Ana Rebelo tem 30 anos e é atleta do Run Tejo desde 2018. Numa família onde o pai e o irmão também correm, tem registado uma evolução muito agradável, tendo já superado a barreira dos 40 minutos aos dez quilómetros. Reconhece a importância de correr na pista na sua evolução desportiva. A S. Silvestre da Amadora e a Corrida das Fogueiras são as suas provas preferidas.
Ana Rebelo tem 30 anos e nasceu em Aveiro. Bancária, é atleta do Run Tejo desde 2018. Numa família onde o atletismo é o desporto rei, o seu pai e irmão são também corredores, Ana habituou-se a sair desde pequenina com os pais. Fazia caminhadas com o irmão e a mãe. Aprendeu a conviver com eles, o espírito da prática desportiva.
Não ao atletismo aos oito anos de idade
Mas não gostou da sua primeira experiência no mundo das corridas. “Aos oito anos, o meu pai inscreveu-me no atletismo do Torreense mas não gostei da experiência, eu queria era brincar, não ter essa responsabilidade depois da escola”. Entre outras atividades, foi fazendo dança até que em 2014, achou que estava a ficar gordinha. Inscreveu-se num ginásio e começou a correr na passadeira, primeiro dez minutos, depois até uma hora. Como era cansativo estar tanto tempo na passadeira, começou a correr na rua. O pai, Luís Rebelo, que já corria há muitos anos, viu-a correr e perguntou-lhe se queria ir com ele a uma corrida popular.
“Agora, sou uma viciada, a corrida faz parte de mim”
Estreia em 2014 na Corrida do Tejo
Foi assim que Ana Rebelo passou a ser uma praticante habitual da corrida. Num país que é o mais inativo da Europa e onde 79% da faixa etária dos 25 aos 39 anos não faz exercício físico, Ana estreou-se em 2014 na Corrida do Tejo. “Demorei uma hora, estava muito calor. Custou-me mas gostei. Continuei, o meu pai dava-me então planos de treinos. Agora, sou uma viciada, a corrida faz parte de mim”.
Leva o atletismo a sério, treinando 6/7 vezes por semana. “Queria melhorar os meus desafios, queria evoluir. Decidi então juntar-me a uma equipa. Como conhecia atletas do Run Tejo, acabei por ir para lá”. Carlos Freitas é o seu treinador do clube desde 2018.
Com vontade, concilia os treinos e corridas com a sua atividade profissional. “Concilio sempre. Ou acordo muito cedo e vou treinar antes do trabalho. Mas habitualmente, corro depois do trabalho. Os treinos mais intensos são ao final do dia, na companhia dos meus colegas do clube”.
“As provas de pista ajudam a melhorar muito os tempos dos 10 km estrada”
S. Silvestre da Amadora e Corrida das Fogueiras nas suas provas eleitas
Ana corre em média 15 a 20 provas por ano. Elege duas como as suas preferidas, pelo ambiente e pelo público. A S. Silvestre da Amadora e a Corrida das Fogueiras em Peniche. Correu a primeira S. Silvestre da Amadora em fevereiro de 2022, a edição adiada de 2021 devido à pandemia. Não se esquece do apoio recebido na célebre subida dos Comandos: ‘Vamos princesa, tu és capaz!’ Nas Fogueiras, Ana habituou-se a correr as Fogueirinhas até dar o salto para a prova maior.
Já os 10 km integrados na Meia Maratona da Ponte 25 de Abril foi a prova que lhe deixou recordações menos agradáveis .“Estava muito calor, não tinha blocos de partida, não se podia aquecer, só se fosse do grupo dos Vips. Ao sétimo quilómetro, tive de parar. Foi a prova que mais me marcou pela negativa”.
“Gosto do espírito de equipa, o treino em grupo”
Da estrada à pista
A estrada e a pista são os palcos preferidos de Ana com os dez quilómetros em estrada a serem a sua distância preferida. Mas recentemente, começou a gostar de correr na pista. “É importante, estou a gostar muito. Nas provas de pista, vamos ao nosso limite, corro 800 m e 1.500 m. As provas de pista ajudam a melhorar muito os tempos dos 10 km de estrada”.
