- Médias dos 10 e 20 melhores do ano bateram (e largamente) recordes que vinham do ano 2000. Das 17 provas consideradas, houve melhores médias de sempre em seis (top’10) e cinco (top’20). E apenas no comprimento, não se progrediu no top’10 relativamente a 2017
O Europeu de Berlim, apesar do título de Nelson Évora, não foi, globalmente, famoso e as presenças nas competições internacionais de corta-mato, 10000 m e marcha desiludiram. Mas a época, em termos globais, foi muito positiva – foi mesmo, e de longe, a melhor de sempre, como o comprovam os rankings (top’10 e top’20) pontuados segundo a tabela IAAF 2008, que há muitos anos utilizamos.
Os rankings nacionais regrediram depois do ano 2000, muito por culpa das corridas (velocidade à parte). Os saltos vinham a progredir – melhores médias de sempre em quatro dos últimos seis anos. E os lançamentos não voltaram aos índices de 2009 mas estavam bem próximos. Neste ano de 2018, tudo mudou… para melhor. Vejamos:
– Corridas: sem atingir os índices de 2000, fizeram praticamente meio caminho, progredindo muito relativamente aos últimos anos. No top’10 (dez melhores atletas/ano), o recorde está em 1030,8 pontos em 2000, andou nos últimos anos pelos 990/1000 pontos (995,8 em 2017) e subiu agora para 1015,3 pontos, a melhor pontuação desde 2004. No top’20, o recorde é ainda mais antigo: 983,8 pontos em 1992, desde 2010 que não atingia os 950 pontos (949,4 em 2017) e, este ano, subiu para 973,6, a melhor pontuação desde 2004.
– Saltos: Recordes amplamente batidos. No top’10, de 993,7 pontos em 2015 para 1007,2 pontos em 2018. No top’20, de 931,0 pontos em 2015 para 940,2 pontos em 2018. Relativamente a 201, 7 houve subidas de 22,2 e 20,0 pontos, respetivamente.
– Lançamentos: os recordes datavam de 2009 e subiram agora de 879,2 pontos (top’10) para 900,0 e de 801,5 (top’20) para 804,5. Neste caso, a profundidade não acompanhou os melhores…
Mas há mais aspetos muito positivos:
– Obtiveram-se as melhores médias de sempre no top’10 e/ou top’20 em nada menos de sete provas: 100 m (só top’10), 200 m, vara, triplo, peso, disco (só top’20) e dardo (só top’10).
– Obtiveram-se as segundas melhores médias de sempre no disco (top’10) e nos 100 e 400 m (top’20).
– Exceto no comprimento (Marcos Chuva fez falta!…), todas as médias do top’10 deste ano superaram as de 2017. No top’20, apenas falharam os 100 m, comprimento e martelo.
Uma advertência: poderá pensar-se que a naturalização de Pedro Pablo Pichardo foi importante nestas evoluções. Muito pouco, já que entram em conta nada menos de 170 atletas nos top’10 (17 provas) e 340 nos top’20. Pichardo ajudou a média do triplo – é inegável (mais 29 cm – 31 pontos no top’10 e mais 15 cm – 15 pontos no top’20), mas mesmo sem ele seriam recordes. Mas a sua ajuda é já mediana no conjunto dos saltos (sem ele, seriam menos cerca de oito pontos no top’10 e quatro no top’20) e residual no conjunto das 17 especialidades consideradas: menos 1,8 pontos no top’10 e menos 0,9 pontos no top’20. Recorde-se que os recordes foram batidos por 10,8 e 10,5 pontos, respetivamente!
