O Lusitânia de Lourosa Futebol Clube completa cem anos no próximo mês de Abril. A Secção de Atletismo foi criada em 2017, dando continuidade ao excelente trabalho desenvolvido pela Lourocoop. Hugo Mendes é o presidente do clube que conta com 59 atletas federados.
O Lusitânia de Lourosa Futebol Clube foi fundado em 24 de abril de 1924, completando cem anos na véspera do 50º aniversário do 25 de Abril.
O atletismo apareceu no clube mais recentemente, em Outubro de 2017. Na primeira época 2017/2018, com 30 atletas federados.
Mas há toda uma história do atletismo ligada à extinta Lourocoop. Paulo Fernandes, um dos atuais responsáveis da Secção de Atletismo, explica-nos: “O atletismo na freguesia de Lourosa teve como fundadores, Saúl Fernandes e Carlos Parino. Em 27/08/1977, teve lugar a inauguração da Lourocoop e nesse dia, realizou-se o nosso primeiro Grande Prémio de Atletismo. A partir desse dia, iniciou-se a nossa atividade, na área do atletismo, movimentando um grande número de atletas, participando em Grandes Prémios, Campeonatos de Estrada de Marcha Atlética, Campeonatos de Corta Mato a nível Distrital, Nacional, Europeu e Mundial.
Participámos ainda, em Campeonatos de Pista ao Ar Livre e Pista Coberta, nos quais, conquistámos centenas de títulos individuais e coletivos em todos os escalões etários.
Assim graças a esse trabalho realizado numa época em que a Lourocoop tinha um grande número de consumidores, foi possível realizar um importante trabalho, na formação de centenas de atletas. Tendo, neste período de 40 anos, passado pelo Atletismo, 580 atletas masculinos e 435 femininos, no total de 1.015 atletas. A filosofia de base do atletismo que perdura até aos nossos dias, baseia-se não só na formação desportiva de todos os atletas, mas também com foco no saber ser e no saber estar”.
Da Lourocoop ao Lusitânia de Lourosa
Mas em 2015, Saúl Fernandes, principal fundador e dinamizador do atletismo da Lourocoop entre outras atividades na freguesia de Lourosa, foi acometido pela doença de alzheimer que já se andava a instalar de uma forma subtil e silenciosa. Associado ao problema de saúde de Saúl Fernandes, juntou-se o agravamento da situação financeira da cooperativa de consumo.
Então, para manter de pé o atletismo em Lourosa, formou-se um grupo composto por Paulo Fernandes, Susana Botelho, Armando, Amadeu, Renato e Ana Mota.
Como já não era possível contar com o apoio incondicional da cooperativa de consumo, foi necessário dar largas à imaginação. Criaram-se várias iniciativas, como ‘12 horas em Movimento’ e ‘curso de suporte básico de vida’, de forma a darem a conhecer um novo dinamismo e ter alguma receita disponível para as despesas da Secção.
Em 2017 a Lourocoop – Cooperativa de Consumo fechou a sua atividade comercial por insolvência. A Secção de Atletismo aceitou então o convite do presidente do Lusitânia de Lourosa, Hugo Mendes, e passou a ser uma das modalidades do clube, ‘mantendo a mesma filosofia de base do atletismo, apostando na formação de atletas e formação da pessoa enquanto ser humano’.
Sendo o dia 11 de outubro de 2017, a data oficial em que o clube foi federado na Federação Portuguesa de Atletismo, na primeira época 2017/2018 foram 30 os atletas federados e passados 7 anos o clube duplica o número de atletas federados”.
800 praticantes em seis Secções
Hugo Mendes é o atual presidente do Lusitânia de Lourosa que tem 1.200 sócios. Com a sua sede, o clube tem seis Secções em funcionamento que movimentam cerca de 800 praticantes: Atletismo, Boxe, Ténis de Mesa, Hipismo, Cicloturismo e Futebol Masculino (formação, seniores e veteranos), Futebol Feminino (seniores), Futsal Masculino (formação e seniores) / Futsal Feminino (formação e seniores).
Paulo Fernandes e Susana Botelho são os responsáveis da Secção de Atletismo que conta com 59 atletas federados.
Tem sete treinadores, Ana Mota, Liliana Amorim, Jorge Vilar, David Malva, Gilberto Brito, Margarida Melo e Célia Valente.
O clube está mais vocacionado para as provas de pista, mas também participa em provas de estrada, trail e corta-mato.
Organiza também o Torneio Cidade de Lourosa em Pista que movimenta cerca de 300 atletas.
