Quantos atletas não têm dificuldade em adormecer na véspera das provas? Muitas vezes sem motivo aparente. Afinal, é apenas só mais uma prova que até tem um percurso fácil. Publicamos seguidamente um interessante artigo de Graciela Allgaier, em que ela analisa a questão da ansiedade.
Chegou a hora, treinou, cumpriu o plano, observou atentamente a hidratação e a alimentação, inventou uma indisposição para não ir àquele jantar de sábado à noite (quem entenderia que precisa dormir cedo para fazer uma corrida domingo pela manhã?). Faz a última averiguação: chip, relógio, ténis, roupa, boné, dorsal, iPod e afins… alarme do relógio ligado. Hora de deitar tranquilamente.
Mas a cabeça acelera, a ansiedade aparece roubando o seu sono. Ou então, quem sabe se não é um desses felizardos que mesmo na véspera de uma prova, dorme tranquilamente, mas muito provavelmente nos momentos que antecedem a partida, um “frio na barriga” deixa-o em alerta. E os corredores angustiados que chegam ao local da partida com horas de antecedência, consumindo a energia que será usada durante a competição?
Não conseguir dormir na véspera de uma prova importante não chega a ser um drama. Mas essa tensão pode trazer outros problemas, enquanto para alguns corredores é até estimulante
Muitos sofreram da tal ansiedade mas com o tempo, foram superando e agora relaxam, conversando com os colegas antes da partida. Todas as pessoas sentem ansiedade. A vida agitada e acelerada deste tempo cobra o seu preço, os objetivos e as metas infindáveis têm a sua parcela no mal-estar, compondo um quadro de angústia, ansiedade e stress. É uma constante na vida das pessoas, sempre existiu e, dependendo do grau ou da frequência, pode ou não, atrapalhar a rotina e a prática desportiva.
Insónias, coração acelerado, boca seca, tensão muscular, medo intenso, transpiração excessiva, sensação de vazio no estômago, disfunções intestinais e coração acelerado, são algumas das reações físicas desagradáveis que se manifestam em momentos de perigo real ou imaginário. A ansiedade faz-nos ficar em alerta, prontos para encarar momentos de sofrimento, de risco físico ou mental, visando a nossa preservação. É instintivo. Normal e passageira, mas pode ser considerada patológica, necessitando de um auxílio com terapia, acompanhamento médico (em casos extremos) e indicação de desporto: gerador de endorfina e aliviador das tensões.
A ansiedade é uma constante na vida das pessoas, sempre existiu e, dependendo do grau ou da frequência, pode ou não atrapalhar a rotina e a prática desportiva
Indivíduos demasiadamente ansiosos, perdem boa parte da sua autoestima, deixando de fazer coisas porque se julgam incapazes de realizá-las. Consequentemente, sentem medo de errar, chegando ao extremo de não tentar. Se a cabeça não estiver bem, nada funciona.
É sabido que a falta de equilíbrio psicológico frente a situações de pressão, seja o treino ou a corrida propriamente dita, aumentam as chances de lesões, baixas no sistema imunológico, assim como o aparecimento de sintomas psicossomáticos originados pelo stress e sentimentos negativos.
Há quem tenha problemas com a ansiedade ligada à corrida na semana que antecede a prova. O psicológico trabalha contra si próprio, sempre que tem uma prova e está preparado para bater o seu recorde na distância ou conseguir um pódio no escalão.
O atleta acostuma-se e aprende a lidar com isso; sabe que vai correr bem, mas a ansiedade acaba por atrapalhar o sono e fica muito acelerado.
Só o excesso prejudica
Na maioria dos casos, a ansiedade está mais ligada aos aspetos negativos por gerar sintomas corporais localizados no intestino ou no peito, enjoos e desarranjo intestinal que comprometem o desempenho, dificultando a corrida, deixando o atleta ainda mais angustiado com a sua performance. A ansiedade é normal sempre diante de novas situações. Em excesso atrapalha, pois gera insónia, entre outros sintomas físicos.
O aspeto positivo da ansiedade é o de nos colocar em estado de alerta, oxigenando e acelerando o nosso organismo, enrijecendo os nossos músculos, capacitando-nos para movimentos mais rápidos, com atenção e foco definidos. Reações mais imediatas, precisas, características necessárias para quem vai enfrentar uma disputa, ou simplesmente atravessar uma rua.
O atleta precisa de reconhecer os primeiros sinais, encontrar por si mesmo, técnicas que o façam redirecionar essa ansiedade em prol dos seus objetivos: finalizar a prova, melhorar o seu tempo ou até alcançar um pódio.
Muitos ficam tão ansiosos que acabam por dar tudo de si na partida, e muitas vezes “quebram”. Exageram na “pilha” inicial, não conseguindo manter um ritmo certo durante o percurso.
Quanto maior o volume e tipos de treino, competições realizadas e tempo despendido para as corridas, maior será a sensação de serenidade e autocontrolo na véspera, partida ou durante uma prova
Deve-se aprender a conviver com os seus sintomas, neutralizando os efeitos negativos e beneficiando da sua potência, podendo assim reverter a sua ação a favor de si mesmo. Acima de tudo, o atleta precisa de conhecer os seus limites. A ansiedade não pode levar o sujeito ao desespero e descontrole emocional: Sendo geradora de adrenalina, torna-nos capazes, melhorando o desempenho, para adquirirmos aquilo que nos propomos.
Existem várias opções que ajudam: relaxamento, ioga, controle respiratório, alimentação equilibrada, uma série de combinações à disposição em livros e sites do género. Porém, cada indivíduo tem a sua rotina e foco estabelecido. O que para um ajuda, para outro pode não ter efeito algum; a ideia não é eliminá-la, nem podemos, mas sim, estabilizá-la.
Quanto maior o volume e tipos de treino, competições realizadas e tempo despendido para as corridas, maior será a sensação de serenidade e autocontrole na véspera, partida ou durante uma corrida. A autoconfiança e autoconhecimento darão conta do recado.
Concentre-se no presente. Respire fundo e tome consciência do seu corpo. A maturidade desportiva traz essa capacidade de administrar a ansiedade com bons resultados pessoais.
Correr com emoção sabiamente controlada é muito bom!