Mário Leitão tem 46 anos e é atleta do Morcegos Trail. Vive na Ilha de S. Miguel e apresenta um bonito curriculum desportivo, com muitas idas ao pódio. Conhecido pelo ‘Mário Morcego’ ou ‘Super Mário’, já se sagrou duas vezes campeão no seu escalão dos Campeonatos da Ilha de estrada e corta-mato. Terceiro classificado na recente 24 Horas de Mem Martins, é um homem de desafios, estando prestes a terminar o maior de todos a ue se propôs, ‘9 Ilhas a Correr”, faltando-lhe apenas a Ilha do Corvo.
Mário Leitão tem 46 anos e nasceu em Lisboa. Viveu até aos 11 anos em Queluz e foi então, com os seus pais para a Ilha de Santa Maria, nos Açores, devido à atividade profissional do seu pai. Por lá cresceu e já não regressou à metrópole, exercendo atualmente as funções de Agente Principal da PSP, na Ilha de São Miguel.
O desporto fez sempre parte da vida de Mário Leitão. “Andei sempre de bicicleta como qualquer criança do meu tempo, e as corridas sempre fizeram parte da minha atividade física escolar”.
Das voltas à ilha de bicicleta ao atletismo
Com o passar do tempo, os passeios de bicicleta foram sendo maiores. Recorda a vez em que deu a volta à Ilha de Santa Maria na sua BMX e depois, com uma BTT.
O atletismo surgiu de forma mais consistente em 2013, já na Ilha de São Miguel. Mas em 2014, voltou à bicicleta até que em 2015, começaram a disputar-se as primeiras provas de trail na ilha. Não resistiu a uma com 10 km que “ não correu nada bem, não tinha treino suficiente nem fazia o desnível que era necessário para este tipo de prova. Os meus treinos passavam por uns meros 5/7 km na Avenida Infante Henrique e banho no pesqueiro, zona balneária da cidade de Ponta Delgada”.
Atletismo como escape da profissão
Mas o ‘bichinho’ ficou e Mário Leitão nunca mais parou. A corrida, os treinos e o trail são o seu escape da profissão. É atleta do Morcegos Trail, sendo conhecido no mundo do desporto, como ‘Mário Morcego’ ou ‘Super Mário’.
Treina quase todos os dias, habitualmente sozinho. “Por causa dos meus horários, não é fácil treinar (mas não é impossível), porque além dos meus turnos normais, também faço parte da escala dos gratificados ‘extras’.
O seu amigo Ricardo Almeida, fundador e sócio honorário do Morcegos Trail, é o seu treinador. “É a ele a quem recorro para a minha gestão e planeamento das provas e do esforço. Sem ele, não seria possível todas as minhas vitórias e ser finisher das provas ou desafios que tenho participado”.
Mário Leitão vai correndo as provas do Campeonato de Estrada e Corta-Mato da ilha e ainda, noutras provas mais longas ou desafios.
“Gosto das provas de estrada, porque são muito rápidas, onde levamos o corpo aos mais rápidos batimentos cardíacos”
Estreia na estrada com ida ao pódio
Tem boas recordações da sua estreia numa prova oficial de estrada. Foi em 2015 ou 2016, numa prova de 5 km do Campeonato de Estrada da Ilha. “Adorei e ainda fui ao pódio, terceiro do escalão. Foi aqui, também pela mão do Ricardo Almeida que tomei o gosto pela corrida da estrada”.
Corre anualmente entre 20 a 30 provas, a maior parte delas, na ilha onde reside.”Tento fazer o Campeonato de Estrada, Corta-Mato, e todas as meias maratonas na ilha, depois tenho de planear as minhas férias para ir até ao Continente fazer outras, especialmente de Trail”.
Já se estreou numa maratona de estrada mas a experiência não correu muito bem por falta de experiência. Fica a promessa de no próximo ano, repetir a experiência com o objetivo de melhorar a sua marca.
Elege a Meia Maratona e a Maratona de Lisboa, quando ainda estavam integradas no circuito Rock’roll. “Correr e ouvir a música ao vivo, foi uma experiência única”.
“Amo o trail, correr no mato, na montanha, nas ribeiras, nos trilhos, porque entramos em contacto com a natureza”
Distâncias longas
Não tem uma distância favorita mas as provas preferidas passam pelas meias maratonas e distâncias longas de trail. “Gosto de treinar muito para estar bem fisicamente e assim consoante a próxima prova, faço os meus treinos. Mas sem dúvida, que as longas distâncias têm um valor pessoal diferente das outras. Adoro provas longas, a título de exemplo, o Campeonato Ultra Endurance XL, os 300 km do ALUT (Algarviana Ultra Trail), a Trans Peneda e Gerês 165 km e as 100 Milhas de Azores.