MÉDIAS ANO A ANO (tabela IAAF 2008) | ||||
10 MARCAS MASCULINAS | ||||
Corrid. | Saltos | Lanç. | Total | |
2009 | 1007,2 | 953,7 | 879,2 | 964,5 |
2010 | 1003,2 | 955 | 872 | 961 |
2011 | 996,6 | 963 | 867 | 958,2 |
2012 | 991,3 | 963,5 | 871,5 | 956.6 |
2013 | 990,3 | 976,7 | 877 | 960,3 |
2014 | 1000,3 | 985 | 875 | 967,2 |
2015 | 994,6 | 993,7 | 869,2 | 964,9 |
2016 | 986,8 | 985,5 | 871 | 859,3 |
2017 | 995,8 | 985 | 878,2 | 965,6 |
2018 | 1015,3 | 1007,2 | 900 | 986,3 |
Anterior | ||||
Melhor | 1030,8 | 993,7 | 879,2 | 975,5 |
Ano | -2000 | -2015 | -2009 | -2000 |
20 MARCAS MASCULINAS | ||||
Corrid. | Saltos | Lanç. | Total | |
2009 | 957,2 | 899,5 | 801,5 | 907 |
2010 | 950,4 | 900,2 | 790,7 | 901,1 |
2011 | 946,2 | 899,5 | 787 | 897,8 |
2012 | 942,3 | 906,2 | 787,5 | 897,4 |
2013 | 941,7 | 913,2 | 794,5 | 900,4 |
2014 | 949,2 | 925 | 793 | 906,7 |
2015 | 946,9 | 931 | 788,7 | 905,9 |
2016 | 942,9 | 921,2 | 791 | 902,1 |
2017 | 949,4 | 920,2 | 798,5 | 907,1 |
2018 | 973,6 | 940,2 | 804,5 | 925,9 |
Anterior | ||||
Melhor | 983,8 | 931 | 801,5 | 915,4 |
Ano | -1992 | -2015 | -2009 | -2000 |
Nota: não se consideram as provas de 10000 m, marcha e decatlo, devido à sua escassa profundidade |
Poderá ver todas as médias e pontuações, prova a prova, desde 1946, em http://atletismo-estatistica.pt/anuais/medias-e-pontuacoes/
Do «extra» Pichardo ao «repetente» Nelson Évora
Mas passemos a nomes e factos, começando pelo habitual Pódio da época, este ano com uma nota prévia. Decidimos não considerar Pedro Pablo Pichardo para o pódio, embora a sua qualidade de cidadão português e o nível alcançado (17,95 – recorde nacional e melhor marca mundial do ano – e triunfo na Liga de Diamante) justificassem, em termos teóricos, o primeiro lugar no pódio. No entanto, o facto de a IAAF (numa medida que se saúda para evitar os excessos que se vinham cometendo) não o ter ainda autorizado a representar Portugal (poderá fazê-lo a partir de agosto de 2019) e a injustiça que seria Nelson Évora, campeão europeu (e medalhado no Mundial de pista coberta), não liderar o pódio, levou-nos a não considerar a candidatura de Pichardo, que se espera venha a integrar, com todo o direito, os pódios da próxima época.
Uma referência ainda para o oitavo título nacional consecutivo do Benfica, que manteve alguma superioridade sobre o Sporting, cifrada, tal como nas duas épocas anteriores, em 10 pontos de vantagem. A novidade foi o terceiro lugar do SC Braga, que já o havia obtido em 2017 mas foi depois dele desalojado (a favor da J. Vidigalense) devido a controlo antidoping positivo do seu atleta Ricardo Jaquité.
PÓDIO
1º NELSON ÉVORA (SPORTING)
Lidera este pódio de melhor atleta masculino do ano pela 6ª vez desde 2007. Aos 34 anos, soma e segue, conseguindo o título europeu de ar livre e a medalha (neste caso bronze) mundial de pista coberta que lhe faltavam no palmarés. Esteve melhor no inverno (17,40 em pista coberta) que no verão (17,10) mas ultrapassa-se sempre nas grandes competições. Até onde irá?
2º VÍTOR RICARDO SANTOS (BENFICA)
Quatro anos depois de fazer sensação no Europeu de Zurique (45,74), “ressuscitou” no Europeu de Berlim, conseguindo bater esse seu recorde nacional na eliminatória (45,44) e na meia-final (45,14) e sendo depois 7º na final. Excelente. E melhorara, antes disso, o seu recorde pessoal nos 200 m, com 20,78 (tinha 20,95 em 2014).
