A Revista Atletismo está de luto, pois faleceu esta madrugada o seu fundador, Manuel Arons de Carvalho, figura impar do atletismo nacional que dedicou praticamente toda a sua vida à modalidade e que nos deixou aos 75 anos (nasceu a 15/3/47) depois de ter resistido a doença prolongada, durante mais de sete anos. Embora formado em Educação Física, nunca exerceu as funções de professor tendo estado ligado desde sempre ao atletismo, primeiro como praticante, depois como dirigente do seu clube de sempre – O Sport Lisboa e Benfica – e nas últimas cinco décadas como jornalista especializado, função que desempenhou praticamente até à morte.
Ao longo da sua longa carreira deixou o seu nome associado a muitas publicações, desde O Republica até ao Record, passando por muitos outros títulos, casos do Mundo Desportivo, Jornal do Benfica entre outros. Mas um dos seus principais legados foi a Revista Atletismo que criou em 1981 e dirigiu até 1996, tendo constituído na altura um caso único no panorama das publicações desportivas por ser uma revista dedicada a uma modalidade em exclusivo e sem qualquer apoio publico, vivendo exclusivamente das assinaturas e da publicidade.
Na função de jornalista cobriu praticamente todas as provas do calendário nacional e a quase totalidade dos Campeonatos da Europa e do Mundo, com particular destaque para os Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), Atlanta (1996) e Sydney (2000), onde esteve como enviado especial do Record.Outra das atividades que desenvolveu em paralelo mas com grande empenho, foi a compilação estatística dos resultados do Atletismo Nacional e Internacional, tendo criado na internet uma página própria que mantinha permanentemente atualizada, com praticamente todos os resultados e biografias dos atuais e antigos atletas, constituindo o maior repositório histórico do atletismo, que dificilmente terá continuidade no futuro.
O Arons, embora conhecido pela sua personalidade discreta e algo tímida no contacto inicial, tinha o condão de conseguir fazer amizades e de causar admiração em praticamente todas as pessoas com quem lidava, sendo um verdadeiro exemplo de justiça e lealdade, no seu dia-a-dia e em particular nas opiniões que veiculava através da escrita.Em nome da Revista Atletismo e em meu nome pessoal, eu que o tinha como um dos principais amigos numa amizade que foi cimentada em mais de cinquenta anos, aqui deixo o meu sincero pesar à família enlutada, em particular à mulher Benilde e ao filho Miguel.
O corpo de Arons vai ficar em câmara ardente na igreja de Alfornelos, quarta-feira entre as 9.15 e as 16.15h, seguindo depois para o crematório de Barcarena.
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Nunca o conheci pessoalmente, mas foi uma companhia permanente de mais de 40 anos.
Eu nunca fui praticante de atletismo, não estou por dentro dos meandros do atletismo, mas, hoje, penso que era o único estatístico, que com a sua pertinácia e labor preenchia uma importantíssima vertente de quem ama este desporto, e, por isso, receio bem que, como diz António Campos, seja difícil dar continuidade a essa dimensão relevante do atletismo.
Paz à sua alma e oxalá que surja alguém que ouse trilhar as pisadas do Arons.