Maxime Carabin, medalhado de ouro paralímpico em Paris nos 100 m e 400 m (T52), é acusado de ter exagerado a sua deficiência. Vários neurologistas constataram que os seus exames médicos eram normais. Alguns competidores estão a pedir a sua desclassificação.
O canal de televisão belga RTBF fez uma investigação pública que põe em causa a doença de Maxime Carabin.
Acusado de ter exagerado a sua deficiência, ou de tê-la simplesmente inventado, o belga nega, no entanto, qualquer tipo de batota, dizendo que os seus concorrentes, “impotentes para vencê-lo na pista, escolhem, para tentar derrubá-lo, o caminho da calúnia”.
Para melhor compreender o contexto deste caso, há que analisar o diagnóstico médico da deficiência do belga. Como ele mesmo lembrou na RTBF, ele sofre de uma “doença rara“ após um acidente durante uma partida de andebol. “A minha medula espinhal não está mais a funcionar como deveria”, disse ele. “Ela afeta muito os meus membros superiores e os membros inferiores são afetados em cascata. Então, estou numa cadeira como um tetraplégico. Não tenho uma lesão clara e precisa, mas a medula espinhal foi afetada por amiotrofia com nomes muito específicos”. De acordo com o relato de Carabin, ele sofrerá da doença de Hirayama.
O problema é que essa doença não produz os sintomas que permitem classificá-la na categoria “T52”, que inclui paratletas com lesões graves nos braços e danos totais nas pernas ou no tronco. Segundo Alain Maertens, professor de neurologia, “esta doença não afeta as pernas. Não se pode ser tetraplégico com a doença de Hirayama, não é possível”. Após analisar os resultados de uma “exploração neurológica funcional” realizada em setembro de 2020, este mesmo professor não detetou nenhuma deficiência. “As estruturas estão normais e intactas, sejam os nervos, o cérebro ou a medula espinhal”, disse ele.
Concorrentes exigem a sua desclassificação
Perante estes elementos e outras análises, os médicos de classificação belgas nunca autorizaram Maxime Carabin a competir em categorias desportivas para deficientes. Porém, em junho de 2022, ele recebeu uma classificação internacional, após resultados negativos em testes de mobilidade do tronco. Entretanto, não foi feita nenhuma análise das suas pernas. Duas análises adicionais confirmaram essa classificação. Desde então, Carabin ganhou cinco títulos mundiais e duas medalhas de ouro olímpicas.
À RTBF, Olek Kazimirowski, diretor do Comité Paralímpico Belga pareceu chocado. “É óbvio e levanta muitas questões”, reconheceu ele. “É verdade que no passado, eu já tive tiveram colegas meus, conversas com atletas que nos expressaram as suas dúvidas. Mas nunca recebemos nenhuma evidência ou prova que comprovasse alguma coisa”.
Perante estas dúvidas, alguns competidores, de origem suíça, austríaca e lituana, entraram com uma queixa junto às autoridades internacionais e pedem a desclassificação de Carabin. No entanto, nem ele nem o Comité Paralímpico Belga receberam qualquer informação sobre este assunto.