Usain Bolt é o 7º no ESPN World Fame, o ranking com os 100 atletas mais famosos do mundo
O “ESPN The Magazine” publica uma interessante reportagem com o homem mais rápido do mundo, numa festa em Manhattan. Dado o seu interesse, reproduzimos seguidamente as partes mais interessantes. Os subtítulos são da nossa autoria.
Confissões de Bolt numa festa
“Promovendo uma festa em Maio, da Kentucky Derby para um de seus 16 patrocinadores corporativos, Bolt havia encontrado um recanto calmo para descansar com o seu melhor amigo e gerente, Nugent Walker. Em menos de 5 minutos, uma multidão de convidados aproximou-se, armada com os seus telemóveis, num frenesim de filmagens, tweetes e snapchats.
A resposta de Bolt foi aumentar a voltagem do seu sorriso. Ele posa com gosto. Os seus ombros largos sacodem ao som do reggae dancehall. Não tivesse ele usando um blazer roxo sobre uma camisa branca brilhante, calças e ténis, Bolt poderia facilmente estar alcançando a linha de chegada em outros Jogos Olímpicos.
Últimas corridas em homenagem aos seus fãs
Falta um mês para o atleta de 30 anos começar a volta final da sua carreira como corredor, participando numa série de competições que chegarão ao fim no Campeonato Mundial de Londres, em Agosto. O grand finale de Bolt vai-lhe cobrir com apenas uma fração das aclamações dos JO do Rio de Janeiro, no ano passado, quando ele ganhou três medalhas de ouro nos 100 m, 200 m e 4×100 m, realizando o feito impressionante de ganhar tudo em três Jogos Olímpicos consecutivos.
Então, porque é que Bolt não se retirou naquele momento, no auge da sua fama? O que resta ser conquistado pelo homem mais rápido do mundo?
A resposta está nessa grande admiração. Com todos os recordes que um homem pode colecionar e com uma invencibilidade que até enfraquece a emoção da vitória, Bolt diz que vai correr em homenagem aos seus fãs.
“Será uma tournée de despedida, para dizer adeus aos meus fãs, agradecer por tudo”, diz Bolt antes da festa. “Acho que não tenho mais nada a provar”, ele afirma. “Esta temporada é só para os fãs, na verdade.”
Bolt passa uma boa parte da tarde animando a cabine do DJ e soltando jactos de confetis vermelhos metálico. É evidente que, independentemente do seu resultado na sua última corrida, é a relação com o seu público que o impele a completar a última volta. Ainda terá muita gente para adorá-lo depois do Mundial de Londres, pois Bolt vai virar um rapaz-propaganda global, filantropo e festeiro profissional. O que vai desaparecer será aquela emoção única de estar num estádio cheio de pessoas que vieram testemunhar o extraordinário.
“Assim que você sai, a multidão faz aquele ‘Ohhhhhh!’ e eu digo, tipo, ‘Yes!’”, diz Bolt. “Isso dá-te energia. Eles querem ver um espetáculo.”
Tudo começou em 2008
O “Espetáculo Usain Bolt” começou em 2008, quando ele bateu o recorde mundial dos 100 m e depois detonou a sua própria marca nos Jogos Olímpicos de Pequim, com 9,69 s, em que comemorou nos últimos dez metros. Desde então, Bolt dominou completamente. Os seus recordes mundiais de 9,58 s aos 100 m e 19,19 s aos 200 m são tão extraordinários quanto o jogo de basquetebol em que Wilt Chamberlain marcou 100 pontos ou quanto a sequência de 56 rebatidas de beisebol de Joe DiMaggio. Ele participou no recorde de 36,84 s na estafeta 4x100m dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. As suas três medalhas de ouro no Rio coroaram-no o rei “triplo-triplo” de velocidade – ninguém conseguiu ganhar três ouros nem mesmo duas vezes – apesar de ele ter perdido recentemente uma medalha da estafeta de 2008, devido ao teste de doping positivo de Nesta Carter. Nos últimos nove anos, Bolt perdeu apenas uma corrida significativa, quando ele queimou a saída na corrida dos 100 m no Mundial de 2011 e foi desqualificado.
