Eliud Kipchoge deu uma interessante entrevista à agência espanhola EFE, onde o grande tema foi a sua participação na maratona olímpica de Paris.
Aclamado como o “rei da maratona”, o lendário Eliud Kipchoge treina duro na sua terra natal, com um objetivo: tornar-se em Paris, o primeiro maratonista a vencer três Jogos Olímpicos consecutivos.
“Tentarei ganhar uma medalha de ouro”, disse Kipchoge à EFE, numa entrevista no centro de treinos Kaptagat, sede de numerosos campeões, localizado no coração do Vale do Rift, no oeste do Quénia.
Sentado num banco de madeira verde, o fundista de 39 anos confessa que este é o “maior desafio” da sua carreira, na qual, além dos dois triunfos olímpicos (Rio de Janeiro 2016 e Tóquio 2021), bateu por duas vezes o recorde mundial da maratona, entre outros sucessos.
É também o único ser humano que percorreu a mítica distância (42,195 quilómetros) em menos de duas horas, embora essa marca – batida em Viena em 2019 – não tenha sido oficialmente ratificada por não obedecer às regras da Worls Athletics.
Sob uma chuva leve e envolto numa capa de chuva, Kipchoge, antes de falar com a EFE, percorre trinta quilómetros a mais de 2.000 metros de altitude para estar em forma nos Jogos de Paris.
Neste caso, não poderá competir, num duelo desejado por meio mundo, com o seu compatriota Kelvin Kiptum, falecido em Fevereiro passado, aos 24 anos, num acidente de viação perto de Kaptagat e potencial sucessor de Kipchoge, que bateu na Maratona de Chicago em 2023, o recorde mundial com a marca de 2h00m35s.
– Como se sente a poucos meses dos Jogos de Paris?
– Sinto-me bem. O treino já começou. Espero que isto continue bem nos próximos três meses.
– Prevê disputar alguma corrida de alto nível antes de Paris?
– Não, só estou focado em Paris.
– Está pronto para ganhar o seu terceiro ouro olímpico consecutivo e fazer história?
– Estou realmente pronto para isso.
– Este é o maior desafio da sua carreira?
– Certamente sim, é o maior desafio.
– Quão confiante se sente de que pode conseguir essa proeza?
– Estou confiante. Farei tudo o que puder para lográ-lo. Se o conseguir, tudo bem. Se não o conseguir, o mundo saberá que perseverei tentando alcançar o impensável.
– Alguns especialistas argumentam que uma maratona nos Jogos Olímpicos é mais fácil do que uma maratona comercial. Compartilha esta visão?
– Não, acho que os Jogos Olímpicos são realmente mais difíceis que a maratona comercial. Paris será complicada no percurso. E, além disso, as temperaturas serão elevadas. Vai ser duro. Julho e agosto serão terríveis.
– Acredita que poderá baixar da barreira das duas horas em Paris?
– Não. Vou tentar ganhar uma medalha de ouro, não correr mais rápido. O objetivo é ganhar uma medalha de ouro.
– Em 2024, competiu apenas uma vez. Foi na Maratona de Tóquio em março passado e acabou em décimo na sua pior corrida até ao momento. Aprendeu alguma lição em Tóquio que seja útil em Paris?
– A única lição que aprendi é que o desporto é como a vida. Tudo pode acontecer e devemos respeitar o que aconteceu e seguir em frente. Sim, podes definir muitos objetivos, mas não podes alcançá-los todos.
– Após a trágica morte de Kelvin Kiptum, todos os olhos estarão postos em si nestas Olimpíadas. Isso significa pressão adicional?
– Na realidade, não. Sinto por ele, porque morreu muito jovem, naquela idade. Mas farei o melhor que puder e não vou competir com ninguém. Vou correr a minha própria corrida.
– Muitos consideraram Kiptum como o seu sucessor. Quem vê agora nesse papel?
– Acho que temos muitos atletas no Quénia. Não posso nomear quem é quem, mas temos muitos atletas talentosos. Localmente, eles conseguiram muito. O mundo deve continuar. Não podemos parar.
– O que acha da decisão da World Athletics de premiar os vencedores do ouro olímpico em Paris com 50 mil dólares?
– Acho que é uma grande ideia, um grande gesto invocado pela World Athletics. E é um sinal de trabalho conjunto com o Comité Olímpico Internacional (…). Todos aqui fazemos parte de um desporto.
– Gostaria de competir na renomada Maratona de Valência em Espanha?
– Quero correr um dia (em Valência) para sentir aquele percurso plano.
– Está considerando isso a curto ou a médio prazo?
– Sim, absolutamente.
– O que pensa sobre a guerra travada pelas marcas de sapatos e os seus preços, alguns avaliados à volta de 500 dólares, em busca de maior inovação para tornar os corredores mais rápidos?
– É o futuro. Isto é tecnologia e não se pode parar a tecnologia.
– Fará 40 anos em novembro. Vê-se a competir nos Jogos Olímpicos de 2028 em Los Angeles?
– Isso está demasiado longe para pensar nos próximos quatro anos, mas acho que estarei lá para inspirar as pessoas e ver como compete a próxima geração.
– Que planos tem para a sua vida depois do atletismo?
– Quero viajar pelo mundo para inspirar os jovens e as velhas gerações sobre o desporto. O desporto é vida, o desporto traz saúde, o desporto pode tornar o mundo pacífico.
– Já pensou em trabalhar como treinador?
– Nunca pensei em treinar. Mas quero fazer mais do que apenas treinar para manter a vitalidade e conseguir que as pessoas corram.