Alice Basílio é atleta dos Amigos de Atletismo de Mafra. Mas também a presidente e treinadora do clube. É uma das boas veteranas com inúmeras subidas ao pódio. Foi agora a melhor portuguesa na maratona de Sevilha.
Alice Roma Basílio tem 47 anos de idade e é professora de Educação Visual e Tecnológica. Nascida em Lisboa, começou a treinar há 16 anos, com um interregno de dois anos. “O atletismo aparece como um desafio de uma pessoa que na altura, era especial”.
Alice treina atualmente seis vezes por semana, umas vezes só, outras, acompanhada. Edgar Amaro é o seu treinador que embora resida em Andorra, consegue acompanhar a atleta e preparar-lhe a semana de treinos.
Quando treina sozinha, aproveita para trabalhar, organizando mentalmente o seu trabalho. E diz-nos que é também a correr que se sente mais criativa.
Não tem sido fácil à nossa entrevistada conciliar os treinos e corridas com a sua atividade profissional. Treina muitas vezes às horas das refeições. “Aproveito o meu treino também para trabalhar. O meu convívio com os amigos é a treinar, por isso o treino é o meu lazer, não retiro tempo ao trabalho. Dá tempo para tudo”.
Atleta e presidente dos Amigos de Atletismo de Mafra
Alice Basílio é também a presidente dos Amigos do Atletismo de Mafra há ano e meio. “Na verdade, somos um grupo que adora Mafra, adora correr e que tem como missão promover o desporto para todos. O nosso trabalho é em total regime de voluntariado onde cada um desempenha o seu papel, onde todos se empenham exemplarmente e de uma forma muito positiva”.
Realça ainda os muitos apoios que tem recebido, desde os órgãos autárquicos ao comércio local e aos habitantes.”Os Amigos do Atletismo de Mafra são uma associação com história, já existem desde 1974. É um orgulho fazer parte desta equipa”.
Uma das suas principais tarefas de momento passa pela preparação da 36ª Corrida dos Sinos e 16ª Prova dos Sininhos, no próximo 25 deste mês.
“O meu convívio com os amigos é a treinar, por isso o treino é o meu lazer, não retiro tempo ao trabalho”
Estreia na Meia Maratona de Lisboa
Alice sempre gostou de desporto mas nunca tinha corrido. Escolheu a Meia Maratona de Lisboa para se estrear no mundo das corridas. Treinou dois meses e lá foi. “Achei que nunca mais acabava. Fiz duas horas e qualquer coisa. Tinha 30 anos. Não desisti e isso já foi muito bom”.
Corre habitualmente duas provas por mês e aquelas que merecem a sua preferência, são a Corrida dos Sinos, a S. Silvestre da Amadora e a Meia Maratona de S. João das Lampas.
A sua distância preferida passa pelos 42.195 metros da maratona. Já correu quatro: Saragoça, Valência, Porto e a última de Sevilha, onde foi a melhor portuguesa ao ser a 34ª da geral e 3ª do escalão com 3h05m35s.
Na estreia, estava muito nervosa, mas correu muito bem. “Estava bem treinada. Sou muito rigorosa no treino da Maratona e foco-me no objetivo. A que me correu melhor foi a de Valencia, fiz 3h04”.
Na sua carreira desportiva, valoriza os recordes pessoais, os triunfos do clube e poder ver os atletas jovens da recente Escola de Atletismo a representar os AAMafra. “Tudo coisas boas”.
Da estrada ao trail
Alice é uma atleta da estrada mas já correu na montanha. Chegou a participar no Campeonato Nacional de Montanha.“Muito bonito… muito difícil e os meus joelhos não gostaram. Fiquei parada dois anos. Agora, já experimentei dois trails. Eu gosto de correr, o trail é muito técnico para mim, não consigo correr em grande parte do percurso. É o TT do atletismo”.
“Os nossos jovens, de uma forma geral, não se esforçam fisicamente, não estão e não são preparados para isso”
“Perdeu-se” uma praticante de Kickboxing
Não dispensa os exames médicos de rotina e ainda não pensa na retirada. Quanto a lesões, já foi algumas vezes visitada por elas.”Mas agora sinto-me uma sortuda”.
Come quase de tudo mas tem os devidos cuidados com a alimentação, fugindo aos excessos.
Se não estivesse no atletismo, gostaria de ter seguido o Kickboxing. No mundo das corridas, aprecia particularmente a amizade e o desafio.
“O desporto aparece sempre em segundo plano…assim dificilmente teremos campeões”
O desporto está marginalizado
Alice Basílio fez o curso de treinadora grau 1 e está agora a estagiar. Encara o futuro da modalidade com alguma preocupação, devidamente fundamentada.
“O que sinto, como profissional do ensino, e não falando só do atletismo, é que cada vez mais, a vida está facilitada. Não é preciso esforço físico para quase nada. Os nossos jovens, de uma forma geral, não se esforçam fisicamente, não estão e não são preparados para isso”.
Reconhece que há muita gente a trabalhar para alterar a situação, mas tal pode não ser suficiente. Na sua opinião, há que mudar também as mentalidades e refere um exemplo: “Quando um Encarregado de Educação quer castigar o seu educando por alguma razão, a primeira coisa que faz é proibir-lhe a atividade física, porque é o que ele mais gosta, dizem. Pergunto: e se o que o jovem gostar mais for a leitura, também lhe vão tirar os livros? Duvido. O jovem tem que estudar, o que se vai retirar? O treino…”
E completa o seu raciocínio: “O desporto aparece sempre em segundo plano…assim dificilmente teremos campeões”.
“ Sugiro que as organizações tenham em atenção todos os atletas, não só aos que vão na frente das provas. Todos são importantes”
Todos os atletas merecem atenção
Como atleta e presidente do clube que organiza a Corrida dos Sinos, Alice realça o nível organizativo das provas em Portugal e deixa a sua sugestão: “ Sugiro que as organizações tenham em atenção todos os atletas, não só aos que vão na frente das provas. Todos são importantes”.
Fala ainda da falta de apoio do público. “Não sei como melhorar esta situação”.
Correr com a cadela
Correr para Alice Brito é sempre uma festa. Logo, há sempre estórias para contar. Como a daquela vez em que participou numa prova com a sua cadela e ganharam. “Ela foi fantástica!”