Marta Páscoa tem 22 anos e está a estudar Gestão Administrativa há quatro nos Estados Unidos. Atleta do Tãlentos Team” de Setúbal, tem evoluído imenso nas suas perfomances desde que abraçou o atletismo universitário norte-americano. Conta-nos as principais diferenças que encontrou relativamente ao nosso país.
Marta Páscoa é uma jovem de 22 anos nascida em Setúbal e que abraçou o mundo das corridas há sete anos. Agora, está a estudar Gestão Administrativa nos Estados Unidos. Corre na sua Universidade e os progressos têm sido visíveis com várias idas ao pódio nas provas populares em que participou nas suas férias em Portugal.
Marta praticava basquetebol antes de começar a correr. Mas tinha um problema nas costas que lhe dificultava a prática da modalidade. No atletismo, começou por acompanhar o pai. “O meu pai começou a correr, estava gordinho. Eu pensei ‘se ele corre, também sou capaz de correr’. Fiz com ele 40 minutos na primeira vez. Continuei e o meu pai inscreveu-me nas escolinhas de atletismo do Benfica no Barreiro, Edivaldo Monteiro era o treinador.”
A sua estreia na estrada deu-se na Corrida Contra a Fome, prova de 10 km disputada no Parque das Nações. “Corria, andava, corria, andava. Mas acabei”.
“Lá, fazem muito para que os alunos tenham vida fora da escola. Aqui em Portugal, é o dia todo com aulas”
Do Benfica aos Estados Unidos
Marta representou o SL Benfica entre 2016 e 2018. Depois, o Grupo de Atletismo de Fátima em 2019, sempre como federada. Como atleta popular, tem corrido pelos Tãlentos Team, este ano também como federada. Nos Estados Unidos, está federada na sua Universidade Mcneese, onde treina todos os dias com quatro dias a fazer bidiários. Tem o seu treinador e corre naturalmente com um plano de treinos.
Ao contrário do que sucedia em Portugal, tem sido fácil a Marta conciliar os estudos com os treinos. “Nos Estados Unidos, é muito fácil conciliar as duas coisas. Tenho treino das 6 às 8 horas. Escola das 8 horas ao meio-dia. Fico com a tarde para bidiários, ginásio, fisioterapia, etc”
“(Em Portugal) Há muita gente nova a correr fundo e meio fundo, este melhorou muito”
Época desportiva muito intensa
Ao contrário do que acontece em Portugal, a época desportiva é muito intensa nos Estados Unidos. Marta corre todos os fins de semana na pista coberta e ao ar livre entre janeiro e maio. Faz ainda corta-mato duas vezes por mês entre agosto e dezembro.
As suas distâncias preferidas são 5.000 m na pista e 10 km na estrada. Experimentou os 800 m mas não gostou, “é muito rápido para mim”.
Ainda não se estreou na maratona mas é um objetivo. “Quero que a primeira maratona seja em Valência”.
Mundo das corridas é uma família
No nosso país, o Grande Prémio do Natal é a sua prova preferida. Já tentou o trail mas não ficou fã. “Não me ajeito a descer”.
No mundo das corridas, Marta aprecia particularmente o companheirismo. “O sentido de família. Sermos como uma família fora de casa”.
Pensa correr enquanto gostar, se possível, até sempre. ”Quando for uma obrigação e não tiver prazer, já não”.
Não dispensa os exames médicos de rotina e não tem sido visitada pelas lesões. Quanto à alimentação, tenta comer de tudo mas com moderação.
“(Nos EUA)Temos muitas provas às 5ªs e 6ªs feiras, os professores facilitam”
Atletismo com futuro
Marta vê a modalidade com futuro no nosso país. “Há cada vez mais pessoas a aderir ao atletismo. Muita gente nova a correr fundo e meio fundo, este melhorou muito. Fazer atletismo por lazer, isso ajuda”.
Nas sugestões para uma melhor organização das provas, refere a falta de comunicação por vezes existente, dando o exemplo dos Campeonatos Regionais e Nacionais de Veteranos. Na sua opinião, devia haver mais provas na pista.
Meia Maratona à meia-noite na passagem do ano!
Marta tem um desejo de difícil concretização mas não impossível. “Já pensei que se tivesse uma empresa, gostaria de organizar uma maratona à meia-noite na passagem do ano. Com a festa a seguir, fogo de artifício, etc”.
