Usain Bolt deu ontem uma entrevista exclusiva ao “Planeta SporTV”, na Jamaica. Eis as partes principais da sua entrevista.
Em Agosto, Usain Bolt vai despedir-se das pistas no Mundial de Londres antes de completar, no mesmo mês, 31 anos. Na entrevista ao “Planeta SporTV”, Bolt foi direto nas respostas, falou sobre o adeus e ainda voltou às origens ao comparecer no Campeonato Escolar Nacional, justamente onde começou a despontar.
Bolt assiste à prova de Brianna Lyston e fica boquiaberto com sensação jamaicana de 12 anos
Não tem já a mesma motivação
Fica impossível prever como será o mundo do atletismo sem a sua maior lenda. Bolt não vê hoje ninguém capaz de chegar perto dos seus feitos. Quanto ao adeus…
– “Não tenho mais a motivação que tinha, acho que a vida é cheia de capítulos. As pessoas mais bem-sucedidas do mundo estão sempre investindo em coisas novas, não necessariamente por tédio, mas porque conquistaram tudo o que queriam àquela altura da vida. Então têm que seguir em frente e tentar serem tão bem-sucedidas quanto antes. Então, só estou passando de um capítulo para outro” – afirmou Bolt.
Se dependesse apenas da sua vontade, teria parado após a conquista das três medalhas de ouro no Rio (100m, 200m e estafeta 4x100m)
– “Fiz tudo o que eu queria. Se dependesse de mim, teria parado no fim dos Jogos Olimpicos do Rio, porque foi um capítulo que eu fechei. Eu queria ganhar mais três medalhas de ouro. Era o objetivo da minha carreira. Eu trabalhei pelos Jogos Olimpicos para então parar, mas os aficionados queriam que eu continuasse mais um ano. Tinha mais um ano no meu contrato. Então, por que não? Disse isso ao meu técnico, que perguntou se eu tinha a certeza. E nós fizemos um plano que estou seguindo agora”.
Usain detém dois recordes mundiais (9,58s nos 100 m e 19,19s), mas não vê ninguém capaz de batê-los na atualidade.
– “Ainda não vi essa pessoa. Muita gente fala que vai bater o meu recorde, mas não entende o quanto precisa trabalhar para fazer tempos de 9s58 e 19s19. Não é só levantar e correr. Precisei de muito trabalho duro, dedicação e treino. Eu era jovem e estava correndo muito. E na idade e na forma perfeitas para isso. Não é tão fácil quanto eu faça parecer”.
Fábrica de velocistas no Campeonato Nacional Escolar
Mas a fábrica jamaicana de velocistas não pára. E o próprio Bolt foi ao Campeonato Nacional Escolar, onde começou a dar os primeiros sinais do grande atleta que tem sido. São 50 mil pessoas por dia no principal estádio do país assistindo às provas que revelarão novos fenómenos. São 3.100 jovens dos dois sexos dos 10 aos 19 anos, correndo pelo sonho de serem um novo Bolt. As provas ainda são transmitidas em direto pela TV. Quem vence, tem grandes hipóteses de se tornar atleta olímpico.
E as marcas são impressionantes. Entre os rapazes finalistas dos 100m, todos correm na casa dos 10 segundos. Entre as raparigas, uma sensação desponta: Brianna Lyston, 12 anos, aluna da Escola de San Diego High School, de Spanish Town, a segunda maior cidade do país. Brianna ganhou os 100m e 200m no escalão que vai até 13 anos. E os tempos são impressionantes. Nos 200m, bateu o recorde do campeonato, 23,72s, quase um segundo mais rápida do que a segunda classificada. Com 12 anos, ficou a 2,38s do recorde mundial, da americana Florence Griffith Joyner, em Seul 1988. Por essas e outras, vem sendo chamada de Menina Bolt. Este, ao vê-la, ficou boquiaberto, conforme mostraram as imagens.
– “Acho importantíssimo para os jovens e quem apoia isso. Acho que as escolas… são como os Jogos Olímpicos. Você treina e compete no circuito, e então tem um momento em que tudo se resume ao quanto treinou, em como põe isso em prática. É importante para as crianças porque eu já estive lá, sentindo a energia, competindo, vendo lesões, pessoas queimando a partida. É muito importante para todos nós da Jamaica. Vem gente de todo o país para assistir aos jovens e ver o que guarda o futuro.
Usain Bolt, sobre a despedida em Agosto
Bolt garante, com a sua irreverência, que não vai decepcionar os fãs. “Não vou perder, não sou assim. O que odeio mais que tudo é perder, então estou sempre preparado. Nunca chego a uma competição sem saber se posso vencer ou não. Sempre que me virem numa competição, não importa o que esteja acontecendo. Se é no começo de temporada, se tive lesões. Quando apareço para competir, estou sempre pronto. O meu técnico não me permitiria competir sem estar pronto”.