Também gostou muito de ter participado no Trail dos Abutres, quando foi Campeonato do Mundo. “Foi bom ver os nossos ídolos e apoiá-los. E no dia seguinte, correr o mesmo percurso e ter alguns dos nossos ídolos a apoiar-nos”.
Já a prova que lhe deixou recordações menos agradáveis foi um Trail na Ilha de São Miguel. “Tentei no dia da prova, resolver uma situação de uma atleta da minha equipa, fui injuriado por um elemento da equipa dessa prova e ignorado pelos restantes elementos. Infelizmente, foi o pior momento que tive no Trail”.
“Gosto da pista, local onde podemos desafiar e bater os nossos recordes pessoais”
Da estrada à pista e ao trail
Mário Leitão gosta de todo o tipo de percursos, da estrada ao trail passando pela pista. “Gosto das provas de estrada, porque são muito rápidas, onde levamos o corpo aos mais rápidos batimentos cardíacos. Gosto da pista, local onde podemos desafiar e bater os nossos recordes pessoais. Amo o trail, correr no mato, na montanha, nas ribeiras, nos trilhos, porque entramos em contacto com a natureza, especialmente como eu costumo afirmar, ‘vamos ouvir os passarinhos, tão bom’”.
Diferenças entre a estrada e o trail
Na sua opinião, são visíveis as diferenças entre a estrada e o trail. Uma delas, passa pela diferença do convívio.“Nas provas de estrada ,como são muito rápidas, há menos convívio durante a prova. No trail, especialmente devido ao desnível, há mais convívio entre os atletas”.
Outra diferença reside no tipo de percursos. “Nas provas de estrada, o local da prova é a via pública. Nas provas de trail conhecemos outros locais e outras belezas naturais”.
“Todos nós, os atletas e os nossos familiares ,criamos laços para toda a vida”
Momentos marcantes da carreira desportiva
É difícil a Mário Leitão falar só de um único momento desportivo que o tenha marcado. Lembra todos os momentos das suas participações em provas como finisher, como dos seus desafios pessoais e a sua conclusão.
Mas há alguns momentos que não se esquecem. Um deles, foi quando se sagrou duas vezes campeão dos Campeonatos da Ilha, no seu escalão de estrada e corta-mato, “sendo o resultado de muita dedicação e esforço”.
Outro momento passou-se nos 200 km do Troia-Sagres, desafio pessoal do Bruno Maia na sensibilização da Saúde Mental, no qual “eu tive o prazer de o acompanhar ao seu lado”.
Lembra ainda a participação na Meia Maratona Ribeira Grande-Ponta Delgada e na Meia Maratona dos Bravos, onde foi terceiro e segundo da geral.
A mais recente teve lugar nas 24 Horas de Mem Martins onde alcançou o terceiro lugar da geral, “numa prova de muito convívio e camaradagem entre atletas e a Organização”.
“Devo ser atualmente o único atleta a ter dado a volta à ilha de São Miguel, a correr e de bicicleta”
Desafio pessoal: ‘9 Ilhas a Correr’
Mário Leitão é homem de desafios. E como gosta de cumpri-los, está prestes a terminar o seu maior, ‘9 Ilhas a Correr” (ver página do seu Facebook). “Tento correr todas as nove ilhas dos Açores pelas suas estradas mais junto ao mar, e neste momento só falta a ilha mais pequena, o Corvo”.
Foi neste desafio que ele correu 204 km na volta à Ilha de São Miguel, superando a sua distância máxima anterior que estava nos 120 km do Epic Trail Run, outra prova que marcou a sua chegada aos 100 km.
“A volta à ilha só foi possível com muitos amigos, familiares e atletas que foram ajudar-me, assim, nunca estive sozinho, juntos foi mais fácil. Com este feito, “devo ser atualmente o único atleta a ter dado a volta à ilha de São Miguel, a correr e de bicicleta”.
“Já quase qualquer localidade tem uma prova, a começar, a acabar ou a passar por ela”
Projetos futuros
Mário João tem alguns projetos a curto prazo. Um deles, é concluir o desafio 9 Ilhas a Correr, e ir novamente à ALUT, percorrendo a prova no sentido original. Para 2024, a sua ambição passa pelo melhoramento dos seus recordes pessoais na meia maratona e maratona.
Para além de algumas provas que estão na sua lista de preferência, tem como alvo, o triatlo ou SwimRun. “Já fiz algumas provas pequenas na ilha de São Miguel e quando não puder mais fazer distâncias mais longas, penso dedicar-me ao triatlo”.