3º TSANKO ARNAUDOV (BENFICA)
Prometeu bastante em pista coberta – com os 21,27 conseguidos no peso, a sua segunda marca de sempre depois do recorde nacional de 21,56 – mas uma inoportuna lesão no Mundial (ficou fora da final) atrasou depois toda a preparação. Chegou aos 20,86 ao ar livre (7ª marca de sempre) e foi 9º no Europeu.
MENÇÕES HONROSAS
Foram vários os candidatos ao terceiro lugar do pódio, “desempatado” a favor de Arnaudov pelo nível internacional das suas marcas. Destaque para outros três lançadores: Edujose Lima, quarto português acima dos 60 metros no disco (60,83 – 3º de sempre); António Vital Silva, com nova progressão no martelo (73,26 – 3º de sempre); e o ainda júnior (em 2019) Leandro Ramos, já o segundo de sempre no dardo (73,61). Mas o setor que mais brilhou foi o da velocidade, com o 7º lugar da estafeta no Europeu de Berlim e com o regresso ao mais alto nível de Carlos Nascimento (10,13 – 4º de sempre) e de Yazaldes Nascimento (10,22 aos 32 anos).
A CONFIRMAÇÃO: LEANDRO RAMOS (BENFICA)
Revelação do ano na época passada, progrediu em 2018 de 63,65 para 73,61 no dardo (quase 10 metros!) e é já o segundo português de sempre (a seguir ao recordista Tiago Aperta) na sua primeira época como júnior.
A REVELAÇÃO: JOÃO PEIXOTO (SC BRAGA)
Sensacional a progressão do jovem minhoto treinado por Sameiro Araújo. Tinha 1.55,51 como melhor em 2017 e chegou agora a 1.49,42, marca que lhe valeu a medalha de bronze no Europeu de Juvenis e o recorde nacional da categoria por mais de dois segundos. Até onde irá?
Mas não foi fácil a escolha da Revelação do Ano, ficando de fora atletas como João Coelho (Benfica), júnior que correu os 400 m em 47,24 na sua primeira época de atletismo; Edujose Lima (Sporting), com progressos de quase cinco metros no disco (55,86 para 60,83) e recorde nacional sub’23; Emanuel Sousa (Benfica), com progressos de mais de 10 metros no disco/1,75 kg (52,15 para 62,87) e recorde nacional júnior; João Pedro Buaró (Estreito), juvenil que progrediu de 4,26 para 4,95 na vara; e Etson Barros (CO Pechão), que melhorou o já seu recorde nacional juvenil de 2000 m obstáculos por mais de sete segundos até 5.49,79 e foi terceiro no Europeu da categoria.
