeção no hotel onde estava hospedado devido ao ar condicionado. “Quando recuperei, simplesmente não me senti bem”, diz ele. “Toda a minha força, todo o meu poder, foi-se.”
Ele tinha que tentar, no entanto. Na maratona olímpica em Sapporo, Bat-Ochir começou forte, mas depois dos 14 km, ele sentiu os seus quadríceps endurecerem, o que o levou a procurar uma solução incomum, não recomendável. “Eu estava a ter problemas para levantar as minhas pernas e então, tirei um dos alfinetes de segurança do meu dorsal e toquei com ele ou feri os meus músculos quadríceps duas ou três vezes em cada perna. Isso serviu realmente para soltar os músculos e consegui continuar. Mas quando cheguei aos 30 km, eu estava completamente morto e não conseguia continuar. Foi aí que as minhas Olimpíadas chegaram ao fim.”
Ele passou por um período sombrio nos meses seguintes, mas foi a sua esposa, Oyuntuya, que o ajudou a ultrapassar a depressão.
Atualmente, treina 150-200 km por semana, preparando-se para o Mundial de Eugene, onde o seu objetivo é superar o 19º lugar obtido em Daegu.