Amiga comum abriu as portas a uma conversa com Luís Herédio Costa, treinador da cubana Denia Caballero que escolheu Portugal para continuar a competir após o abandono da delegação cubana em Castellón. Foi uma conversa animada com Herédio muito simpático e sociável. E para além de Denia Caballero, outros temas foram tratados.
Herédio Costa é treinador na área dos lançamentos de 13 atletas, muitos de crédito firmado e jovens esperanças como Edujose Lima, Liliana Cá, Jéssica Inchude, Francislaine Serra, Marlene Araújo, Luís Almeida, Francisco Fernandes. Ainda de Firmino Batista, paralímpico campeão mundial dos 100 m e agora no lançamento do peso.
Herédio já conhecia Denia Caballero. “Foi num meeting da Liga Diamante em Bruxelas. Reparei que a Liliana Cá e a Denia se davam muito bem, muito risonhas. Tirei umas fotos com elas”.
Em janeiro deste ano, a Denia mandou uma mensagem a Herédio. Tinha-se aborrecido com o treinador, se ele aceitava treiná-la. “Passei a mandar-lhe métodos de treino, adequados aos que dava cá à Liliana Cá”.
Mais tarde, Denia perguntou a Herédio se este a treinava se ela viesse para Portugal. Herédio tentou ainda contatar as autoridades desportivas de Cuba mas sem sucesso, nunca lhe responderam. “Eles não aceitaram bem a ideia, eu treiná-la era uma falta de respeito pelos treinadores cubanos”. Na forma de pensar em Cuba, um atleta cubano ser treinado por um treinador estrangeiro, é pôr causa a competência dos treinadores cubanos.
Depois, Denia perguntou a Herédio, se ela fugisse para Portugal, se ele estava disponível para treiná-la. O que acabou por acontecer em Castellón quando teve a possibilidade de ter o seu passaporte na mão e fugir para Portugal.
Denia veio para Portugal à procura de um futuro mais risonho que já não conseguia encontrá-lo no seu país natal. Por exemplo, lá, o Governo fica com 70% dos prémios monetários ganhos em competições internacionais.
Depois de ter sido acolhida por uma família francesa Karine e Jean Michel, ela já tem a sua casa em Torres Vedras. Treina diariamente e já vê um futuro à sua frente. “A Denia Caballero está feliz em Portugal”. Herédio refere a importância de Ana Vieira na receção e acolhimento de Denia.
No SCU Torreense
A muitos, terá sido uma surpresa ela ter passado a representar o Sport Club União Torreense. Porque não o Sporting CP ou o SL Benfica, este já com vários atletas cubanos?
Herédio esclarece. “Contatei o Sporting mas não houve qualquer tipo de interesse”. Já o Benfica, tentou várias vezes que a atleta ingressasse no clube. Denia aceitava mas com uma condição, a de ser treinada por Herédio. O que o Benfica não aceita, não quer nenhum atleta seu treinado por treinadores do Sporting. Curiosamente, este não se opunha que Herédio treinasse Denia se esta fosse atleta do Benfica. E foi assim que ela acabou por representar o Torreense.
Condições de treino agora e no tempo de atleta de Herédio Costa
Herédio, nascido em 1971, filho de um antigo atleta e treinador do Sporting, seguiu as pisadas do pai, destacando-se não só nos lançamentos mas também nas provas combinadas. Fez parte das equipas do Sporting que garantiram a subida ao Grupo A da Taça dos Campeões Europeus de Atletismo nas épocas de 1996 e 1998. Foi atleta internacional e já como veterano, continua a destacar-se, sendo recordista nacional do disco e do peso em pista coberta no escalão M45.
Logo, continuando ligado à alta competição, é uma pessoa habilitada a falar-nos das principais diferenças encontradas entre o seu tempo de atleta e agora.
“Treinava no Sporting com o professor Eduardo Cunha. O dardo era de bambu com ponta de ferro. O ginásio era uma sala de cimento com barras de ferro que não podiam cair no chão. Hoje, temos material mais sofisticado. É possível adquiri-lo através da internet, o melhor que há dos discos e pesos e a preço acessível. Os atletas do Projeto Olímpico vão adquirindo equipamento. Quando abandonam a alta competição, deixam o material”.
