Jaime Lamego começou a correr aos 42 anos de idade para perder peso. Entusiasmou-se e há 15 anos que não larga o asfalto ou a montanha.
É atleta do Multirunners e já correu 50 maratonas/ultramaratonas. Vai realizar em Setembro um dos seus grandes sonhos: participar no Ultra Trail Mont Blanc. O outro sonho fica para mais tarde.
Jaime de Pina Lamego tem 57 anos e nasceu em Roriz, uma pequena aldeia situada no concelho de Penalva do Castelo, distrito de Viseu
É Técnico de Informática e iniciou-se no atletismo em 2002.“Comecei a correr para perder peso, no início foi difícil, não conseguia correr continuamente, alternava a corrida com a caminhada”.
Jaime acabou por conhecer outros atletas que treinavam no mesmo local que ele, a Mata da Machada, junto a Vale de Zebro. Os incentivos recebidos fizeram-no encarar a corrida com mais seriedade. Daí até começar a participar em provas, foi um pequeno passo.
“Grande tareia” na primeira corrida
Estreou-se na Meia Maratona de Lisboa e o que se passou com ele, passa-se com muitos de nós, corredores do pelotão. “Levei uma grande ‘tareia’ mas gostei muito. Esta prova tem um ambiente fantástico e seja qual for o ritmo, conseguimos ter sempre companhia ao longo de todo o percurso”.
É atleta do Multirunners, equipa do Centro Cultural dos Trabalhadores da SiBS. Treina em média 4 a 6 dias por semana, a maior parte das vezes acompanhado.
Prima pela discrição e educação. Corre em média 25 a 30 provas por ano. Nunca teve um treinador e tem uma opinião curiosa acerca da sua opção: “ Sou um atleta amador que corre por prazer, não faz qualquer sentido ter um treinador. Gosto muito de ler e tento pôr em prática aquilo que vou lendo acerca de todas as envolventes da modalidade, alimentação, suplementação e treino”.
Ultramaratonista
Jaime Lamego é um ultramaratonista. A sua distância preferida é a maratona de estrada e já participou em cerca de 50 maratonas/ultra maratonas. Estreou-se nas longas distâncias no Raid Melides-Troia, em Julho de 2005. “Foi uma escolha arriscada, mas consegui chegar ao fim. O primeiro sentimento após a prova foi que esta tinha sido a primeira e a também a última. Era sofrimento demais, penso que esta é uma reacção comum a todos os estreantes na distância da maratona. Mas no dia a seguir, já andava de volta do calendário de provas para decidir qual seria a próxima. Foi a Maratona de Lisboa em Dezembro desse mesmo ano”.
As provas que mas lhe agradaram até hoje, foram duas ultras maratonas:
– Ultra Maratona Atlântica Melides-Troia, onde é um dos poucos totalistas.
– Madeira Island Ultra Trail, onde participou em 5 das 8 edições na distância maior (100/115km).
“São duas provas muito duras e por isso desafiantes do ponto de vista físico e mental”.
“ Sou um atleta amador que corre por prazer, não faz qualquer sentido ter um treinador”
Organizações que só pensam no lucro
Jaime tem gostado de uma forma geral, de participar em todas as provas. Mas não deixa de criticar algumas organizações. “Não gosto mesmo de algumas organizações que só pensam no lucro e que por isso valorizam em demasia os poucos atletas de top que participam nessas provas, esquecendo-se de quem os sustenta efetivamente, os atletas do pelotão”.
“ Pessoalmente não sou fã de provas de trail muito técnicas que ponham em risco a integridade física”
Momento mais marcante da sua carreira
Para Jaime, o momento mais marcante da sua carreira foi a participação em 2007 nos “Caminhos de Santiago”, prova com cerca de 150 km organizada por José Moutinho, da Confraria Trotamontes. A prova começou em Ponte de Lima e terminou no Santuário de Santiago de Compostela, utilizando os mesmos caminhos e sinalização que guiam os peregrinos. “Fui desafiado pela Chantal Xhervelle, nessa altura ainda não tinha experiência nem endurance para estas loucuras”.
Mas esta nova experiência correu muito bem ao nosso entrevistado pois foi quarto com 14h23m. “A partir daí, entrei numa outra dimensão da corrida, a ultra distância”.
