Os centros de treino têm sido citados como locais de exploração sexual e abuso físico das atletas no Quénia.
Um relatório do Comité Ministerial sobre o bem-estar de género e equidade no desporto revelou que os referidos centros são maioritariamente geridos por homens.
Gerry Kweya, do Comité, disse que mesmo nas equipas femininas, 76% dos dirigentes e equipas técnicas são homens, sendo os restantes 24% mulheres.
O relatório revelou ainda que 80% das federações são dirigidas por homens, restando apenas 20% de mulheres.
Tal, deixa as atletas, que na maioria das vezes, são jovens e inexperientes, sob a mercê dos treinadores, colegas de equipa e dirigentes que foram listados como os principais abusadores.
É preocupante que 57% das entrevistadas tenham admitido que o abuso aconteceu por mais de dez vezes.
“Os abusos nos centros de treino são alimentados pelo facto de estas meninas terem sido entregues aos treinadores pelos seus próprios pais e não terem ninguém a quem recorrer”, disse Kweya.
A Comissão revelou ainda que os abusos também foram denunciados durante as viagens internacionais, especialmente nos balneários e nos restaurantes e bares.
O relatório revelou ainda que a maioria das vítimas prefere não denunciar os casos. 43%
das vítimas indicaram que guardaram silêncio, 29% consideraram que não era importante, enquanto 14% referiram que falaram sobre o assunto, mas nenhuma ação foi tomada.
Kweya disse que os abusos foram normalizados pelas partes interessadas, incluindo as vítimas e os seus companheiros de equipa, dando ao vício uma oportunidade de florescer.
Entre as razões para esta situação, estão a falta de educação, pobreza e experiência das atletas. 48% das vítimas tinham concluído o ensino secundário, enquanto 49% tinham o ensino pós-secundário.
A pesquisa realizada em outubro de 2020 teve como alvo 486 atletas de modalidades como o atletismo, o rugby, o voleibol e o andebol.
Kweya disse que a situação estava a agravar-se devido à falta de relatórios policiais e de políticas e estruturas do Ministério Público. A Comissão recomendou o encerramento dos centros de formação e, em vez disso, estabelecer uma parceria com o Ministério da Educação para identificar escolas que incorporarão a formação a nível escolar.
Alternativamente, o Comité instou o Ministério dos Desportos a ter os centros geridos por mulheres e a identificar ainda mais atletas retiradas que possam treinar os talentos em ascensão.
“Também precisamos de treinar as atletas na identificação dos abusos antes mesmo de começarem”, disse Kweya.