OS PÓDIOS ANUAIS DA REVISTA ATLETISMO | |||
1998 | 1º António Pinto | 2º Rui Silva | 3º Carlos Silva |
1999 | 1º António Pinto | 2º Rui Silva | 3º Luís Novo |
2000 | 1º António Pinto | 2º Mário Aníbal | 3º Carlos Calado |
2001 | 1º Carlos Calado | 2º Rui Silva | 3º Mário Aníbal |
2002 | 1º Francis Obikwelu | 2º Rui Silva | 3º João Vieira |
2003 | 1º Rui Silva | 2º Alberto Chaíça | 3º João Vieira |
2004 | 1º Francis Obikwelu | 2º Rui Silva | 3º Alberto Chaíça |
2005 | 1º Rui Silva | 2º Francis Obikwelu | 3º Paulo Bernardo |
2006 | 1º Francis Obikwelu | 2º Nelson Évora | 3º João Vieira |
2007 | 1º Nelson Évora | 2º Rafael Gonçalves | 3º Arnaldo Abrantes |
2008 | 1º Nelson Évora | 2º António Pereira | 3º Marco Fortes |
2009 | 1º Nelson Évora | 2º Marco Fortes | 3º José Moreira |
2010 | 1º João Vieira | 2º Marco Fortes | 3º Francis Obikwelu |
2011 | 1º Marco Fortes | 2º Nelson Évora | 3º Marcos Chuva |
2012 | 1º Marco Fortes | 2º João Vieira | 3º João Almeida |
2013 | 1º João Vieira | 2º Marcos Chuva | 3º Rasul Dabo |
2014 | 1º Vítor Ricardo Santos | 2º Yazaldes Nascimento | 3º Marco Fortes |
2015 | 1º Nelson Évora | 2º Yazaldes Nascimento | 3º Tsanko Arnaudov |
2016 | 1º Tsanko Arnaudov | 2º Nelson Évora | 3º Paulo Conceição |
2017 | 1º Nelson Évora | 2º Tsanko Arnaudov | 3º Francisco Belo |
2018 | 1º Nelson Évora | 2º Vítor Ricardo Santos | 3º Tsanko Arnaudov |
POSITIVO
+ Os grandes progressos nos rankings nacionais
+ O título europeu de Nelson Évora e a medalha de bronze no Mundial de pista coberta
+ Os recordes nacionais de Vítor Ricardo Santos e de Pedro Pichardo no triplo, este pela valia da marca, a melhor mundial do ano
+ O 7º lugar da seleção de 4×100 m no Europeu e o 3º nos Jogos do Mediterrâneo
+ O interesse (e a divulgação) que a vinda de Pedro Pichardo trouxe ao triplo-salto (em parceria com Nelson Évora) e, consequentemente, ao atletismo nacional
NEGATIVO
– Os controlos antidoping positivos (referentes a 2017 mas só divulgados em 2018) de Hélio Gomes e Ricardo Jaquité e a suspensão, ainda, de Marcos Chuva, por falhas na divulgação da localização.
– As muito fracas prestações no Europeu de corta-mato (seniores em 8º lugar, sub’23 em 9º, juniores em 14º), no Mundial de Seleções de marcha (12º lugar coletivo em 14 seleções nos 20 km, uma só presença e com desistência nos 50 km) e na Taça da Europa de 10000 m (uma só presença e desistência).
RECORDES DE PORTUGAL BATIDOS EM 2018 | ||||
Triplo | Pedro Pablo Pichardo (SL Benfica) | 17,95 | Doha | 04-05-2018 |
400 m | Vítor Ricardo Santos (SL Benfica) | 45,44 | Berlim | 08-08-2018 |
400 m | Vítor Ricardo Santos (SL Benfica) | 45,14 | Berlim | 09-08-2018 |
ALTERAÇÕES NO TOP’10 NACIONAL DE SEMPRE | ||||
1º | 400 m | Vítor Ricardo Santos | SLB | 45,14 |
triplo | Pedro Pichardo | SLB | 17,95 | |
2º | dardo | Leandro Ramos | SLB | 73,61 |
3º | disco | Edujose Lima | SCP | 60,83 |
martelo | António Vital Silva | SLB | 73,26 | |
4º | 100 m | Carlos Nascimento | SCP | 10,13 |
martelo | Décio Andrade | GDE | 67,30 | |
5º | vara | Rubem Miranda | SCP | 5,46 |
triplo | Tiago Pereira | SLB | 16,56 | |
6º | 200 m | Vítor Ricardo Santos | SLB | 20,78 |
triplo | Carlos Veiga | SCP | 16,48 | |
martelo | Miguel Carreira | SCP | 67,08 | |
7º | comp. | Ivo Tavares | SLB | 7,89 |
8º | peso | Otoniel Badjana | SLB | 17,29 |
9º | 400 bar. | Diogo Mestre | SLB | 50,39 |
vara | Yanis Alves | JV | 5,20 | |
10º | 100 m | José Pedro Lopes | SLB | 10,32 |
200 m | Diogo Antunes | SLB | 20,94 |