“Tenho feito muitos amigos com a participação nas inúmeras provas realizadas por mim e por eles”
O Trail está na moda
Na opinião do nosso entrevistado, o Trail está na moda em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. “Já quase qualquer localidade tem uma prova, a começar, a acabar ou a passar por ela”.
O Trail é uma boa forma de conhecer todo o território português e a sua gente. Mas atenção: “As provas agora, são um negócio, por isso cabe a nós atletas, escolher as melhores provas, no entender de cada um ou dos seus objetivos pessoais”.
E conclui: “Esta minha última afirmação vai de encontro ao que eu mais tenho recebido das provas, que é conhecer novas pessoas, novas amizades. Tenho feito muitos amigos com a participação nas inúmeras provas realizadas por mim e por eles”.
“Se todas as organizações souberem receber os atletas e seus familiares, é meio caminho para a prova ter valor”
A importância do atletismo na vida social
Mário Leitão fala-nos ainda da importância do atletismo na vida social. “Todos nós, os atletas e os nossos familiares ,criamos laços para toda a vida, sofremos nos treinos, sofremos nas provas todos juntos, mas com enorme reconhecimento entre nós. Estes momentos fazem uma união própria que passa do meio desportivo para o nível pessoal e familiar. Criando uma interajuda que se vê cada vez menos na sociedade portuguesa, na sua generalidade”.
Sugestões para uma melhor organização das provas
Considera haver alguns aspetos a melhorar na organização das provas. Na sua opinião, “se todas as organizações souberem receber os atletas e seus familiares, é meio caminho para a prova ter valor”.
Refere ainda a questão das marcações dos percursos e o ‘reforço’ final alimentar. “Eu gosto dum bom abastecimento final, nem que para isso tenha de pagar mais na inscrição da prova. Porque é no fim das provas, que todos os atletas já podem conviver e trocar ideias da prova que participaram, especialmente das suas peripécias”.
“O Trail e as suas provas tornam o mundo mais pequeno”
Cuidados com a alimentação mas resistir a chocolates e doces…
Tem os devidos cuidados com a alimentação, especialmente nas provas mais longas ou provas rápidas. “Isto porque faz diferença nos resultados finais”. Mas confessa que não tem sido fácil porque gosta muito de chocolates e doces, “verdadeiros inimigos do atleta”.
Mas ele conta uma ‘guardiã’ especial na sua alimentação. “Tenho a sorte da minha ‘nutricionista’ de lá de casa, entende-se minha namorada, gostar dos mesmos alimentos que eu preciso, tornando mais fácil a minha “dieta”.
Colegas de profissão e das mesmas corridas
Quanto a estórias, Mário Leitão tem uma curiosa passada em dois momentos. O primeiro, quando em Outubro de 2021 subiu pela primeira vez a montanha da Ilha do Pico, o ponto mais alto de Portugal. Na descida quase ao chegar ao fim, ele vinha com a sua t-shirt dos Morcegos. A subir, ia outro corredor com a sweet shirt do Epic Trail Run Azores. Então, este lembrou a ajuda dada pelos Morcegos Trail na organização da referida prova. Despediram-se desejando um ao outro, uma boa subida e uma boa descida.
Já em Novembro do mesmo ano, no início da prova do ALUT, Mário Leitão meteu conversa com um atleta. Foram conversando até que o companheiro lhe disse “lá na minha guerra…”. Leitão perguntou-lhe qual era a guerra dele. Ao que ele respondeu que era da PSP. “E eu sou da tua guerra, somos colegas!”
Após o final da prova, Mário Leitão procurou o “colega” no facebook. Ao ver a sua foto de perfil, reconheceu-o logo de imediato porque a sua foto era da subida da montanha e com a referida roupa. “Afinal já tínhamos estado juntos, grande José Duarte!!!” E conclui: “O Trail e as suas provas tornam o mundo mais pequeno”.
“Todos nós, somos iguais como seres humanos, mas a capacidade física e de sofrimento é diferente de corpo para corpo”
Conselhos a quem começa a correr
A terminar, Mário Leitão quis deixar alguns conselhos a quem se inicia na provas de estrada ou trail.
– Não tenha pressa de fazer muitos quilómetros, aquela ou a outra prova.
– Todos nós, somos iguais como seres humanos, mas a capacidade física e de sofrimento é diferente de corpo para corpo.
– As piores lesões aparecem nos primeiros momentos/provas, porque o corpo não foi preparado corretamente por nós, especialmente com a pressa de alcançar objetivos pessoais sem razão.
– Os treinos iniciais são importantes para a continuação da atividade física e satisfação pessoal.
– Para isso, um bom reforço muscular evitará problemas maiores e melhores resultados.
– Tudo a seu tempo, e não esquecer o fator da idade e as limitações pessoais.