São conhecidos os inúmeros problemas do Quénia com o doping. A reputação do país, como uma das potências mundiais do atletismo, está seriamente manchada. Desde 2017, quase cem atletas quenianos, a maioria fundistas, foram suspensos por terem testado positivo.
Após os JO do Rio de Janeiro de 2016, onde o Comité Olímpico Queniano teve que ser dissolvido devido a vários escândalos de doping, uma campanha de controle rigoroso foi iniciada pela Agência Antidoping do Quénia (ADAK). “O Quénia está a fazer grandes avanços na luta contra o doping”, disse Sarah Shibutse, Diretora Executiva da ADAK.
Para os JO de Paris, os atletas quenianos passaram por um rigoroso regime de testes antidoping, com três testes fora da competição nos últimos dez meses. A ADAK trabalhou em conjunto com a Unidade de Integridade do Atletismo (AIU), o Ministério dos Desportos do Quénia e a polícia local para investigar e examinar os atletas.
Shibutse destacou que essa colaboração levou ao encerramento de várias farmácias suspeitas de fornecer medicamentos para melhorar o desempenho. Todas elas estão localizadas no Vale do Rift, conhecido como o epicentro dos fundistas no Quénia.
No ano passado, o número de testes antidoping aumentou significativamente para dois mil. A ADAK pretende triplicar esse número ao longo do ano. “Estamos coletando mais amostras, o que significa que mais casos positivos de doping estão a ser detetados do que anteriormente. Este é um sinal de que o processo está a funcionar”, acrescentou Shibutse.
Durante uma visita ao Quénia em março de 2023, Brett Clothier, chefe da AIU, alertou que os atletas devem estar preparados para medidas mais rigorosas contra o doping. “Uma coisa que todos devem estar cientes é que com mais testes, mais casos serão relatados, mas isso não significa mais doping. É isso que está por vir, mas é o caminho para resolver esse problema de uma vez por todas”, explicou Clothier.
Martin Sisa Yauma, responsável de educação e pesquisa antidoping da ADAK, observou que o Passaporte Biológico do Atleta (ABP) tem sido eficaz na identificação dos infratores.
Entre os exemplos mais recentes, está a maratonista Beatrice Toroitich, que foi suspensa para sempre, algumas semanas após o seu terceiro teste positivo antidoping, tornando-se a mais recente de uma longa lista de atletas quenianos que foram sancionados.
Regressar à competição de elite para atletas apanhados no doping, é frequentemente desafiador. Mark Otieno, ex-campeão nacional dos 100 m, foi suspenso por dois anos após testar positivo para o esteroide anabólico metandienona, antes dos JO de Tóquio. Otieno tentou regressar em novembro passado para se qualificar para os JO de Paris. “Não quero que isso (a suspensão por doping) aconteça com mais ninguém”, comentou Otieno, depois de não ter conseguido fazer os mínimos de qualificação dos 100 m fixados em 10,00 s.