Adora ser o centro das atenções
Porém, a lenda de Bolt foi construída tanto sobre a sua personalidade quanto a sua velocidade. Ele diverte-se mais do que corre, do momento que entra no estádio até quando faz a sua icónica pose da vitória. Vencer as corridas virou quase uma formalidade.
“Ele adora ser o centro das atenções”, disse a sua agente, Gina Ford. “Quando ele entra no grande palco, ele muda. Ele alimenta-se da energia de seus fãs. E é disso que ele vai sentir falta”.
Faltam 4 provas para a retirada
Faltam quatro datas para a retirada. Em 10 de Junho, na sua Jamaica; 28 de Junho em Ostrava, República Checa; em 21 de Julho, no Mónaco; e a final dos 100 m no Mundial, em 5 de Agosto, em Londres (mais as eliminatórias), onde a grande população jamaicana do Reino Unido vai despedir-se do seu herói em grande estilo verde e ouro.
Bolt vai participar apenas dos 100 m e na estafeta 4x100m na sua derradeira tournée. Ele não vai participar nos 200 m, pois assim evita boa parte do treino extenuante do qual nunca gostou. Além disso, o risco de perder correndo a distância menor é pequeno. Andre De Grasse foi apontado como o provável sucessor de Bolt no Rio depois de ganhar o bronze nos 100 m e a prata nos 200 m. Mas o canadiano de 22 anos, nunca fez um tempo menor nos 100 m que os 9,91s registrados no Rio. Já nesta temporada, ele terminou em quinto com 10,21 s em 5 de Maio, no Quatar, e em quarto com 9,96 s – e ajudado pelo vento – no Prefontaine Classic, em 27 de Maio, em Oregon.
A corrida dos 100 m mais recente de Bolt foi no Rio, vitória facilmente conquistada em 9,81s.
“Não estou preocupado se vou perder”, diz Bolt. “Os 100 metros são muito mais técnicos que qualquer outra coisa. Basta eu estar em forma e trabalhar o aspeto técnico do meu treino e vai ficar tudo bem.”
Sair de cena por cima
Muitos atletas excecionais já fizeram tournées de despedida, desfrutando dos aplausos e da última experiência numa competição. Poucos saem de cena por cima. Michael Jordan marcou 15 pontos no seu último jogo, pelos Washington Wizards. Muhammad Ali foi humilhado no seu último combate. Pelé jogou meio tempo em cada clube na sua última partida, um amistoso. Os últimos jogos de Kobe Bryant e Derek Jeter foram espetaculares, contradizendo temporadas finais banais.
Salvo se sofrer alguma lesão ou outra catástrofe do género, Bolt deve cruzar a meta em Londres na frente, esticar os seus braços e sentir a última onda de emoção dos seus mais de 50 mil fãs. Ele jura que esta será sua última corrida.
“Acho que vou ficar feliz e triste ao mesmo tempo”, diz.
“Eu realmente gosto de atletismo. As pessoas aparecem e torcem, o público sempre foi ótimo. Sei que Londres será incrível, sabe o que quero dizer? Então, é algo que me deixa muito empolgado.”
Muitos outros públicos aguardam Bolt. Ele diz que quer tentar o futebol profissional, e disse à Sky Sports que pretende trabalhar com o Borússia Dortmund para “ver o que acontece”.
Vai haver uma infindável série de festas, comerciais e aparições como na festa do Derby, patrocinada pela champanhe GH Mumm, que contratou Bolt como seu “diretor de entretenimento”. Ele ganhou 32,5 milhões dólares em 2016, incluindo 30 milhões com patrocínios, de acordo com a Forbes, e isso contando apenas as suas receitas antes do Rio.
Mas logo essas plateias não vão mais assistir ao homem mais rápido do planeta.
“Vai ser difícil substituir isso”, disse Walker, gerente de Bolt e seu amigo de infância. “Vamos ocupar-nos com eventos, Fazer mais coisas com a sua fundação. Teremos mais tempos para os patrocínios. Mas não sei como ele vai compensar essa sensação que a competição dá.”
Ao lado da cabine do DJ, Bolt considera a ideia.
“Vou assistir às competições de atletismo só para estar no estádio”, diz.