O Comité Olímpico Internacional (COI) adiou uma atualização das suas diretrizes para transgéneros para depois dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022, citando “opiniões muito conflituantes” sobre a estrutura.
Nos JO de Tóquio, o diretor médico e científico do COI, Richard Budgett, reconheceu a necessidade de atualizar as diretrizes. Espera-se que uma nova estrutura guie as Federações Internacionais na criação das suas próprias regras.
O atraso mais recente significa que será publicado três anos depois do que tinha sido originalmente planeado. As atuais regras sugerem que as mulheres transexuais devem ter permissão para competir no desporto feminino se reduzirem os seus níveis de testosterona abaixo de 10 nanomoles por litro durante 12 meses contínuos, embora as Federações Internacionais possam criar as suas próprias regras.
O seu nível de testosterona no soro deve permanecer abaixo de 10 nmol/L durante todo o período de elegibilidade desejada para competir em femininos, que é baseada no teste de imuno ensaio. Os atletas testados e acima desse nível podem ser suspensos por 12 meses.
Ichard Budgett reiterou que tal iria mudar quando o quadro fosse atualizado, numa conferência do Conselho da Europa sobre a proteção e promoção dos direitos humanos de atletas intersex e trans em competições desportivas.
“Haverá diretrizes amplas de alto nível – mais como uma estrutura, são as Federações Internacionais que determinarão as regras específicas para as suas modalidades e eventos”, disse Budgett.
“As mudanças específicas de 2015 são a ênfase na prioridade de inclusão e na prevenção de danos, mas sempre tendo em mente a importância de uma competição justa e significativa. Ainda temos que concordar com a estrutura”.
“É desafiador, mas será publicado em alguns meses, no máximo logo após os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim”.
“Estamos muito cientes de que o sexo, é claro, não é binário”.
“É um continuum, os setores sobrepõem-se e, portanto, as soluções não serão essencialmente binárias”.
“Mulheres trans são mulheres, mas também temos que separar género de elegibilidade. E a elegibilidade precisa de ser específica ao desporto para ter uma competição justa e significativa a todos os níveis, mas especialmente ao nível de elite, onde as apostas são muito maiores”.
“Haverá critérios diferentes para modalidades diferentes”.
“Se comparar o arco e flecha com o hóquei e o remo, eles exigem habilidades muito diferentes e um atleta de elite de um, dificilmente será um atleta de elite de outro”.
“E temos que determinar o que é realmente uma vantagem desproporcional ou intransponível.”
Em Julho, Budgett disse que a estrutura não se concentraria apenas na testosterona, citando a segurança como uma das considerações necessárias nas novas diretrizes.
A World Athletics introduziu as suas próprias diretrizes em 2019, que exigia que os atletas transgéneros tivessem níveis de testosterona inferiores a cinco nmol/L por meio de testes de espectrometria de massa por cromatografia líquida, e a International Cycling Union disse que faria a mesma alteração nos seus eventos.
A World Rugby atualizou as suas diretrizes no ano passado, declarando que não permitiria que mulheres transexuais jogassem rugby. No entanto, algumas associações nacionais, incluindo o Canadá Rugby, optaram por não implementar essas novas regras.
Budgett disse anteriormente que a “inclusão” é mais importante do que a “justiça” em níveis inferiores e a estrutura poderia diferenciar entre competição de elite e amadora.
A halterofilista da Nova Zelândia Laurel Hubbard tornou-se a primeira mulher abertamente transgénero a competir nos Jogos Olímpicos.
A jogadora de futebol Quinn tornou-se a primeira atleta transgénero não binária a competir e a tornar-se a campeã olímpica em Tóquio 2020, jogando pela equipa de futebol feminino canadiana, de acordo com o seu sexo quando nasceu, ao invés da sua identidade de género.
No mês passado, o British Journal of Sports Medicine publicou uma correção a um artigo de 2017 de autoria da World Athletics – então Associação Internacional das Federações de Atletismo – funcionários Stéphane Bermon e Pierre Yves Garnier, que discutia a relação entre os níveis de testosterona e o desempenho atlético entre as mulheres.
A World Athletics afirmou após a correção, que a relação casual entre testosterona e desempenho atlético nas provas restritas de 400 metros até à milha, estava incorreta, de acordo com o cientista político americano Roger Pielke Jr.
Pielke Jr também aprovou a decisão da World Athletics de convocar uma revisão científica independente para “estabelecer evidências científicas confirmatórias para as relações casuais entre as variáveis analisadas”.
Essa correção estava relacionada com as diferenças nos atletas de desenvolvimento sexual, que são geralmente mulheres cisgénero ou mulheres intersex.
No entanto, a correção de testosterona do artigo de 2017 lança dúvidas sobre como os atletas transgéneros ganham vantagem através da testosterona.
A revisão independente solicitada pela World Athletics poderia esclarecer isto melhor, assim como a nova estrutura esperada para o próximo ano.