“Quando o clube sente que o atleta dá tudo o que tem/pode, independentemente do resultado obtido, o clube só tem de se sentir orgulhoso pelo esforço pessoal do atleta”
Pódios nos Campeonatos Nacionais de Pista e Jogos da CPLP
Vários atletas do Lusitânia de Lourosa têm obtido resultados de relevo em Campeonatos Nacionais de Pista. Paulo Fernandes destaca as medalhas já conquistadas:
– 1 Medalha Ouro por Margarida Melo em Veteranas, no salto em comprimento, em 2020 na Pista Coberta de Pombal.
– 1 Medalha de Prata pela estafeta 4×400 m na Pista da Maia em 2021.
– 5 Medalhas de Bronze: por Daniel Rodrigues no Nacional de Juniores de lançamentos longos, em 2020 na Pista de Vagos; estafeta 4×400 m em Sub-23, em 2019 na Pista de Vagos; por Elisa Fernandes, em representação da seleção de Aveiro no lançamento do peso do Meeting Jovem de seleções, em 2019 na Pista de Febres; por Filipa Fernandes, em representação da seleção de Aveiro no salto em comprimento, no Inter-Associações de Infantis, em 2020 na Pista de Lourosa; e Gustavo Pinho, em representação da seleção de Aveiro na estafeta Medley, no Torneio Nacional Olímpico Jovem, em 2023 na Pista de Lagoa
A nível internacional, o grande destaque vai para Arsénio Rocha que conquistou duas medalhas nos Jogos da CPLP disputados em São Tomé e Príncipe, em 2018. Uma de ouro nos 100 m e outra de prata na estafeta 4×100 m.
“Que todos os intervenientes no processo façam o seu melhor, resultando em satisfação plena para todos”
Lusitânia de Lourosa FC
Concelho: Santa Maria da Feira
Ano fundação: 1924
Presidente: Hugo Mendes
Sócios: 1.200
Atletas: 59
Técnicos: 7
12 atletas nos Rankings Nacionais de 2022/2023
Para Paulo Fernandes, “quando o clube sente que o atleta dá tudo o que tem/pode, tal como diz o velho ditado ‘quem dá o que pode a mais não é obrigado’, independentemente do resultado obtido, o clube só tem de se sentir orgulhoso pelo esforço pessoal do atleta. O entusiasmo, a evolução, o aperfeiçoamento, são atitudes muito valorizadas pelo clube, claro que os resultados são importantes mas não são tudo”.
Na época 2022/2023 a Federação Portuguesa de Atletismo publicou os Rankings Jovens, elaborados para os escalões de sub-14, sub-16, sub-18 e sub-20, onde o Lusitânia de Lourosa tem 12 atletas no Ranking dos melhores Jovens de Portugal.
De salientar, o atleta João Santos, líder nacional em duas provas. A atleta Filipa Fernandes com 15 anos, já consta do Ranking de Sub-16, Sub-18 e Sub-20. Inês Reis atleta Sub-16, também consta do Ranking de Sub-18. Elisa Fernandes e Gustavo Pinho sendo Sub-18, também constam do ranking de Sub-20.
A estafeta masculina Sub-14 de 4×60 m, é quarta no Ranking Nacional, onde também faz parte a equipa feminina Sub-14 de 4×60 m.
No escalão Sub-20, a estafeta masculina de 4×100 m faz parte do Ranking Nacional, tal como a equipa masculina de 4×400 m.
São 12 atletas que fazem parte do Ranking Nacional, demonstrativo do excelente trabalho que tem vindo a ser feito a nível da formação, pelos atletas e treinadores.
Objetivos definidos para esta época
Paulo Fernandes define os objetivos para esta época. “São os mesmos para todas as épocas…que todos os intervenientes no processo façam o seu melhor, resultando em satisfação plena para todos. Ter o maior número de atletas com mínimos de participação nos Campeonatos Nacionais e participar na fase de Apuramento dos Campeonatos Nacionais de Clubes de Pista Coberta e ao Ar Livre que atualmente está ameaçada pela criação de uma nova norma da Federação Portuguesa de Atletismo.”
“Estas medidas são um ato de discriminação para com os clubes com menor poder financeiro e com menos recursos e vai acabar com os clubes pequenos”
Norma polémica da Federação para os Campeonatos Nacionais de Clubes
Tal como outros clubes, também Paulo Fernandes é crítico para com a Norma imposta pela Federação para a participação nos Campeonatos Nacionais de Clubes desta época e que reproduzimos a seguir:
“A taxa de inscrição nos Campeonatos Nacionais de Clubes em Pista Coberta e Ar Livre tem um custo de 25 euros por equipa inscrita.