O acesso à informação é também muito diferente. “Temos o acesso à internet onde podemos colher mais informação, estamos mais próximos de todo o mundo. Tentamos fazer o que os outros fazem de melhor. As novas tecnologias ajudam muito”.
Também há mudanças nos locais de treino. “Antigamente, tínhamos os estádios do Benfica e do Sporting com pistas de atletismo. Cada um treinava no seu espaço. Agora, treinam todos juntos, de vez em quando, surgem problemas, é diferente”.
Auditoria na Associação Nacional de Atletas Veteranos/ANAV
A nova Direção da ANAV tomou posse em 30 de outubro de 2022. O que encontrou em nada dignifica a anterior Direção. Então, Herédio Costa emitiu o seguinte comunicado enquanto presidente da ANAV:
Eu, Luís Herédio Costa, presidente da Associação Nacional de Atletismo Veterano venho por este meio expor, em nome de toda a direção, a situação em que se encontra esta associação.
No dia 30 de outubro de 2022 tomamos posse para um quadriénio com total foco no desenvolvimento do atletismo veterano, no apoio aos sócios e na apresentação de um calendário competitivo para os sócios.
Em total transparência vou aqui apresentar a situação em que encontramos a ANAV:
1- Conta bancária: saldo de 18 euros à data da tomada de posse.
2- Dívidas para com a Associação de atletismo de Aveiro (meeting Anav), para com a Associação de Atletismo de Leiria (CNPC e CN de Pentatlo), para com a Associação de Atletismo de Lisboa (equipamentos Joma e CNPAL) e pagamento do 3º lugar do Super Clube. O total em dívida perfaz cerca de 10200 €. Algumas dívidas já foram pagas, outras não por falta de documentos de suporte.
3- Receitas: 6000€ verba de apoio da Câmara de Torres Vedras para o CNPAL e 20 000 € por parte da FPA, valor que corresponde às filiações.
4- Património: foram entregues um computador inoperacional, martelões, uma tenda suja, duas tendas insufláveis, bandeiras, roll up, porta lona de pódio extensível estragado, um carimbo, um hotspot, algum equipamento da JOMA, medalhas.
Em falta: uma impressora, algum equipamento da Anav que continua na posse da Direção anterior à demissionária, os resultados das épocas anteriores, os rankings, as estatísticas, os regulamentos, os contactos de fornecedores ou outras entidades públicas, os dados dos filiados, o site da Anav.
5- Decorre atualmente uma auditoria interna, já foram realizadas duas reuniões, está agendada outra reunião para a próxima semana.
Toda esta equipa trabalha Pro Bono em prol do atletismo Veterano, com muitas horas de trabalho nos bastidores. Não deixamos de transmitir a nossa preocupação e total transparência para a situação atual da ANAV, para o bem do atletismo veterano e da salvaguarda dos seus valores e do seu património.
Queria agradecer a vossa compreensão, o apoio de todos os envolvidos que nos ajudam a projetar uma Anav mais forte, o apoio incondicional da FPA em todo este processo de aprendizagem.
Perguntámos a Herédio como está presentemente a situação. Está prevista uma auditoria ou participação ao Ministério Público com o apoio da Federação Portuguesa de Atletismo.
“Quero transparência para mostrar quem estava na ANAV. Gosto de ter tudo certinho em dinheiros. Os valores são diferentes do que nos disseram. Fornecedores por pagar, dinheiro que saía injustificadamente. Quando entrei, havia uma dívida de dez mil euros. Mas já temos as dívidas quase todas pagas, ainda é capaz de sobrar algo. Com boa vontade, pode fazer-se muito. Mostrei que sou pessoa séria, com pouco pode fazer-se muito”.
Quanto ao quadro competitivo, diz: “Antes, havia grande desorganização. Agora, há muitas participações nas provas, os clubes e os atletas confiam em nós”.
Que seja muito feliz em Portugal. É claro que aqui também há muitas coisas erradas, também há injustiças, mas, felizmente, não há ditadura (por enquanto).