Quatro líderes do Comité Olímpico Etíope, incluindo o presidente Ashebir Woldegiorgis, foram acusados de tráfico de pessoas e delitos relacionados. O Comité também é réu no caso movido pelos ex-atletas Haile Gebreselassie e Gezahgn Abera, juntamente com as Federações de Boxe e Ténis.
O Tribunal Federal de Primeira Instância emitiu decisões suspendendo as reuniões gerais e decisões do Comité em setembro. O tribunal também ordenou a suspensão das eleições executivas do Comité, que ocorreram em 4 de junho.
O advogado dos autores disse à BBC: “Suspeitamos que os réus estavam envolvidos em tráfico humano em conexão com os JO de Paris. Eles aproveitaram-se das suas posições no Comité Olímpico para ganho pessoal. Ainda não feita nenhuma acusação de tráfico humano, mas uma investigação criminal está a ser planeada com as autoridades.”
O advogado observou que, apesar dos pedidos do Ministério da Cultura e Desportos e do Gabinete do Auditor Geral Federal, o Comité Olímpico Etíope recusou-se a submeter-se a uma auditoria, alegando que a responsabilização dos acusados será determinada com base nos resultados de uma auditoria independente. Ele destacou várias irregularidades, incluindo a eleição ilegal em junho de Ashebir Woldegiorgis, Eden Ashenafi e Ato Dawit para um terceiro mandato numa reunião secreta e o envolvimento de pessoas que não tinham direito legal a votar.
O processo segue-se às críticas ao Comité Olímpico Etíope, particularmente após o fraco desempenho da equipa de atletismo etíope nos JO de Paris. Apesar da crescente pressão, o presidente Ashebir disse à televisão estatal que não tinha intenção de renunciar ao cargo.
Federações desportivas etíopes pedem a suspensão do Comité Olímpico
Várias federações desportivas do país pediram a suspensão do Comité Olímpico Etíope, na sequência das controvérsias havidas à volta dos JO de Paris. As Federações acusam o presidente e o Conselho Executivo do Comité de ações prejudiciais ao interesse público, em violação às leis e ao estatuto do Comité Olímpico Internacional.
A transparência financeira é outra questão crítica, com federações a exigir responsabilização por centenas de milhões de birr (moeda local) em fundos governamentais e organizacionais destinados a eventos como os JO de Tóquio e os Jogos Africanos, que, segundo elas, não foram devidamente auditados.
Além disso, de acordo com relatos da imprensa estatal, as Federações condenaram a saída forçada de atletas e membros da delegação etíope nos recentes JO de Paris antes do final dos Jogos, alegando que isso prejudicou a reputação do país.
Também juízes do Tribunal Superior Federal mantiveram uma liminar impedindo o Comité de acessar às suas contas financeiras, rejeitando um recurso do Comité Olímpico. A liminar permanecerá em vigor até que eles compareçam ao tribunal.
Os demandantes, liderados pelo ex-atleta Haile Gebrselassie, alegam que o presidente organizou uma cerimónia de prémios em Addis Ababa, apenas um dia após o tribunal ter ordenado o congelamento das contas bancárias do Comité. Durante a cerimónia, o presidente terá distribuído fundos vinculados a essas contas para vários profissionais da imprensa e outros indivíduos. Ele teria dito: “Continuaremos a dar prémios, embora tenhamos sido banidos por pessoas como Haile Gebreselassie.”
Em resposta a essas alegações, os demandantes pediram ao tribunal que recomendasse que os réus fossem processados por violação do Artigo 443 do Código Penal.