Nas fases de apuramento da Pista Coberta e Ar Livre, mantém-se a obrigatoriedade de cada equipa ter de participar nas disciplinas individuais, obrigatoriamente, com um mínimo de 7 e 10 atletas (Pista Coberta e Ar Livre, respetivamente), tanto na competição masculina como na competição feminina.
Acresce que as equipas que participem na fase de apuramento dos Campeonatos Nacionais de Clubes em Pista Coberta e Ar Livre e não tenham no mínimo 5 atletas na Pista Coberta e 7 atletas na Pista Ar Livre que realizem as marcas de pontuação definidas, será cobrada uma taxa adicional de 150 euros”.
Para Paulo Fernandes, “estas medidas são um ato de discriminação para com os clubes com menor poder financeiro e com menos recursos e vai acabar com os clubes pequenos.
Os clubes pequenos já têm dificuldades em arranjar patrocínios, a presença no Apuramento do Nacional de Clubes é uma forma de arranjar apoios e motivar os atletas”.
“Gostaríamos que os responsáveis políticos portugueses tivessem outra visão sobre o Desporto, no caso concreto no concelho de Santa Maria da Feira”
Sem um orçamento fixo
A Secção de Atletismo não tem um orçamento fixo. Segundo Paulo Fernandes, “tudo é articulado/gerido de acordo com a realidade do momento, mas sempre com segurança. A título de exemplo, na época passada o clube não pôde contar com o apoio de um patrocinador que já se tinha comprometido connosco (por razões que escaparam ao controle do próprio). Se não tivéssemos capacidades de gestão flexíveis, iria correr muito mal”.
O clube conta com o apoio da Câmara Municipal no pagamento das inscrições e filiações dos atletas da formação e todos os escalões femininos. A Junta de Freguesia dá apoio logístico.
A nível privado, conta com o apoio de várias empresas, nomeadamente, Mestre da Cor, Mcdonalds, Sersan, Azevedos Indústria e Metalúrgica de Lourosa.
Mais algumas receitas são obtidas através das mensalidades dos atletas e de um bar que funciona na pista de atletismo de Lourosa quando se realizam competições. Ainda, outras atividades que criativamente se organizam para esse objetivo.
No final, “chegam para viver e sobreviver porque se faz uso da criatividade/inteligência. Contudo, não chegam para conseguir levar o clube mais longe, porque ficamos em franca desvantagem em comparação com outros que estão extremamente bem apoiados financeiramente”.
Os apoios aos atletas passam pelos equipamentos de treino, pelas inscrições, filiações, seguros e transporte para as principais competições.
“E também sabemos que a cultura futebolística tem sempre uma maior atenção”
Faltam mais apoios da autarquia local
Paulo Fernandes lamenta a falta de mais apoios da autarquia local. “O atletismo do Lusitânia de Lourosa está inserido em Santa Maria da Feira, que tem imensos clubes de atletismo. Tal como se percebe, a Câmara não consegue dar o apoio merecido a cada clube porque tem muitos clubes. E também sabemos que a cultura futebolística tem sempre uma maior atenção. No entanto, à volta (de Santa Maria da Feira), existem clubes de atletismo em autarquias que os conseguem apoiar monetariamente, de forma a que, por exemplo, eles consigam oferecer condições monetárias a atletas, com as quais não podemos competir”.
Quando um “jovem clandestino” corria com o equipamento do Lusitânia de Lourosa
Estórias não faltam ao Lusitânia de Lourosa. Como a de um jovem que gostava tanto do Lusitânia de Lourosa, que participava nas provas de estrada intitulando-se atleta do clube, equipando-se como tal. Só que ele não era atleta do clube! “Começaram a falar connosco sobre esse nosso suposto atleta que nem conhecíamos mas que entusiasticamente nos publicitava nas redes sociais dele. Tivemos todo o gosto em o conhecer e perceber esta atitude dele e já está connosco oficialmente há duas épocas”.
Outra visão do desporto, precisa-se!
A terminar, Paulo Fernandes deixou uma sugestão. “Gostaríamos que os responsáveis políticos portugueses tivessem outra visão sobre o Desporto, no caso concreto no concelho de Santa Maria da Feira. Que a Câmara Municipal fizesse o que já deveria estar feito há quase 20 anos, os balneários e as bancadas na Pista Municipal de Lourosa, obras essas prometidas ao longo dos anos”.