Estrada e trail – o que os separa
Para Jaime, um participante habitual em provas de estrada e trail, as principais diferenças entre ambas residem principalmente no desnível, tipo de piso, distância e equipamento. Refere-nos ainda o facto de as provas de trail serem encaradas de forma mais descontraída e com ritmos mais calmos, com um maior espírito de entreajuda entre os trailers, menos visível na estrada.
Mostra-se reservado quando à questão da segurança: “ Pessoalmente não sou fã de provas de trail muito técnicas que ponham em risco a integridade física, gosto de correr em segurança”.
Pubalgia por culpa própria
Pensa correr até o corpo o permitir e não dispensa o exame médico de rotina anual.
Quanto a lesões, tem sido visitado por aquelas que são habituais nos corredores, canelites, lesões do joelho, inflamação do piramidal e nervo ciático, etc.. nada de muito grave.
A lesão mais difícil de ultrapassar foi uma pubalgia que durou cerca de dois anos. “Sofri deste problema, originado por um erro que também é habitual nos corredores, muitos treinos de corrida e pouco reforço muscular e alongamentos”.
Formação precisa de mais apoio da Federação
Vê o futuro da modalidade com alguma apreensão. “O futuro do atletismo depende do presente e como todos sabemos, o presente não é muito animador”.
Reconhece o bom trabalho efetuado por alguns clubes, apostando nos jovens. “Mas para se fazer campeões, é preciso muito mais apoio a nível federativo. Acredito que há muitos talentos em Portugal, mas eles só aparecerão se forem criadas essas condições”.
Quanto a sugestões para uma melhor organização das provas, Jaime diz-nos que deve-se pensar mais nos atletas do pelotão. “São eles que verdadeiramente dão colorido e animação às provas”.
Se tivermos uma alimentação bem orientada, quase não precisamos de suplementos para a nossa atividade desportiva.
Corrida como terapia
Jaime encara a corrida como uma terapia. “É o melhor anti-stress que conheço, depois de um dia de trabalho. Treinar, liberta-me de tudo o que negativo aconteceu. Por outro lado, as provas são um desafio que tento superar o melhor possível”.
Tem os devidos cuidados com a alimentação. “Procuro alimentar-me de forma equilibrada e saudável, a alimentação é muito importante para um atleta, já dizia Hipócrates ‘Nós somos o que comemos’. Se tivermos uma alimentação bem orientada, quase não precisamos de suplementos para a nossa atividade desportiva”.
Se não estivesse no atletismo, gostaria de ter seguido a canoagem.
Projectos futuros na modalidade
Não faltam sonhos a Jaime Lamego. Um deles vai ser concretizado no dia 1 de Setembro deste ano. “ Vou participar no UTMB, Ultra Trail du Mont Blanc, na distância de 170 km, consegui finalmente ser sorteado”.
O outro sonho por realizar, fica em lista de espera: a participação na Marathon des Sables. “É um sonho caro, mas não impossível. Espero vir a conseguir um patrocínio que me ajude nas despesas”.
Quando a Analice passou por Jaime Lamego no Raid Melides-Troia
Estórias não faltam a Jaime. Relata-nos uma passada na primeira edição do Raid Melides-Troia em 2005. “A dois 2 km da meta, já meio zombie, ultrapassei uma senhora com sinais evidentes de cansaço. Ela ia a caminhar com uma grande mochila às costas e descalça. Já perto da meta, começo a ouvir um grande alarido das pessoas presentes na praia que esperavam e aplaudiam os atletas que iam chegando. Era a senhora que tinha ultrapassado há pouco, tinha renascido e com o incentivo dos espectadores, estava a fazer um grande sprint final. Estupefacto, continuei a minha caminhada para terminar a prova. Ela passou por mim quase em cima da meta, essa senhora era a Analice Silva, uma grande atleta e um ser humano extraordinário. Deus a tenha em descanso”.
Agradecimento a Chantal Xhervelle
A terminar, Jaime Lamego quis fazer um agradecimento público à conhecida atleta Chantal Xhervelle. “Por tudo o que tem feito por mim desde que comecei a dar os primeiros passos na modalidade, pelos ensinamentos, pela amizade e por continuar a ser uma fonte de inspiração e motivação. Obrigado Chantal”.