Ana Oliveira, coordenadora do atletismo do SL Benfica, deu uma entrevista à Benfica TV, onde falou do Campeonato Nacional de Clubes que terá lugar este fim de semana em Leiria.
Acerca da polémica ausência da equipa feminina no Campeonato, Ana Oliveira procurou justificar a decisão.
“Somos um clube que trabalha com visão, estratégia e sustentabilidade. Há anos que digo isso, e, quando foi desenhado o projeto para esta época, foram traçados os objetivos do corta-mato, da estrada, da pista coberta, e já estava decidido que não havia hipótese de participarmos com a equipa feminina neste verão. Não é uma situação que terá de ser decisiva para sempre, mas penso que as dificuldades que temos, quer estruturais, quer financeiras, quer até mesmo em termos de motivação desportiva para continuar a abraçar, como fizemos no passado, todos os escalões, ambos os géneros, todas as vertentes do atletismo, é uma coisa que é insustentável”.
“A própria Federação devia refletir, e tenho a certeza de que fazem essa reflexão, mas não partilham cá para fora, e há anos que faço um apelo às associações, às federações, para fazermos uma reflexão profunda sobre aquilo que é o nosso atletismo nacional. Chegou a altura definitivamente de pararmos, fazermos uma reflexão conjunta, federações, associações, outras entidades e os clubes. Onde é que estamos e para onde é que queremos ir? Não podemos estar a mascarar completamente os problemas, e a verdade é que cada vez temos menos jovens a praticar atletismo, a continuarem a praticar atletismo, principalmente raparigas. Perceber o que é que podemos fazer conjuntamente para motivar cada vez mais os clubes a continuarem a investir nesta modalidade, que não tem retorno nenhum, que, pelos sinais que a própria Federação emite para os clubes e para todos nós, cada vez é mais difícil ter um atletismo coletivo, cada vez mais somos uma modalidade que se preocupa com os meetings, com as Diamond Leagues, com as provas individuais. Só temos um campeonato por equipas com a Seleção Nacional de dois em dois anos, portanto, a própria Federação tem dificuldade em construir equipas. Somos um povo, um país com características específicas para a modalidade. Temos um topo, talvez uma elite nacional melhor que nunca no atletismo em Portugal, mas depois não há profundidade, portanto, nós sozinhos, como clube, não conseguimos contrariar aquilo que está a ser a tendência e também o desvalorizar permanente de uma modalidade que já foi rainha em Portugal e é rainha dos Jogos Olímpicos. Seguimos o nosso plano, continuamos a apoiar os jovens, alguns deles estão aqui há 10, 12, 13 anos. Infelizmente, não dá para conseguirmos substituir aquilo que é o papel do Estado e o papel das federações. Fazemos o nosso melhor, só posso agradecer ao Benfica todo o investimento que tem feito nesta modalidade, e o futuro não depende só de nós.”