Por agora, Ana vai dando prioridade a provas até dez quilómetros. Ainda só correu três meias maratonas, na “brincadeira”. A maratona ainda está longe dos seus objetivos mas está nos seus projetos, daqui a uns anos. Quanto ao trail fez uma única visita. “O meu pai é militar, estive num trail organizado pela tropa. Fui numa de brincadeira mas dei por mim na frente com uma colega. Fiquei muito cansada”.
Momentos marcantes da carreira desportiva
Na sua carreira desportiva, Ana tem até agora dois momentos inesquecíveis. Um, na última edição da S. Silvestre de Corroios, onde baixou finalmente dos 40 minutos aos 10 km. O outro, na sua primeira prova internacional, os 10 km integrados na Meia Maratona de Madrid, onde correu com o seu namorado António Boné.
“Pomos um objetivo na nossa mente e se batalharmos por ele, torna-se possível”
Cuidados com a alimentação
Tem os devidos cuidados com a alimentação. “A comida tem muita influência. Não bebo álcool. A alimentação é à base de grelhados e cozidos”.
Não dispensa os exames médicos de rotina e quanto a lesões, só as sentiu no início da carreira. “O corpo adapta-se. Faço massagem, alongamentos. Se sentir algo, abrando. Não me deixo arrastar. As provas de pista ajudam a melhorar muito os tempos dos 10 km estrada.”
E se não estivesse no atletismo, qual a modalidade que estaria a praticar? Depois de uma pequena hesitação, escolhe a dança. “Antes, andei na dança, zumba. Também andei de patins. Talvez optasse pela dança”.
“Hoje em dia, os atletas não têm o espírito de sacrifício de antigamente. Os apoios também não são os mesmos”
A superação e o espírito de equipa
Como sucede com a maior parte dos atletas com a paixão da corrida, Ana pensa correr até o corpo lhe deixar.
No futuro, pensa continuar a atingir os seus objetivos pessoais, superar as suas marcas. “Para já, melhorar a marca dos dez quilómetros. Também tinha o objetivo de baixar da hora aos 15 km, nas Fogueiras, em Peniche, e já consegui”.
No mundo das corridas, aprecia particularmente a superação e o espírito de equipa. “Pomos um objetivo na nossa mente e se batalharmos por ele, torna-se possível. Gosto do espírito de equipa, o treino em grupo”.
Assédio sexual
No mundo do atletismo, são muitos os relatos de assédio sexual, não apenas em Portugal mas também em países com outra cultura desportiva como os Estados Unidos ou Grã-Bretanha.
Ana também já foi vítima de situações menos agradáveis. “Uma vez num treino às seis horas da manhã, fui assediada por rapazes de carro. Vim-me aflita para sair da situação. Mandam piropos, às vezes são mal educados. Já fui alvo de algumas perseguições. Tinha o Strava aberto a toda a gente. Um dia fui treinar e um senhor meteu-se comigo. Recebo mensagens, ‘não te tenho visto no passeio marítimo’. O Strava já pode ocultar por onde corremos. Quando treino sozinha, procuro ir para zonas mais abertas, com muitas pessoas”.
Futuro sombrio na modalidade
Ana encara com pessimismo o futuro da modalidade. Na sua opinião, “Hoje em dia, os atletas não têm o espírito de sacrifício de antigamente. Os apoios também não são os mesmos. Se isto não der uma grande volta, não vamos longe. O nível não é tão bom”.
Quanto a uma melhor organização das provas, considera que as Organizações deviam ouvir a opinião dos atletas. “Às vezes, falta isso. Quando há algo que não correu bem, deviam tentar saber o porquê”.
A terminar, Ana exprimiu o seu maior desejo: “Quero continuar a fazer esta modalidade e ter comigo as pessoas que amo para o resto da vida.”