“Na Fisioterapia, temos dois fisioterapeutas à nossa disposição. Está tudo muito perto, não se perde tempo. Se temos uma lesão, somos logo tratadas. Aqui em Portugal, não”
Quando se perdeu num Trail nos Açores e gritou pelo pai
Estórias não lhe faltam. Uma delas passou-se no Açores Challenge Trail. “O meu pai foi à corrida mais longa, eu e a filha do Nuno Lucas fomos fazer a caminhada. Dada a partida, começaram todos a correr. Ficámos admiradas mas a pensar que estavam a correr só nos primeiros metros. Mas não, estávamos enganadas porque metemo-nos na prova de 10 km. Perdemo-nos, andámos para a frente e para trás, fizemos alguns 15 km. Comecei a gritar na brincadeira pelo meu pai. Então não é que ele apareceu mesmo por detrás de nós, numa subida! Acabámos a corrida e aparecemos no filme da prova”.
Ida para os Estados Unidos
A “culpa” de Marta estar a estudar e a correr nos Estados Unidos foi de dois irmãos portugueses que trabalham lá numa empresa. “Eles mandaram uma mensagem quando eu estava no 10º ano. Inscrevi-me a dizer que gostava de ir para lá estudar. Mas ninguém me disse mais nada. Até que no 12º ano, me mandaram uma mensagem para eu falar com eles. Trataram das coisas, acabei por escolher uma escola e fui em janeiro”.
Marta foi então para a Eastern New Mexico. Agora, está numa Universidade do estado de Luisiana, um dos 50 estados do país. A nova Universidade tem 1.500 a 2.000 estudantes praticantes de várias modalidades, contando com 80 no atletismo.
“É tudo mais rápido a tratar-se das coisas. Na secretaria, ficou logo tudo tratado num dia, há menos burocracia do que aqui”
Diferenças no ensino universitário entre os Estados Unidos e Portugal
Para quem estuda nos Estados Unidos, encontra grandes diferenças relativamente ao que se verifica no nosso país. Eis a experiência transmitida por Marta. “Lá, fazem muito para que os alunos tenham vida fora da escola. Aqui em Portugal, é o dia todo com aulas. No ano passado, tinha uma disciplina em que era só eu e o professor. Temos aulas só com 7/8 alunos.
– É tudo mais rápido a tratar-se das coisas. Na secretaria, ficou logo tudo tratado num dia, há menos burocracia do que aqui.
– As aulas acabam às 3 horas da tarde. Também têm aulas à noite, das 18 às 23 horas para quem estuda e no sistema online.
– Temos muitas provas às 5ªs e 6ªs feiras, os professores facilitam”.
Atletismo universitário nos Estados Unidos
– Há Conferências Regionais e Nacionais Universitários com a participação de escolas e clubes. As escolas estão divididas em três divisões. Na primeira divisão, temos umas 300 escolas, o mesmo na segunda divisão.
– As provas na Conferência são tão competitivas como os Campeonatos Nacionais em Portugal.
– A Universidade onde estava, era da Divisão 2. Era mais pequena, no número de alunos e dinheiro. Agora, estou na Divisão 1.
– Na Fisioterapia, temos dois fisioterapeutas à nossa disposição. Está tudo muito perto, não se perde tempo. Se temos uma lesão, somos logo tratadas. Aqui em Portugal, não.
– Antes de ir para os Estados Unidos, estudei em Lisboa e treinei no Benfica. Era muito difícil conciliar a escola com o atletismo e os transportes.
Grande evolução desportiva de Marta
Agora de férias em Portugal, Marta tem participado nalgumas provas populares com várias idas ao pódio. “Notei uma grande evolução. Dei um grande salto nesta escola. Fazia os 5.000 m em 18m53, agora faço em 17m33s. O treino agora é muito diferente do anterior. Na Divisão 2, os mínimos nos 3.000 m obstáculos são de 11m02s. Na Divisão 1, já fiz 10m59s.
Não foi fácil a Marta a integração na primeira Universidade. “As pessoas eram muito individualistas, não se ajudavam. Nesta nova escola, é tudo diferente. O treinador toma conta de nós. Estamos todos juntos, jantares de equipa, convívios de equipa. Depende do local onde estamos.
Na Divisão 1, temos primeiro a Conferência. Aos Regionais, vão os melhores. Nos Nacionais, também”.
Integração social nos Estados Unidos
Na minha nova equipa, temos experiências parecidas. Há muitos alunos de vários países. Na outra escola, só eu é que era estrangeira”.
A segurança nos Estados Unidos
Marta também encontrou diferenças a nível de segurança nos dois locais onde tem residido. “Agora, é muito tranquilo, no estado de Luisiana. A cidade Lake Charles é pequena, parecida com Setúbal, tem muita gente reformada e estudantes. No Novo México, tínhamos sempre de estar de olho aberto, vigilantes. Agora, é diferente.
Corro na rua, ninguém diz nada. Antes, treinávamos na rua e metiam-se connosco. Agora, o treinador acompanha de bicicleta os nossos treinos”.
Marta acaba a licenciatura de quatro anos em dezembro. Mas não a sua ‘aventura’ norte-americana pois já está a pensar fazer lá o mestrado que tem a duração de um ano.