Factos
Portugal tinha seis atletas com mínimos na maratona do Mundial que eram de 2h32m. Salomé Rocha, Catarina Ribeiro, Filomena Costa, Jéssica Augusto, Sara Moreira e Doroteia Peixoto.
Sara Moreira optou por participar nos 10.000 m e Jéssica Augusto lesionou-se. Salomé Rocha conseguiu em 12 de Julho os mínimos nos 10.000 m e optou por esta distância. Sobrou assim Doroteia Peixoto..
Para surpresa de muitos, a Federação decidiu levar a Londres apenas Catarina Ribeiro e Filomena Costa. Decisão no mínimo estranha.
Diretor técnico nacional justifica-se
José Santos, diretor técnico nacional, justificou a ausência de Doroteia Peixoto com o facto de ela ter-se mostrado indisponível para competir em Londres.
“Pelas conversas com o seu treinador foi-me dito que estava indisponível. Ela não vai porque não quis ir, falei com o treinador pessoalmente, há semanas”, contou José Santos
Treinador de Doroteia rebate
Mas Ricardo Ribas, treinador de Doroteia Peixoto, refuta as afirmações de José Rocha. Segundo ele, a conversa com José Santos foi em Junho e foi-lhe dito que a Doroteia devia continuar a treinar pois no dia 10 Junho, aquando da realização da Taça da Europa, ficaria tudo decidido. “Nesse dia, ninguém fez marca. Mas também ninguém da Federação disse-nos o que quer que seja. Ficámos com um pé atrás, naturalmente”.
Segundo Ribas, em nova conversa já a 30 de Junho, José Santos ter-lhe-á afirmado que afinal, ainda havia a hipótese de Salomé Rocha fazer os mínimos para os dez mil metros em 12 de Julho, abrindo então uma vaga na maratona do Mundial.
A resposta de Ribas terá sido de que não conseguia enquanto treinador, preparar Doroteia para uma maratona em 5/6 semanas. José Santos terá concordado.
“Porque haveríamos de assumir o risco de treinar sem saber se íamos a Londres?”, questionou Ribas?
Doroteia no facebook
Doroteia mostrou também a sua indignação através do facebook: “Preparar uma maratona é uma tarefa árdua, quer a nível físico, quer a nível mental. Por este facto a maior parte dos atletas apenas faz uma/ duas por ano. É uma das mais longas, desgastantes e difíceis provas do atletismo e requer uma preparação de pelo menos três meses. Por este facto, a seleção para um campeonato do mundo deve sair atempadamente. O responsável por essa mesma seleção tem conhecimentos e competência técnicas e humanas adequadas à posição que ocupa e como tal deve fazer uso das mesmas na defesa dos objetivos do desporto nacional.
Situações como esta que discutimos devem ser evitadas, zelando pelo interesse de todos
( atletas e treinadores ) e sobretudo de Portugal, que deste modo não ocupa as três vagas a que tem direito.
Quanto às afirmações proferidas pelo Sr. José Santos (”a atleta mostrou -se indisponível”; ”ela não vai porque não quis”), demonstraram uma falta de respeito e seriedade para com o meu trabalho e do meu treinador: sempre estivemos disponíveis, sempre foi a nossa vontade estar presentes na Maratona do Campeonato do Mundo, mais ainda, era este o grande objetivo da época!
A faltar 5 semanas e ainda sem nada garantido era impossível fazer uma preparação que dignificasse o nosso país!
Desejo toda a sorte para as atletas que nos irão representar e não quero de maneira alguma pôr em causa o trabalho delas, mas sinto-me neste momento injustiçada por uma oportunidade que me foi retirada e acima de tudo pela forma como vilipendiaram a minha entrega a este desporto e às cores do nosso país. O trabalho continua e novos objetivos se avizinham”.
Como é visível, o que diz José Santos não bate certo com o que dizem Ribas e Doroteia. Mas uma coisa é certa: Tínhamos seis atletas com mínimos e só vão duas! Doroteia Peixoto merecia estar em Londres!
Podia ter sido diferente?
Podia Doroteia Peixoto continuar a treinar como se tivesse possibilidades de ir ao Mundial? Claro que podia, mesmo com poucas hipóteses. Mesmo depois da polémica exclusão de Filomena Costa nos JO do Rio de Janeiro…
Mas porque não se fez como em Espanha onde os atletas da maratona e marcha (provas mais longas) já haviam sido designados meses atrás e o resto da seleção foi decidido depois do Campeonato de Espanha em Barcelona no passado fim de semana?
Porque não se fez como há um ano nos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em que com o devido tempo, se selecionou Vanessa Fernandes como reserva?
Isto é a sério?
Vejamos:
– A Vera Nunes não tem a marca de qualificação exigida pela FPA, 2h34’17 (recorde pessoal, Zurique’17) é muito mais que 2h32’00!
– Se a seleção tivesse saído no início de Maio, data limite para que alguém possa preparar de forma minimamente séria uma competição tão exigente como a maratona do Campeonato do Mundo, provavelmente, só teríamos uma maratonista em Londres! As selecionadas deveriam ser Jéssica Augusto (vencedora em Hamburgo com 2H25’30, Carla Salomé Rocha (2h27’08 em Praga) e Sara Catarina Ribeiro (2h30’10 no Porto);
– Mesmo que estas atletas manifestassem a intenção de tentar fazer mínimos nos 10000m, seria justo as outras atletas continuarem a preparar uma maratona para o inicio de Agosto sem saberem se a iriam correr?
– É aceitável fazer uma preparação tão exigente sem ter a certeza que se vai participar, nem ter outra maratona próxima para onde poderia direcionar todo o treino? Algum atleta ou treinador tem motivação para isto?
– É aceitável a este nível deixar atletas “em banho maria” enquanto as outras tentam fazer mínimos noutra distancia? O método de treino é o mesmo para os 10000m e para a maratona, ou seja, uma atleta pode estar a treinar focada para os 10000m (potencia) até 12 de Julho e depois se não conseguir mínimos treinar e focar para a maratona (resistência) um mês?
– Aceitaria a Filomena Costa, em Maio, até por tudo o que se passou na seleção para os JO’17, preparar a maratona do Campeonato do Mundo sem nenhuma garantia de participar? E a Doroteia Peixoto?
– Vanessa Fernandes nos JO’16 é uma anedota, e de mau gosto, não merece comentários!
Obrigado pelos seus comentários. Fui induzido em erro com o tempo da Vera Nunes e vou de imediato fazer a devida retificação.
Cumprimentos,
Manuel Sequeira