A 1ª maratona foi em 18 de Dezembro de 1983, no Autódromo do Estoril, em oito voltas e meia ao circuito. Em 3h03m15s que é ainda recorde pessoal. Já fez 66 maratonas de estrada.
Apesar da pandemia que atinge todos nós de alguma forma, a prática desportiva continue a ser uma realidade, ainda que com muitas limitações. O futebol já regressou na Alemanha mas o atletismo na pista ainda vai ter de esperar. Enfim, podemos treinar com as devidas regras de segurança e distanciamento mas claro, falta-nos as corridas. Vamos esperar quando é que elas regressam e em que condições. Certamente que não vamos ter de esperar pela tão falada vacina que ainda vai durar pelo menos, um ano a ano e meio. E quando ela for desenvolvida, como vai ela chegar a todos os países do mundo ? Segundo um professor de Biotecnologia Médica na Universidade de Utrech, serão necessárias 20 mil milhões de doses para toda a população mundial.
Entretanto, lembrámo-nos de fazer um trabalho versando as maratonas. Como foi a primeira maratona, que sensações teve o atleta, antes, durante e depois da prova ? E como surgiu a ideia de correr uma maratona ? Para responder a estas e a mais algumas perguntas, contatámos dezena e meia de atletas populares.
Hoje, publicamos o depoimento de Fernando Andrade, conhecido atleta popular e organizador da Meia Maratona das Lampas, o primeiro a responder-nos.
Perguntas
1 – Idade/2 – Corre há quantos anos?/3 – Quando começou a correr, pensava algum dia fazer uma maratona?/4 – Como surgiu a ideia de correr uma maratona?/5 – Data e local da primeira maratona?6 – Como correu a prova? Sensações antes do seu início, durante e após cortar a meta/7 – Tempo feito? Estava dentro das expetativas?/8 – Continuou a correr maratonas? Se sim, quantas mais completou?/9 – Qual a maratona que lhe deixou melhores recordações?/10 – Recorde pessoal na maratona? Onde e quando foi?
1 – 65 anos
2 -Corro desde 1975/76.
3 – Comecei a correr em provas populares, em que a distância mais comum não chegava aos 10 km. Estávamos no PREC, em que se pretendia transformar a sociedade. O Desporto Para Todos, ou o “Atletismo à Porta de Casa”, era uma das vias lançadas pela então Direcção-Geral dos Desportos.
4- Nessa altura, nem se falava na Maratona! A Meia Maratona da Nazaré, surgida por essa altura, assumia o estatuto de longa distância, uma espécie de miragem para o corredor comum, que, uma vez alcançada, era o “topo da carreira”. Não havia Maratonas, a não ser as promovidas pela FPA para se definir o campeão nacional de Maratona, coisa para uns 20 ou 30 predestinados.
A Revista Spiridon, que lançou o seu nº zero na 4ª Edição da Meia da Nazaré, a 1ª prova em que participei com milhares de atletas e que não deixou de me causar um deslumbramento enorme, começou a publicar artigos orientados para a corrida de endurance, lançando as bases para o treino de distâncias mais incomuns, em que o tempo de corrida tinha primazia sobre a distância efectuada. Aguentar a corrida moderada por longos períodos era o mote para poder sonhar com a maratona.
Foi o que fui fazendo, aumentando o tempo de treino em corrida lenta ou moderada e vi que seria capaz de correr a distância.
5 – Em Dezembro de 1983, depois de um período de 3 ou 4 meses de preparação cuidada, achei que poderia aventurar-me a fazer a Maratona Spiridon (2ª Edição) disputada no Autódromo do Estoril.
6 – Eram 8 voltas e meia ! Ia cheio de respeito, mas confiante. Era preciso era ter cabecinha. Em cada volta tínhamos de deixar num bidon, um destacável da etiqueta transportada ao pescoço, como testemunho do cumprimento integral do percurso.
Não fazia ideia da marca que iria conseguir. Arranco, num ritmo ligeiramente mais suave que o da Meia Maratona e…deixa ver como é que a “máquina” reage. E tudo ia lindamente. Passo à Meia com 1,24 !!!!( na altura conseguia fazer a meia maratona em perto de 1,20) Fiquei pasmado, porque me sentia muito bem e pus-me a fazer contas: a continuar assim, acabaria com 2, 48 !!! Uma coisa que nunca imaginaria e já estava a ver-me, triunfante na linha da meta, erguendo os braços de contentamento. 5ª volta ainda vai bem; 6ª volta, tudo OK. Porém, à 7ª, aparece a maldita parede, que eu achava que já tinha passado sem deixar mossa! De repente, as pernas começam a fraquejar e o ritmo a ir-se embora. Bem, ainda tenho 10 minutos de folga, para fazer abaixo das 3 horas. Inevitavelmente, abrando o passo e vou gerindo a coisa com cuidado. A cerca de 200 metros da 8ª volta, deixo cair o talão que deveria depositar no bidon do controlo. Dobro-me para apanhá-lo e as pernas não querem voltar a erguer-se. Sensação estranha, que nunca tinha sentido. A custo, lá consigo e caminho uns metros. Já falta pouco. Agora é tentar chegar em passo de corrida para não parecer mal. Corto a meta e lembro o Prof. Mário Machado, de megafone em punho, a dizer : “O homem da Meia Maratona de S. João das Lampas também já é maratonista”. Sinto-me o maior. Bamboleando com o conforto de amigos, procuro um sítio onde me sentar e refrescar. O peito, esse está cheio, por ter conseguido concretizar um objectivo que até então só em sonhos. Pena não haver fotógrafos a registar esse momento de glória, mas ainda guardo religiosamente a t-shirt que me foi dada de prémio.
7 – O tempo, foi de 3,03,15 pois o “estoiro” monumental que dei não deixou fazer melhor. Só em 1993, voltei a fazer a Maratona, e ainda consegui fazer 3, 05,00 (Maratona de Lisboa).
8 – A verdade é que, mesmo depois de ter feito mais sessenta e cinco maratonas de estrada, nunca consegui melhorar o tempo da 1ª.
9 – Não posso dizer com justiça, qual a melhor maratona em que participei, pois há vários parâmetros a avaliar, o que faz com que umas sejam melhores nuns aspectos e outras noutros, mas acho que a do Porto, de que me honro ser totalista das 16 edições realizadas, merece o meu destaque especial. Na estranja, apenas conheço, Sevilha (14 vezes), Madrid (9), Badajoz (1) e Paris(1).