Como já foi noticiado, a World Athletics e o Comité Olímpico Internacional anunciaram o formato da nova prova de marcha por equipas mistas, prevista para os JO de Paris. Cada equipe será composta por uma mulher e um homem, que percorrerão a distância da maratona, em quatro etapas iguais, alternando masculino, feminino, masculino, feminino.
Aquando da divulgação da prova, Jon Ridgeon, CEO da World Athletics, disse: “Estamos muito satisfeitos por ter outra estafeta mista no programa olímpico para mostrar as habilidades dos nossos atletas femininos e masculinos num único evento.”
Fica assim excluída a prova de 35 km, depois dos 50 km masculinos terem tido a sua última edição em Jogos Olímpicos em Tóquio. A estafeta da marcha será disputada em 7 de agosto de 2024, seis dias depois das provas individuais dos 20 km, o que permitirá aos marchadores competirem nas duas provas.
Mas parece que os marchadores não ficaram satisfeitos com esta nova prova por estafetas. Em Portugal e Espanha, vários marchadores de nível mundial, já manifestaram o seu desacordo.
Inês Henriques já decidiu ir concentrar-se apenas nos 20 km marcha. Em declarações à Lusa, a atleta afirmou: “Isto não tem qualquer comentário. Primeiro, é uma prova que era para substituir uma prova de longa distância, e é óbvio que 10 mais 10 quilómetros não é uma prova de longa distância, não são os mesmos atletas que vão competir. Ainda por cima, com a diferença de uma semana entre a prova de 20 e esta estafeta… Basicamente, vão ser os atletas de 20 que vão fazer esta prova. Os atletas de longa distância é para esquecer.”
E concluiu: “Com tudo isto, mais parece que os Jogos Olímpicos vão passar a Jogos Sem Fronteiras.”
Já João Vieira afirmou: “Neste momento, o que se está a ver é que os marchadores não estão de acordo com o que a World Athletics quer fazer. Não fomos ouvidos e isto é, em princípio, o início do fim da marcha em termos de Jogos Olímpicos.”
“Foi uma decisão da WA, vamos esperar pelos próximos episódios. Neste momento, esta competição não existe em lado nenhum. Dizem que isto é uma prova bastante popular em corrida, mas não é na marcha. É uma falta de respeito que têm para com os marchadores que tinham vindo a trabalhar para os 35 km neste ciclo olímpico.”
“No caso de um atleta como eu, que há muitos por este mundo fora, que nos últimos anos têm trabalhado as grandes distâncias, é um balde de água fria. Mas, no meu caso, não vou baixar os braços e vou continuar o meu sonho de voltar a representar o meu país nos Jogos Olímpicos, porque ainda há a distância dos 20 km e a estafeta”.
“Neste momento, o melhor que temos a fazer é juntar os marchadores e treinadores de marcha, fazer uma petição e entregar à WA a dizer que estamos em desacordo com esta fórmula que vão entregar ao Comité Olímpico Internacional (COI)”.
Em Espanha, também alguns marchadores mostraram as suas reservas através das suas redes sociais. Diego Garcia Carrera, medalhado de bronze nos 20 km do último Campeonato Europeu em Munique declarou no Twitter: “Tomar uma decisão como esta, a pouco mais de um ano dos Jogos Olímpicos é uma autêntica bagunça. Metade dos meus colegas da especialidade (especialistas de longa distância) estão fora de Paris. As coisas não podem ser feitas assim. A marcha merece RESPEITO.”
Paul McGrath, medalha de bronze nos 10 km do Mundial Sub-20, também mostrou o seu desacordo nas redes sociais. “É vergonhoso e uma falta de respeito com a nossa disciplina. Eles estão destruindo os sonhos de centenas de marchadores e o pior é que eles sabem disso.”
José Antonio Quintana foi direto: “Resumo: vergonhoso e desleixado. Gostemos ou não, mas o indiscutível é que os prazos NÃO são cumpridos e hoje, NÃO há regulamentação.”
Paquillo Fernández, agora retirado, que conquistou a medalha de prata nos JO de Atenas em 2004 e foi vice-campeão mundial por três vezes: ”Risos e falta de respeito pela Marcha Mundial.”
Resta perguntar: o que tem a World Athletics e o seu presidente Sebastian Coe a dizer desta sua decisão sem consultar os atletas?